São Paulo, segunda-feira, 07 de agosto de 2006

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Parati vai à Bahia com Bethânia e Amado

Show da cantora terá trechos de obras do escritor e "É Doce Morrer no Mar"

Cantora também vai mostrar algumas canções do próximo disco, que será duplo e deve sair em outubro ou novembro

DA REPORTAGEM LOCAL

Sempre que ouve falar de Jorge Amado, Maria Bethânia, 60, diz que lembra da infância e do pai. "Ele era um leitor compulsivo, um funcionário de correio que tinha uma bela voz e gostava de ler em voz alta. Tanto prosa como poesia. E isso nos cativava, pois éramos crianças e queríamos entender aquelas palavras", conta.
Apesar de "A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água" (1961) e "Navegação de Cabotagem" (1992) serem os livros de Amado preferidos da cantora, não foi destes que ela escolheu trechos para serem lidos no espetáculo de abertura da Flip. As passagens foram selecionadas de "Os Velhos Marinheiros" (1961) e "Bahia de Todos os Santos" (1945) -uma espécie de guia da cidade de Salvador.
Bethânia também deve cantar "É Doce Morrer no Mar", composição de Amado com Dorival Caymmi, e "Coração Ateu", canção de Sueli Costa interpretada pela cantora na novela "Gabriela", exibida pela Rede Globo em 1975.
Além de um apanhado de seu repertório tradicional, a cantora também promete mostrar algumas canções inéditas que estarão no seu próximo CD, no qual está trabalhando atualmente. O álbum, que deve sair em outubro ou novembro, terá duas partes (que depois serão vendidas separadamente).

Parati e Santo Amaro
Morando no Rio há mais de 40 anos, Bethânia conta que desde então freqüenta Parati, que acha parecida, em alguns aspectos, com Santo Amaro da Purificação ("tem essa coisa de ser cidade de mar, de mangue"), e acha muito positivo o fato de a festa ter se tornado uma referência no circuito cultural internacional. "Uma feira literária, nesse lugar mágico, tem um significado imenso. É a única saída que posso entender para o Brasil. Essa idéia de que devemos conversar, ouvir outras pessoas de outras culturas, ler o que estão escrevendo, é algo deslumbrante."
A participação de Bethânia na Flip já era para ter acontecido em anos anteriores. "Sempre quis e nunca deu, agora que conseguimos encaixar na agenda, estou muito feliz", diz a artista, que não conferiu ainda a programação nem os convidados deste ano, mas que quer assistir a algumas mesas.

Amado para estrangeiros
Apesar de reconhecer a grande influência da obra de Jorge Amado no imaginário do brasileiro sobre a Bahia ("todas as expressões mais típicas dos baianos estão ali"), Bethânia conta que se impressiona muito com a maneira como a obra do autor causa impacto nos estrangeiros. "Jorge levou a Bahia para o mundo. Quem é de fora delira com a Bahia profunda que surge de seus livros. E sempre me perguntam sobre as putas e os bêbados, os cheiros e as comidas que estão no universo dos seus romances."

Homenagem
Nas edições anteriores, a Flip celebrou as obras de Vinicius de Moraes, Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Desta vez, para homenagear Amado, além do show de Bethânia, haverá atividades dentro da programação principal e na Flipinha -seção dedicada a jovens e crianças, na Tenda Azul.
Na quinta-feira, dia em que o escritor completaria 94 anos, uma mesa reunirá Myriam Fraga, diretora da Fundação Casa de Jorge Amado, o poeta e ensaísta Alberto da Costa e Silva e Eduardo de Assis Duarte, autor de "Jorge Amado - Romance em Tempo de Utopia".
Até o fechamento desta edição, ainda havia ingressos para todas as mesas da Flip. Mais informações podem ser obtidas pelo site www.flip.org.br.
(SYLVIA COLOMBO)


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