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Mostra revela mundo onírico de Marc Chagall
Maior exposição do artista russo já feita no país está em cartaz em Minas Gerais
Mais de 300 obras do artista, mestre do século 20, estão em museu mineiro e vão depois ao Rio, para o Museu Nacional de Belas Artes
SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
Mesmo a morte em Chagall é
sublime. Suas flores carregadas
de cor não parecem, mas são
símbolo de vida frágil. Estão
sempre ao lado de amantes, como se marcassem o tempo que
resta de êxtase sobre a Terra.
Talvez porque o tempo do artista também pareceu medido a
conta-gotas. Escapou aos massacres de judeus em sua Rússia
natal, fugiu de tropas nazistas
que invadiram a França onde se
radicou. Numa ironia feliz,
Marc Chagall morreu de velho:
fez a última gravura, almoçou e
dormiu para sempre aos 97.
Na mesma placidez, Chagall
escondeu todo o horror sob
mantos vibrantes de azul marinho, cor-de-rosa, verde e púrpura. Mais de 300 obras, entre
telas, gravuras e esculturas, na
Casa Fiat de Cultura, em Belo
Horizonte, dão as coordenadas
desse universo onírico: homens
e animais flutuantes, contornos esmaecidos, luz matizada.
"Ele tem essa vibração da
cor", diz Fábio Magalhães, curador da mostra. "Por isso, num
mundo tão escatológico quanto
o da arte contemporânea, Chagall desperta tanto interesse."
Vacas voadoras
Destoa de tudo hoje e destoava então. Em pleno auge do
construtivismo russo, no começo do século 20, bolcheviques perguntavam a Chagall o
que suas vacas voadoras tinham a ver com a Revolução
Russa. Ele rompe com os líderes do movimento, mas não
descarta certa geometrização
em suas telas com animais, violinistas e amantes em voo livre.
Se não tem a ver com a revolução, tem a ver com a tradição
do hassidismo judaico, que pregava a busca do êxtase nas relações com Deus e suas criações
no mundo terreno. Chagall
mescla tradições e arma um
universo cor-de-rosa -a série
de gravuras "Dafne e Cloé" é
talvez o exemplo mais sólido,
na mostra, desse mundo paralelo, embevecido de cores.
Filho de açougueiro, Chagall
não esquece bezerros, vacas e
os animais de sua vila. Mais tarde, em Paris, tudo ressurge como sonho, cenário pastoril fundido à metrópole que embala
toda a sensualidade delicada.
Chagall acabou sendo um
amálgama de vanguardas. Nas
primeiras paisagens, banais e
um tanto esquemáticas, tenta
seguir a arquitetura visual de
Cézanne -cilindros, cones, esferas. Mais adiante, descobre a
selvageria dos campos cromáticos de Matisse. Não chega a
destruir a lógica, como os surrealistas, mas desloca tudo de
lugar e reorienta o olhar.
O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite da
Casa Fiat de Cultura
MARC CHAGALL
Quando: ter. a sex., das 10h às 21h;
sáb. e dom., das 14h às 21h; até 4/10
Onde: Casa Fiat de Cultura (r. Jornalista Djalma Andrade, 1.250, Nova Lima,
MG, tel. 0/xx/31/3289-8900)
Quanto: entrada franca
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