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Paulo Herkenhoff finca pés em SP com duas mostras
CCBB e Instituto Tomie Ohtake inauguram, a partir desta
semana, exposições que contam com mais de cem artistas
Curador fala, em entrevista
à Folha, de sua experiência
no Museu Nacional de Belas Artes e da próxima Bienal
Internacional de São Paulo
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A primeira vez que o curador
capixaba Paulo Herkenhoff pisou em São Paulo, em 1955, aos
seis anos, seus passos eram
mancos, pois calçava sapato em
apenas um pé, o outro estava
machucado e com curativos.
Nesta semana, Herkenhoff
está com os dois pés bem firmes na cidade: um no Centro
Cultural Banco do Brasil, onde
inaugura, hoje, "Manobras Radicais", mostra organizada junto com Heloisa Buarque de Holada, e outro no Instituto Tomie Ohtake, onde abre, depois
de amanhã, "Pincelada - Pintura e Método, Projeções da Década de 50". Nas mostras, o curador expõe mais de cem artistas, algo da grandeza de uma
bienal.
Seu trabalho à frente da 24ª
Bienal de São Paulo, em 1998,
aliás, é creditado por ele mesmo como "o mais feliz" de sua
carreira profissional. "Sou extremamente grato à Fundação
Bienal, tive condições ideais de
trabalho". Logo após a Bienal,
ele passou a exercer curadoria
no Museu de Arte Moderna de
Nova York, onde esteve por
quatro anos, e depois dirigiu o
Museu Nacional de Belas Artes,
no Rio, gerando certa polêmica.
"Eu poderia ficar dez anos lutando para implantar o plano
de reestruturação física do prédio, encontrei o museu à beira
de um colapso, mas não posso
ficar um dia a mais quando mudam as prioridades. É inaceitável trocar a reestruturação física por um restauro de fachada
porque é ano eleitoral", diz o
curador ao justificar sua saída,
em janeiro passado.
Tal experiência afastou Herkenhoff de novos projetos institucionais: "Minha grande fantasia era trabalhar no Museu
Nacional, mas, depois de minha
experiência lá, não quero mais
trabalhar em instituições. O governo Lula fez infinitamente
mais do que o governo Fernando Henrique pelo museu, mas
eu peço consistência no campo
da ética museológica. O José do
Nascimento Júnior [diretor do
Departamento de Museus do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional] é uma
pessoa intolerante, e o autoritarismo dele não se justifica."
Elogios
A experiência no Museu de
Belas Artes não tirou o otimismo de Herkenhoff. Sobre a próxima Bienal, o curador não mede elogios: "A Lisette [Lagnado]
e sua equipe estão fazendo a
primeira bienal do século 21,
porque partem de um entendimento de que é preciso trabalhar em grupo, o que até já
ocorreu em outras bienais, mas
não só define questões a serem
trabalhadas como, ao acabar
com as representações nacionais, realizará a mais ajustada
bienal entre as intenções curatorais e a realização na arte."
O curador acha que a Bienal
"Como Viver Junto" cria "uma
agenda vinculada à crise do
nosso mundo, que não admite
utopias, e essa bienal criará diagramas de convivência, com
perspectiva histórica firme; antes de ocorrer, já é memorável".
Sobre o recente episódio da
expulsão de Edemar Cid Ferreira do conselho da Bienal, a
partir do afastamento em protesto de Cildo Meireles, Herkenhoff torce para que o artista se
reintegre à mostra. "O Cildo é
um artista de uma consistência
ética extraordinária. Conheço-o desde 1969 e acho que ele entendeu que hoje a sua presença
é estratégica no sistema da arte
internacional. Expressou uma
opinião que foi um desafio à
instituição e acendeu uma luz".
Finalmente, para Herkenhoff, "o presidente da Bienal,
Manoel Pires da Costa, tem
uma opinião semelhante à do
Cildo, creio que agora é preciso
parar de escutar fofocas e as
partes perceberem que apontam para a mesma direção".
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