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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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TELEVISÃO

Homens sensíveis e "brucutus" ganham séries

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

O homem moderno vive uma crise de identidade. Pelo menos na TV paga, ele é o próprio dr. Jekyll e sr. Hyde. "Manchild" (Eurochannel) e "No Mundo dos Machos" (Multishow), séries que serão exibidas nesta semana, expõem (e riem) dos extremos e das contradições dessa figura outrora onipotente.
"Manchild" é a mais interessante. Saudado como uma espécie de versão masculina da sitcom "Sex & the City" (Multishow), a série produzida pela BBC inglesa estreou no exterior no ano passado com grande sucesso.
Enquanto "Sex" vasculha os relacionamentos e o sexo sob a ótica feminina -através das desventuras de quatro mulheres independentes beirando os 30, em Nova York-, "Manchild" tem como protagonistas quatro amigos na faixa dos 50, em Londres. Portanto, supõe a série, homens sofrendo as crises da meia-idade.
"Manchild" segue uma linha que começou a ser mais visível com filmes como "Ou Tudo ou Nada" (1997) e livros de Nick Hornby como "Alta Fidelidade" (1996). Estamos na seara dos homens "sensíveis", que admitem e bradam suas fraquezas, "losers" (perdedores) em alguns casos.

Fragilidade masculina
E como agiriam tais "losers" se eles tivessem (muito) dinheiro no bolso? Quem conecta a trama é Terry (Nigel Havers, 53), um pai divorciado. Tem uma namorada adolescente e é um rebelde sem causa tardio: adora motos potentes. Anthony Stewart Head, 49, faz James, sedutor barato e dentista de classe média alta. Completam o quarteto Patrick (Don Warrington), um excêntrico colecionador de arte, solteiro convicto, e Gary (Ray Burdis, 45), o mais "estável", casado e supostamente feliz.
Na série, o grupo frequenta bares caros e gasta dinheiro com vinhos para impressionar garotas mais jovens. Mas nunca de uma forma machista.
"A comparação com "Sex" é meio óbvia. "Manchild" é mais indulgente na questão do sexo", diz Ray Burdis, em entrevista à Folha. Já no primeiro episódio, James passa pelo pesadelo da maioria dos homens: a impotência. No tratamento médico, aproveita para dar uma "esticada" no pênis.
Para Burdis, a intenção não é retratar o homem moderno. "Não existem muitas pessoas na vida real como eles", diz. "Na maior parte do tempo, você nunca vive sua vida. Precisamos pensar sobre isso, ter fantasias e aproveitar a vida. Esse é o verdadeiro assunto."
Como é comum nas comédias britânicas, a ironia chega a massacrar os personagens. São eles simples idiotas ou caras que se deram bem na vida? "À primeira vista, eles parecem ser muito espertos. Mas eles são acidentalmente idiotas, agem como crianças. É um tipo de charme, a graça da série."

Clichês sobre o homem
Já "No Mundo dos Machos" joga anos de correção política pela janela ao mostrar homens assumindo e brincando com seus mais caros estereótipos.
Produzido para a TV norte-americana, o programa é um show apresentado por dois sujeitos, Adam Corola e Jimmy Kimmel, que investem em piadinhas sexistas. Chega a lembrar as "aulas" do guru machista interpretado por Tom Cruise em "Magnólia" (1999). No auditório, formado quase que totalmente por homens com canecas de cerveja na mão, os apresentadores vão mostrando quadros sobre sexo -do tipo "Como se comportar em um clube de striptease"- e pegadinhas à "Jackass" -com rapazes obesos mostrando as nádegas. Detalhe: as poucas mulheres presentes são animadoras que, quando não exibem decotes, vestem fantasias de colegiais, enfermeiras etc.


MANCHILD. Quando: amanhã, às 21h30, no Eurochannel.

NO MUNDO DOS MACHOS. Quando: sábado, às 22h30, no Multishow.



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