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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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Com orçamento de R$ 250 milhões, Sesc planeja construir nove unidades e investir R$ 40 milhões por ano em obras

O primo rico

MARIO CESAR CARVALHO

DA REPORTAGEM LOCAL

Vista do 13º andar do número 119 da avenida Paulista, na região central de São Paulo, a chiadeira do ministro Gilberto Gil (Cultura) por mais dinheiro soa até modesta. O 13º andar abriga a diretoria regional do Sesc (Serviço Social do Comércio). É ela que administra um dos maiores orçamentos para projetos culturais no Brasil, de R$ 250 milhões para este ano só no Estado de São Paulo, e executa um plano de expansão que prevê a criação de nove unidades até 2008.
Gil reclama porque dispõe de pouco mais da metade dos recursos do Sesc: apenas R$ 130 milhões para atender o país todo. No Brasil, só a Secretaria das Culturas da prefeitura do Rio faz frente ao Sesc, com R$ 240 milhões.
O plano de obras do Sesc escancara a diferença de caixa que separa a entidade de órgãos públicos similares. Enquanto Gil trava uma batalha para arrancar R$ 2 míseros milhões do Ministério da Fazenda para reformar o Museu Nacional de Belas Artes, o Sesc vai gastar R$ 52,2 milhões em 2004 para inaugurar duas novas unidades em São Paulo, uma em Pinheiros (zona oeste) e outra em Santana (zona norte).
A entidade tem um plano de obras que vai até 2012, com arquitetos do porte de Paulo Mendes da Rocha e Edson Elito, que fez o teatro Oficina com Lina Bo Bardi.
Até lá, segundo Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo, o plano é investir cerca de R$ 40 milhões por ano em novas unidades. Para ter uma idéia da empreitada, seria como se uma nova Sala São Paulo, o melhor espaço para concertos do país, fosse construída todo ano. A entidade tem 30 unidades no Estado, as quais recebem 1,2 milhão de visitas por mês. Seu público vai do pagodeiro ao videoartista.
Entre as obras, estão previstas duas reformas: uma no prédio da avenida Paulista, onde a sede administrativa da entidade será convertida em centro cultural voltado para tecnologias digitais, e a do Sesc Belenzinho. Lá, a ocupação provisória só atingiu um terço dos 54.000 m2 da antiga fábrica.
Santos de Miranda diz que o projeto do Sesc não tem nada de megalomaníaco.
"É a cidade de São Paulo que exige um plano como esse. Não queremos ser o JK da cultura. Essa idéia não existe", afirma, referindo-se ao presidente Juscelino Kubitschek (1920-76), que construiu Brasília. "Essas unidades serão construídas para cumprir o papel do Sesc, de oferecer bem-estar social por meio de cultura, lazer, ecologia e esportes."

Financiado pelo comércio
O Sesc foi criado por um decreto presidencial em 1946 como uma entidade patronal do comércio e de serviços. É financiado com a contribuição compulsória de 1,5% da folha de pagamento dessas empresas. Nos anos 50 e 60, tinha um perfil assistencialista.
A mudança em São Paulo começou com o Sesc Consolação, o primeiro prédio construído para abrigar uma unidade, inaugurada em 1968. Lá, já havia a mescla de teatro, que abriga hoje o Centro de Pesquisas Teatrais de Antunes Filho, quadras e piscinas.
A face atual do Sesc, com prédios criados por arquitetos contemporâneos, só foi obtida em 1982, quase por acaso. A entidade comprara uma fábrica no bairro da Pompéia para demolir e construir dois prédios, segundo um projeto do arquiteto Júlio Neves. Até que Glaucia Amaral, então diretora de pesquisa do Sesc, visitou a fábrica em ruínas e sugeriu que o espaço fosse restaurado pela arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992).
"A onda de restauro estava começando no mundo, e eu tinha visto o Solar do Unhão, que Lina havia feito em Salvador. O Sesc Pompéia foi o primeiro em que cultura e esporte tinham o mesmo peso. Antes a ênfase era no esporte", lembra Amaral, 65.
O modelo que Santos de Miranda dirige desde 1984 à frente do Sesc foi tão exitoso que ele recebeu convites tanto do PT (para ser secretário da Cultura da prefeita Marta Suplicy) quanto do PSDB (para ser candidato a vereador ou deputado). Recusou-os porque acha que falta sinceridade aos políticos (leia entrevista à pág. E3).
Mesmo sem cargo público, defende mudanças na lei de incentivos. Considera-a inadequada por permitir que empresas abatam no imposto de renda verbas que são usadas para publicidade delas mesmas ou de suas marcas. Verba para marketing cultural é bem-vinda, defende, desde que não seja bancada pelo contribuinte.
Santos de Miranda acha que o modelo do Sesc influenciou até o CEU (Centro Educacional Unificado), o mais ambicioso projeto de Marta Suplicy (PT), o qual mistura salas de aula, teatro, quadras e piscinas na periferia da cidade.
O secretário da Cultura de Marta, Celso Frateschi, 51, elogia o Sesc ("Foi a nossa secretaria de cultura por muitos anos"), mas acha que a comparação não procede: "A nossa questão é integrar educação, cultura e esporte, mas quem capitaneia tudo é a educação, inexistente no Sesc."



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