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"Perguntinha desagradável? Não, não e não!"
FERNANDA EZABELLA
EM LOS ANGELES
No reino das celebridades,
cutucar o rei com vara curta
não tem graça. Mesmo se for o
"rei da comédia", como vem
sendo chamado o diretor e produtor Judd Apatow ("O Virgem
de 40 Anos"). E mesmo se for
nos Estados Unidos, o país da
imprensa livre.
Eu estava em Los Angeles, no
mês passado, quando participei
da entrevista coletiva de
"Funny People", filme de Apatow com Adam Sandler. Num
sábado, jornalistas estrangeiros foram ver o longa. Na saguão do cinema, distribuíam o
kit de imprensa, uma papelada
com a história do filme, detalhes da carreira dos atores, os
créditos de produção e o recibo
da limusine de Apatow.
Como? Sim, estava lá, por engano, a ficha da limusine que levaria o diretor, às 7h15 do dia
seguinte, ao hotel onde aconteceriam as entrevistas. Preço
(US$ 1.375, cerca de R$ 2.750) e
endereço de sua casa estavam
no recibo do carro, que percorreria 12 milhas ida e volta
(20km). Um táxi daria US$ 40.
No domingo, sigo para o hotel à beira-mar. Entre mesas
fartas de comida e bebidas, os
kits de imprensa continuam
iguais. Na entrevista com diretor e elenco, peço o microfone:
"Tem sido um período difícil
com a crise financeira, os estúdios têm cortado empregos e
orçamentos", digo a Apatow e
continuo: "É uma pergunta desagradável, mas como você justifica ter uma limusine com esse preço te pegando em casa,
numa distância tão curta como
seis milhas, como nos mostra
aqui no material de imprensa?"
Apatow não entende. "O
quê? Onde?" O ator Seth Rogen
brinca: "Uma limo foi te buscar!
Mas seis milhas é longe!"
Os jornalistas riem na sala,
mas não os assessores. Um deles tira o microfone da minha
mão, enquanto eu tento explicar a pergunta ao diretor.
Apatow ameniza: "Mas eu
não ligo de responder", diz. "É
que, após trabalhar 12, 14 horas
por dia, é perigoso dirigir [...]
por isso os estúdios querem assim [...]. Mas você pode me buscar se quiser, eu não ligo."
Sem microfone, retruco: "Se
você me pagar esse valor, eu
também não me importo, ficaria feliz em fazê-lo. Mas é uma
soma muito alta, não?"
O diálogo segue atrapalhado,
e dois assessores me interrompem novamente. Desisto. Outra jornalista faz a última pergunta: "Apatow, quando você
se deu conta de que deu certo?"
O diretor não perde a piada:
"Quando consegui limusines
me pegando em casa!"
A mulher de Apatow, Leslie
Mann, que também está no filme, tem um chilique com os assessores. "Isso não é nem um
pouco legal", diz, olhando o kit.
"É o endereço da nossa casa!"
Tento sair à francesa, mas
sou abordada por uma assessora. Ela tira o kit da minha mão,
enquanto os outros assessores
arrancam a página "maldita"
dos demais jornalistas.
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