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CRÍTICA DRAMA
Estreia de Mika Lins tem ótima encenação
Atriz faz meticulosa direção de texto de Tom Kempinski com atuações excepcionais sobre artista e seu terapeuta
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
O teatro como a arte do
diálogo. "Dueto para Um"
apresenta antológica peça de
Tom Kempinski, toda construída em torno da dialética
entre uma paciente e seu psicoterapeuta.
Escrita em 1980 pelo ator
de cinema e dramaturgo inglês -e filmada em 1986, tendo Julie Andrews e Alan Bates como protagonistas-,
chega ao Brasil marcando a
feliz estreia da atriz Mika Lins
como encenadora.
O drama de Kempinski é
claramente inspirado na história da violoncelista britânica Jacqueline Mary du Pré.
Ela fez carreira brilhante
como solista e casou, no auge da fama, com o pianista e
maestro Daniel Barenboim,
morrendo aos 42 anos, depois de sofrer lenta deterioração física provocada por esclerose múltipla.
Na ficção encenada, o autor se concentra sobre a plausível agonia mental da artista
com a doença e fabula uma
situação em que ela recorre a
uma terapia psiquiátrica para suportar todas as perdas
sofridas. A musicista aqui
chama-se Stephanie e o instrumento que ela é forçada a
abandonar é o violino.
EXCEPCIONAL
A ação dramática transcorre durante seis sessões em
que a artista frequenta o consultório do Dr. Feldman. Assim, das primeiras visitas,
quando ela ainda resiste em
admitir qualquer sofrimento
psíquico, até os momentos
de quase desespero com sua
degradação física, o jogo dramático se dá no embate de
ideias dela com seu médico.
A montagem de uma trama como essa, centrada na
conversação, exige um desempenho excepcional dos
atores em cena.
Bel Kowarick corresponde
a essa necessidade e realiza o
melhor e mais potente trabalho de interpretação de sua
carreira. A atriz excede em talento no virtuosismo quando
constrói a evolução da personagem pelos diversos e dolorosos estágios da terapia.
O ator Marcos Suchara
também aparece com brilho,
compondo a convincente caracterização de um terapeuta
que se entrega apaixonadamente à tarefa de apaziguar a
alma atormentada de uma
doente terminal.
Diante desse talentoso
duo, a encenação de Mika
Lins evidencia-se sutilmente,
como a arbitragem de um
bom juiz de futebol. Está claro que o ótimo desempenho
dos intérpretes é tributário
de uma meticulosa direção.
Cássio Brasil propõe uma
cenografia sintética e funcional, servindo-se apenas de
um praticável giratório, e a
iluminação de Caetano Vilela
contribui fortemente, ao lado
da trilha sonora de Marcelo
Pellegrini, para pontuar as
transições e enfatizar os picos de tensão.
A peça "Dueto para Um"
parte de um texto consagrado para reafirmar uma vocação milenar do diálogo dramático: a de representar um
processo de cura pela tomada de consciência.
DUETO PARA UM
QUANDO qui. e sex., às 21h
ONDE Sesc Consolação (r. Dr. Vila
Nova, 245, Vila Buarque,
tel. 0/ xx/11/3234-3000)
QUANTO R$ 2,50 a R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo
JOSÉ SIMÃO
O colunista está em férias
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