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ANÁLISE
10ª edição fotografa MTV desacelerada
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
A desaceleração do formato inventado e reproduzido por dez anos consecutivos foi o
principal inimigo da MTV na edição 2004 de seu VMB.
O espetáculo foi conduzido de
modo a glorificar o velho e bom
rock'n'roll, até a inesperada consagração da jovem roqueira baiana Pitty pela audiência, emendada à apresentação em rock pauleira de um pool de bandas pop.
Que nada, impacto mesmo
aconteceu nas performances dos
rappers (os "roqueiros" dos anos
2000) e na estréia eletrônica do
F.Ur.T.O., novo grupo de Marcelo
Yuka, enrijecido por bandeira do
MST e críticas a Colin Powell, à
Igreja Católica e ao Brasil -o
mesmo Brasil que peita a proeza
ética de ter dois artistas, Yuka e
Herbert Vianna, comandando
bandas sobre cadeiras de rodas.
Como apresentador, Otto foi
outro que atuou a serviço de politização, afirmando que "a periferia está certa, o centro, não". OK, é
só um lema mangue beat, mas estavam na platéia José Serra, campeão de votos na região central de
São Paulo, e Marta Suplicy, líder
das periferias. No meio desse barulho, rock, rock, rock...
Desacelerado foi o mestre-de-cerimônias Selton Mello. Reconhecido bom ator, não segurou a
onda diante de piadas chochas.
Piores que elas, só a técnica pré-cambriana de extrair riso do preconceito, entre deboches contra
carecas antes de Herbert Vianna
se apresentar, mulheres retratadas só como pares de pernas (e
Daniela Cicarelli vestindo a carapuça), grosserias contra homossexuais o tempo todo... Preguiiiça.
Acelerada, na contramão, foi a
passagem de um Caetano Veloso
tenso ao lado do par de Primeiro
Mundo David Byrne. O desastre
técnico inédito na MTV fez Caetano saltar a veia autoritária: "Bota
essa porra para funcionar direito
(...), é uma ordem que estou dando à MTV". Mas ele acabou amaciando por si só: "Se não der, avisa
que a gente vai embora, para o
pessoal não ficar de saco cheio".
Não, a MTV obedeceu à ordem.
De ponta-cabeça, o desgaste dos
formatos foi exposto ainda na
abertura, num duelo bom de doer
entre violinos eruditos, violões
MPB e percussões tribalistas. A
MTV declarava seu voto numa
ode ao acú$tico -fazia arte, mas
defendendo o retrocesso, o retrô,
o reverso de sua imagem jovem.
Eis a grande contradição. Ali mesmo se anunciava a marca positiva
da décima edição: a sintonização
do espírito do tempo favorável às
aglutinações, aos coletivos, ao
confronto de idéias díspares.
Foi dessa natureza o encontro
entre o "rapper" Zeca Pagodinho,
os "partideiros" Marcelo D2,
BNegão e Black Alien e as "pastoras" multiculturais Daniela Mercury, Negra Li, Paula Lima, Vanessa da Mata e Wanessa Camargo. Ah, se a MTV fizesse menos
acústicos, mais dessas coisas...
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