BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Ele é o filho e o herdeiro de uma geração ostensivamente cultuada. Se cada época tem o herói que merece, o guitarrista Johnny Marr, 39, era sinônimo de genialidade musical nos anos 80, quando tocava na banda-símbolo do período, The Smiths.
Foi somente após 16 anos de dissolução do quarteto de Morrissey que Marr resolveu abraçar uma banda própria, The Healers. É ele o destaque de hoje do programa "New Music TV", capitaneado por Marc Almond.
A inclusão do The Healers é sintomática. Almond, o apresentador, logo avisa que bandas desconhecidas ou com algo incomum são o foco do programa. Longe dos tempos em que o Smiths reinou soberano, e de quando foi chamado de Jimi Hendrix (1942-70) dos anos 80, Marr praticamente vive das glórias passadas.
Com o Healers, ele pela primeira vez assume o papel de letrista e vocalista, e torna-se um mero similar de seus aprendizes. É o mestre que começa a imitar seus alunos. Na canção mostrada no programa, "The Last Ride" (do disco de estréia "Boomslang", lançado no começo do ano e inédito no Brasil), Marr segue o caminho das linhas pesadas de guitarra e baixo de grupos britânicos como Oasis. Em outras canções, a estética "Madchester", que mistura psicodelia e eletrônica, de Stone Roses e Charlatans, é abraçada por Marr.
Não que o The Healers seja um grupo ruim; ele apenas não tem brilho próprio. Culpa do próprio guitarrista que, no Smiths, traduziu em sons a poesia romântica e irônica de Morrissey, forjando o que seria uma estética copiadíssima, que privilegiava dedilhados e um som límpido de guitarra.
"Esperei tanto para assumir o papel de "frontman" porque antes não havia a necessidade", diz Marr no programa, referindo-se ao fato de ter tocado, nesse hiato, com bandas como The The, Pretenders, Talking Heads e Electronic. Cumpre, assim, o que parece ser a sina de todo guitarrista de bandas históricas: lançar discos próprios menores.