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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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Com "Lost in Translation", Sofia Coppola agrada a Hollywood e aos independentes ao retratar as crises de um homem

LYNN HIRSCHBERG
DO "NEW YORK TIMES"

É fácil subestimar Sofia Coppola. Para começar, há seu sobrenome que brilha como um farol, impelindo à dúvida: como pode a filha de Francis Ford igualar-se ao padrão estabelecido por seu pai?
Mas sua carreira vem superando as expectativas. Seu segundo longa, ""Lost in Translation" (Perdido em Tradução), que ela escreveu e dirigiu, já gerou grande interesse na comunidade do cinema independente e também em Hollywood, pois não é um filme americano comum, tampouco um filme independente típico e comenta-se que a atuação de Bill Murray deve lhe valer uma indicação ao Oscar.
O primeiro longa de Sofia Coppola -""As Virgens Suicidas", que ela fez há cinco anos- também vem sendo visto, cada vez mais, como uma estréia precoce.
Enquanto os grandes temas de seu pai são vastos e épicos, os de Sofia são mais intimistas, embora não menos profundos.
Embora seu pai fomente um ambiente familiar na maioria de seus sets de filmagem, ele, como a maioria dos diretores, possui um complexo de Deus. Sofia Coppola é muito menos ditatorial do que Francis; de fala mansa, boa ouvinte, ela incentiva o desabrochar das pessoas à sua volta. Mas isso não quer dizer que não consiga exatamente o que quer. ""Não se deixe enganar pela tranquilidade e modéstia de Sofia", disse Bill Murray. ""Ser subestimada é uma vantagem, de certa maneira, porque as pessoas geralmente ficam agradavelmente surpresas com o resultado", diz ela.

"Filme de mulher"
Em certo sentido, ao centrar ""Lost in Translation" sobre um homem que passa por uma crise da meia-idade -e sobre Bill Murray-, Coppola não fez um ""filme de mulher". Mas sob muitos outros aspectos ela o fez, sim, a começar pela própria maneira como trabalha. Ela não exige, mas persuade, e está sempre aberta a mudanças e improvisos.
Sofia Coppola mais ou menos cresceu em sets de filmagem. Ela nasceu em maio de 1971, durante as filmagens de ""O Poderoso Chefão", e, no batizado que faz parte da cena final do filme, ela é o bebê. Depois de ""O Poderoso Chefão 3", um fracasso não apenas para ela mas também para seu pai, Sofia evitou o cinema, até 1995.
Naquele ano, Thurston Moore (do Sonic Youth) deu a Coppola um exemplar de ""The Virgin Suicides", o primeiro romance de Jeffrey Eugenides. A história é ambientada num subúrbio de Detroit nos anos 1970 e fala das belas e trágicas irmãs Lisbon.

Minimalismo
De início, com ""Lost in Translation", Sofia escreveu uma espécie de conto em lugar de roteiro, e o filme conserva aquela sensação solta, lírica. A trama é minimalista: um astro de cinema americano chamado Bob chega a Tóquio para filmar um comercial de uísque japonês. Sua sensação de deslocamento típica da meia-idade encontra eco no caráter sonhador de Charlotte, uma mulher de 20 e poucos anos, igualmente exausta depois de viajar muitas horas, que acaba sentada ao seu lado tarde da noite no bar de um hotel.
Mesmo depois de assumir o compromisso de atuar em ""Lost in Translation", Murray estava preocupado. ""A coisa inteira parecia ser muito ligeira, pouca, e isso era um pouco preocupante", explicou. ""Mas Sofia tinha um jeito de dizer que seu sonho não teria se concretizado a não ser que eu fizesse o filme. Não dá para estragar o sonho de uma pessoa."
""Lost in Translation" custou menos de 4 milhões de dólares e foi filmado em 27 dias.

Tradução Clara Allain


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