São Paulo, quinta-feira, 07 de julho de 2011

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CRÍTICA TRAGÉDIA

Versão sintética de Elias Andreato para "Édipo" funde épico com minimalismo

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O mito trágico como rapsódia. "Édipo", encenação de Elias Andreato do texto de Sófocles, serve-se de recursos mínimos e de estratégias do teatro épico para apresentar dignamente a mais célebre das tragédias gregas.
Um semicírculo com sete atores sentados e um tapete redondo ao centro é tudo de que o encenador precisa para vivificar a saga do mais desgraçado dos homens, aquele que, tornado rei e no auge de seus poderes, descobre ter assassinado o próprio pai e fecundado na própria mãe quatro filhos-irmãos.
A história de Édipo já aparecia na "Odisseia", de Homero, a grande narrativa que irrigou a cultura grega antiga desde o oitavo século antes de Cristo.
Mas foi Sófocles, três séculos depois, que eternizou esse infeliz herói graças à forma como transformou sua lenda em tragédia. A adaptação de Andreato respeita a estrutura original do texto, ainda que necessite reduzir o número de falas e de personagens.
Algumas soluções da tradução, cuja fonte não é indicada, apequenam a força poética dos versos e não beneficiam a trama. Em contrapartida, foi feliz a opção de municiar os personagens secundários com acordeons. Como observadores mais distanciados, demarcam musicalmente o tortuoso caminho que Édipo percorre até tomar consciência de seu terrível destino.

CLAREZA
Nilton Bicudo como principal narrador, reunindo as falas do coro, do sacerdote e do arauto, garante a clareza dos fatos sem deixar de pôr ênfase na sua gravidade.
Entre os protagonistas, Eucir de Souza brilha como Édipo. Contido pelas circunstâncias minimalistas do espetáculo, intensifica suas emoções gradualmente até o clímax sem, porém, incorrer em exageros. Elias Andreato, no papel de Tirésias, mostra-se no auge de seu domínio como intérprete.
Figurinos modestos e algumas partes cantadas menos coesas não prejudicam a produção, que oferece a oportunidade rara de conhecer essa obra-prima -uma das criações mais notáveis do engenho humano- num formato sintético.
Se há um diálogo da montagem com a contemporaneidade, ele se dá pelo resgate da dimensão épica que habitava os primórdios da tragédia e que, na proposição de Andreato, reaparece hoje como o drama possível.

ÉDIPO

QUANDO ter., às 21h; até 26/7
ONDE teatro Eva Herz (av. Paulista, 2.073; tel. 0/xx/11/3170-4059)
QUANTO R$ 40
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom


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