São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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MÚSICA

Gravadoras fazem ringtones e truetones antes de lançarem os discos

Downloads de celular estão na mira das gravadoras

ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

As gravadoras e as operadoras de telefonia celular ainda divulgam números parciais, mas o tom empolgado com que seus representantes falam sobre os downloads de ringtones e truetones (toques de celular) deixa claro que essa é a operação do momento. Tão quente que a estratégia agora é disponibilizar as músicas nesses formatos antes mesmo de os discos chagarem nas lojas.
Foi isso o que a Trama fez com três faixas do novo álbum de Gal Costa, "Hoje", e deve repetir com os lançamentos de Nação Zumbi e Cansei de Ser Sexy. O mesmo fez a Sony/BMG com Lulu Santos, e, a Warner, com Maria Rita e O Rappa.
"Todos os nossos lançamentos terão um pré-trabalho por meio dos celulares e da internet", garante Marcelo Maia, diretor de marketing da Warner. "Temos um acordo com a Claro desde maio e estamos em negociação com outras duas operadoras para novidades em outubro." Maia afirma ainda não ter os números do mercado. "Mas o resultado está sendo surpreendente", garante.
A Trama mantém uma parceria com a Vivo, operadora que vende 2,5 milhões de ringtones por mês. "É um segmento muito interessante para a geração de receita complementar", diz Felipe Savone, diretor de negócios digitais da gravadora. "A curva de crescimento de conteúdo digital chega mais do que a dobrar de um mês para o outro", exemplifica.
A operadora Claro, que mantém parcerias com a Sony/BMG e Warner, contabiliza cerca de 3 milhões de músicas baixadas por mês. "Artistas que vendem bem, como Ivete Sangalo e Zeca Pagodinho, fazem fácil cerca de 50 mil downloads por mês", diz Marco Quatorze, diretor da Claro.
"O CD, quando tem uma boa venda, chega a cem mil cópias. Comparando na mesma ordem de grandeza não é um valor desprezível", afirma Quatorze.

CD versus celular
Ainda que no Brasil os preços altos dos aparelhos afastem uma realidade que já é mais visível em países como os EUA, a de ter um celular que tire fotos, faça filmes e toque música, o representante da Claro vislumbra a substituição dos discos pelos "mobiles".
"É um tendência mundial: que o CD suma ou fique mais raro como meio de produção. Os artistas não venderão álbuns, e esse é um cenário muito apropriado para a distribuição digital", diz ele.
Ana Bueno, gerente de novos negócios e tecnologia da Sony/ BMG, reforça essa aposta: "[Os downloads] são um canal novo de receita complementar que irá substituir o formato físico".
"Esse [canal] vem superando nossas expectativas mais otimistas. O brasileiro está se adaptando muito", acredita Bueno.
Levando em conta o total de músicas baixadas em celular, que, segundo Ricardo Gonzalez, diretor geral da CycleLogic (empresa que presta serviço para as operadoras) foi de 9 milhões por mês em 2004, o negócio é uma mina de ouro, mas ainda com altos preços.
A média cobrada pelos downloads vai de R$ 2 (ringtones monofônicos) a R$ 4,50 (truetones). Nos Estados Unidos, os truetones custam US$ 0,99 (cerca de R$ 2).
"É caro, mas o imposto de telefonia impede baixar os preços", diz Quatorze. "É preciso adaptar o formato, o valor agregado é maior do que o de um CD."

Indies
Ainda que fora das meganegociações, alguns independentes também lucram com esse setor. Melhor exemplo disso é o projeto Motirô, de DJ Hum, que acumula mais de 70 mil downloads da faixa "Senhorita", e ainda não tem um disco lançado.
"Estamos nos preparando para isso, mas ainda não é uma realidade tão forte para nós", acredita Jerome Vonk, diretor executivo da ABMI (Associação Brasileira da Música Independente). "Quem compra esse tipo de serviço são as "telecom", que querem sucessos que tocam na rádio. O negócio deles não é música, é vender conteúdo", diz Vonk. "Nós ainda não temos muito como concorrer, é uma luta meio injusta."


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