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CINEMA/"O CORONEL E O LOBISOMEM"
Fiel ao original, Maurício Farias estréia na direção com adaptação de livro
Comédia aposta em humor no jeito de falar
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Co-autor com Milton Nascimento da trilha sonora de "O Coronel e o Lobisomem", Caetano
Veloso foi quem melhor apontou,
em entrevista coletiva, qual a diferença básica entre esta adaptação
do romance de José Cândido de
Carvalho, anunciada como uma
"comédia fantástica", e "O Auto
da Compadecida" e "Lisbela e o
Prisioneiro", dois bem-sucedidos
produtos que, seja na direção, no
roteiro ou na produção, levam a
grife Paula Lavigne-Guel Arraes:
"São filmes baseados em clássicos da literatura moderna brasileira, com uma marca de comédia
e, sem dúvida nenhuma, fazem
uma trilogia neste sentido. Mas
este filme é baseado num livro
com mais trabalho de linguagem
do que mera fabulação de peripécias", disse o cantor, explicando a
ressalva da produção de que o filme não é uma comédia rasgada.
"A prosódia é belíssima e foi
mantida no filme, que, em certa
medida, é mais literário. A literatura é personagem, mais do que
em "O Auto" ou "Lisbela"."
Usada sobretudo pelo protagonista coronel Ponciano (Diogo
Vilela), a tal prosódia de que fala
Caetano é parente próxima da
empolada fala do prefeito Odorico Paraguaçu, de "O Bem Amado", de Dias Gomes, curiosamente o futuro projeto da grife. Para
Vilela, que defendeu uma voz empostada, "envelhecida" para seu
personagem, e suou para, de charuto na boca, pronunciar os neologismos criados, a fala pode ser
inteiramente compreendida, apesar do estranhamento inicial.
"Sem querer ser ufanista, a brasilidade do filme está nessa linguagem. No começo você acha estranho, mas depois gosta de ouvir
aquilo. Quando eu li o roteiro,
achei que seria difícil. E é. Mas é o
difícil que emancipa a gente."
Para Selton Mello, que vive o
antagonista de Ponciano, o português rebuscado ajuda os atores a
embarcarem na fantasia de Carvalho. Ana Paula Arósio, que vive
a mocinha Esmeraldina, vai além:
para ela, o público incorpora o código. "O espectador é um pouco
como o leitor do livro. Você imagina: "Nossa, eu nunca ouvi essa
palavra ou alguém falando isso".
Mas, aos pouquinhos, você começa a antecipar que palavras essas
pessoas vão usar e que colorido
elas vão dar às falas", diz.
Esta é a terceira adaptação do
romance de Carvalho -as outras
foram feitas respectivamente por
Alcino Diniz, em 1979, para o cinema, e por Chico de Assis, em
1982, para a TV. O desafio, no entanto, não estava no passado, mas
no presente. Veterano na televisão, Maurício Farias estréia na direção com "O Coronel e o Lobisomem", tentando imprimir uma
marca pessoal numa equipe com
vasta capilaridade: dois produtores (Paula Lavigne e Guel Arraes)
e três roteiristas (Arraes, João Falcão e Jorge Furtado).
Segundo ele, a repetição no cinema da parceria com Arraes na
TV, que data dos anos 80 com o
humorístico "TV Pirata", teria
trazido liberdade. "O Guel é um
artista com caminho bem definido, e os trabalhos de que ele participa como produtor levam a marca dele. Mas o elenco foi escolhido
por mim, não por ele. A discussão
com ele e também com a Paula foi
de igual para igual. Considero o
filme meu. O que não é meu é o
texto ou a produção. Mas o ritmo,
o enquadramento, a equipe são."
A experiência na TV, conta Farias, tem seus reflexos no seu début em longas. O diretor diz que a
forma de narrar e dirigir de "A
Grande Família", por exemplo, e
o filme é a mesma. A diferença é
que, em "O Coronel e o Lobisomem", ele teve mais tempo.
"Num certo sentido, a TV é uma
forma sintética de fazer a mesma
coisa, com particularidades, mas
a linguagem é igual. Uso os mesmos elementos, só vario a escala."
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