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NELSON ASCHER
Sebos do mundo inteiro, uni-vos!
Percorrer os antiquários parisienses já foi um dos graus mais elevados da chamada bibliofilia
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A BEBOOKS (www.abebooks.com) é um site para o
qual convergem alfarrábios e
antiquários do mundo inteiro, sobretudo os da anglosfera (Reino
Unido, EUA, Canadá, Austrália
etc.), mas também, cada vez mais,
tanto os das nações hispanófonas,
como os franceses, alemães, italianos. Infelizmente, Portugal, Brasil
e, conseqüentemente, livros em
nossa língua ainda mal começaram
a se beneficiar de seu potencial.
Não se trata, tampouco, de um
recurso reservado à elite dos bibliófilos endinheirados, que buscam edições raras, autografadas e/
ou colecionáveis de tais ou quais
obras. Embora quem as procure
possa, nesse grande shopping center virtual de livros, encontrar, digamos, alguma primeira edição de
Kafka ou Flaubert e, quem sabe,
com perseverança, até de Cervantes (a preços, é claro, na casa dos
milhares de dólares), sua função
principal, só que numa escala planetária, é a de qualquer outro sebo:
revender livros usados.
Dependendo do preço de um
exemplar novo, sempre foi bom negócio adquirir, a custos menos extorsivos, uma cópia de segunda
mão. A possibilidade de revender
os volumes lidos ou supérfluos tem
seu lado civilizatório, uma vez que
encoraja os leitores a cuidarem
bem desses objetos sagrados, deixando de perpetrar contra eles crimes abomináveis como o de rabiscá-los, amassá-los ou (barbárie das
barbáries!) quebrar a lombada de
"paperbacks".
É, além disso, um fato da vida que
a maioria dos títulos se esgota e,
não raro, demora para ser reimpressa ou reeditada. O tratado imprescindível para a tese de doutorado ou o romance que um ensaio
inteligente nos deu vontade de ler
estão, como assegura a lei de
Murphy, entre aqueles de que a livraria local quase certamente não
dispõe. E, quando o que se deseja
são livros estrangeiros, então tudo
se complica.
Uma década atrás, obter um livro
inglês, francês, italiano era algo que
dependia de escassas livrarias especializadas e de seus estoques relativamente magros. Importar, por
meio delas, obras diferentes das
habituais implicava investimentos
substanciais e longas esperas. Livrarias virtuais, como a Amazon,
resolveram esse problema nos
anos 90 do século passado.
Livros usados, no entanto, se tivessem sido publicados no exterior, estavam disponíveis tão somente a quem pudesse visitar seus
países de origem. Assim, percorrer
os antiquários parisienses e os de
Oxford já foi considerado um dos
graus mais elevados da bibliofilia
ou (segundo outros pontos de vista) um estágio avançado, terminal
de um vício doentio e, até o momento, incurável. Hoje em dia a
passagem de avião foi substituída
(e, nesse caso, com vantagens não
apenas econômicas, porém igualmente de variedade e competitividade) por uma simples conexão à
internet que permite ao cliente
comparar o preço e o estado das cópias à venda, por exemplo, em Melbourne, Nashville, Dublin para, em
seguida, encomendar a que lhe renda a melhor relação de custo e benefício.
Livros estrangeiros estão, que eu
saiba, isentos de impostos e essa
oferta ampliada que desenvolvimentos recentes propiciaram não
deixa, a seu modo, de ser um estímulo para se estudar uma segunda
língua. Um desses paradoxos contemporâneos é o de que um brasileiro que domine inglês não somente tem acesso a um leque muito maior de títulos como, se souber
fazer as contas e administrar direito seu orçamento, gastará menos
neles do que quem, monolíngüe,
veja-se restrito somente ao mercado nacional.
Tal convergência planetária de
sebos, inimaginável há poucos
anos, ilustra, através de seu sucesso, a proliferação de oportunidades
geradas pela integração econômica
e comunicativa da humanidade,
um processo aparentemente inesgotável que, ocorrendo diante de
nossos olhos, surpreende-nos, a cada dia que passa, com sua criatividade. Esse processo chama-se globalização.
A globalização, resultado da interconexão progressiva de mercados apoiada em meios revolucionários de comunicação, malgrado não
cessar de ser criticada e combatida
pelos retrógrados e nostálgicos que
habitam todos os extremos ideológicos, continua a solucionar problemas antigos, multiplicando
bens e serviços e dando mais alternativas seja aos consumidores, seja
aos cidadãos. Esse processo faz jus,
portanto, a outro nome também:
democratização.
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