São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2010

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Rushdie retruca "mentira" de Eagleton

FABIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A PARATY

O escritor anglo-indiano Salman Rushdie atacou o crítico inglês Terry Eagleton, seu colega de Flip, ao falar ontem à noite na Tenda dos Autores, em Paraty.
Rushdie rejeitou a acusação de Eagleton de que seria um apoiador da política neoconservadora da "guerra ao terror" dos governos americano e britânico.
"O termo técnico para isso é "mentira". Você [o mediador Silio Boccanera] tem que perguntar ao Terry Eagleton amanhã [hoje, quando o crítico fala na Flip]", afirmou.
Boccanera não citara o nome de Eagleton na pergunta. Rushdie até brincou: "Ele está aí? Vou dizer na cara que ele não tem coragem de me enfrentar com sua mentira".
Em seguida, sério, afirmou: "Passei anos como presidente do PEN [entidade de escritores] americano liderando a organização em sua oposição às aventuras de Bush e Cheney, para ser acusado pelo senhor Eagleton de tomar parte da agenda neoconservadora de Bush e Cheney. Parece-me muito ofensivo, desonesto e desonroso".
A noite começara bem mais amena, com Rushdie chamando ao palco o filho Milan, 11, a quem dedica "Luka e o Fogo da Vida" (Companhia das Letras), romance infanto-juvenil lançado mundialmente na Flip.
O autor contou ter feito o livro para Milan depois que o garoto se queixou que o irmão já ganhara uma obra ["Haroun e o Mar de Histórias" foi dedicado ao primogênito do escritor] e ele, não.

IRRITAÇÃO
Aí Boccanera passou a abordar temas como religião, fanatismo e o período em que Rushdie viveu escondido, após o Irã oferecer recompensa a quem o matasse -a "fatwa" vigorou de 1989 a 1998, quando foi retirada.
Quando Boccanera tentava fazer uma pergunta sobre os recentes problemas no Irã, Rushdie se irritou.
"Houve um período em que estive interessado no Irã, porque queriam me matar. Mas não sou especialista em Irã. Não estou aqui como especialista em todas as questões terríveis, mas para falar de um livro infantil", disse, obrigando o mediador a mudar o tema.
Mais cedo, questionado pela Folha em entrevista coletiva, Rushdie classificou de "terrível" e "suspeito" o comportamento do Irã na condenação à morte por apedrejamento de Sakineh Ashtiani, por suposto adultério.
"A [escritora iraniana] Azar Nafisi me contou que agora estão arranjando outro pretexto, acusando-a de ter matado o marido. É, no mínimo, muito suspeito que esse assassinato surja agora."


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