São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2008

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Show

Com ego gigante, Kanye West estrela musical hip hop "espacial"

Apresentação do rapper, que vem ao Brasil em outubro, tem até dinossauros

THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Uma mistureba de espetáculo musical, hip hop, "2001: Uma Odisséia no Espaço" e narcisismo. Assim é feito o show "Glow in the Dark", que Kanye West apresentou anteontem à noite no Madison Square Garden, em Nova York, e que ele leva ao Brasil em outubro. Dono de três álbuns que conquistaram crítica e público, West, 31 anos, é um dos principais nomes do hip hop norte-americano. Mas seria reducionismo chamá-lo apenas de rapper; West parte do hip hop, mas passa pelo pop clássico, pelo rock e pela eletrônica para burilar suas faixas. Um exemplo é a música "Stronger", de seu mais recente disco, "Graduation" (2007). A base é feita com um sample de "Harder, Faster, Better, Stronger", do Daft Punk, e temperada com guitarras e clima roqueiro. Mas não foi apenas musical a influência do Daft Punk; West tomou emprestado a estética dos shows dos franceses. Se o Daft Punk procurava em suas apresentações imergir o público no conceito homem-máquina, na turnê "Glow in the Dark West" ele se coloca como um viajante espacial que se perde num lugar inóspito. A produção é monstruosa. Cerca de 50 toneladas divididas entre equipamentos de luz, palcos móveis e efeitos visuais. Diferentemente do visto no festival Lollapalooza, em Chicago, dois dias antes, em que West ficava na frente do palco e a banda lá atrás, no Madison Square Garden a banda, os vocalistas de apoio e o DJ se posicionam logo à frente da platéia, num palco que se move para cima e para baixo. O palco maior, na parte de trás, remete a um planeta desabitado. Atrás, um telão enorme de uma lateral à outra; no meio do palco, há outro telão, menor. Na maior parte do tempo, os telões exibem imagens sincronizadas do espaço, de estrelas e de naves espaciais.

Efeitos especiais
No início, o telão menor simula um computador chamado Jane, que comanda a nave espacial em que está West. Jane diz que o equipamento está com problemas e que a nave terá de pousar num planeta desconhecido. A partir daí é construída toda a apresentação. Para desenvolver a idéia, West é apoiado por um monte de efeitos e truques, como explosões, imagens em alta definição nos dois telões, uma boneca de cabelo azul e até um dinossauro enorme que "engole" West. É sério. (Ele reaparece em seguida, saindo de dentro da barriga do dinossauro.) Não há pós-modernidade ou convergência de mídias que explique. A certa altura, há tantos fogos e gelo seco que é como estivesse em um clipe do Billy Idol. No final, após West passar por vários apuros, Jane retorna e diz que apenas ele conseguirá levar a nave de volta à Terra. A faixa que encerra a apresentação é "Homecoming", do último disco, que tem a participação de Chris Martin. West produziu um show naquele que é provavelmente o único ambiente em que cabe o tamanho de seu ego: o universo. Tanto espaço gasto e este texto pouco tocou na música. Bem, a música é realmente boa. West é dos vocalistas mais capacitados, talentoso para construir rimas que fluem com naturalidade ao lado de bases originais, que vão além do hip hop. Durante quase todo o show, West não conversou com o público. Falou apenas no encerramento, durante uns dez minutos, que é o "melhor rapper do mundo" e pediu ao público que tivesse a "mente aberta". A produção do Tim Festival, que trará West ao país, afirma que o show virá completo ao Brasil. Tomara. E se é impossível para West deixar seu ego nos EUA, que ele esqueça pelo menos o discurso besta.

Avaliação: bom

O repórter THIAGO NEY viaja a convite da organização do Tim Festival.



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