São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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CRÍTICA

Filme parece condensado de série de TV

THIAGO STIVALETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No material de "O Coronel e o Lobisomem" dado à imprensa, a Globo Filmes não deixa de mencionar que, das dez maiores bilheterias brasileiras nos últimos dez anos, nove têm a sua participação. Muitos ("Lisbela e o Prisioneiro", "Os Normais", os filmes da Xuxa) não conseguem se desvencilhar da matriz e criar uma linguagem e um ritmo próprios de cinema. Ou seja, poderiam ter sido feitos para a TV.
É o caso de "O Coronel e o Lobisomem", que fecha uma espécie de trilogia idealizada por Guel Arraes a partir da literatura popular -os primeiros participantes foram "O Auto da Compadecida" e "Lisbela". Neste terceiro, Arraes aparece só como roteirista, deixando a direção a cargo de Maurício Farias, de "A Grande Família".
Na história, o coronel Ponciano (Diogo Vilela) começa a ouvir rumores de que seu irmão de criação, Nogueira (Selton Mello), é um lobisomem que assombra a região. Decide expulsá-lo da fazenda. Anos depois, Nogueira volta bem estabelecido e casado com Esmeraldina (Ana Paula Arósio), a prima por quem Ponciano era apaixonado. Nogueira volta para se vingar. Retoma o trabalho com o primo para sabotar seus negócios e levá-lo à falência.
O romance de José Cândido de Carvalho diz muito sobre a desconfiança da elite brasileira em relação aos seus subordinados. Aos olhos do irmão rico, Nogueira, o mais pobre, bastardo e deserdado, é nada menos que um monstro, uma ameaça constante. O tema passa de forma quase despercebida pelo filme, mas o roteiro é inteligente e aproveita ao máximo os neologismos do coronel Ponciano, que se esforça no vocabulário para ser respeitado.
Selton Mello cria um tipo original como o suposto lobisomem. Todo o elenco cumpre seu papel com eficiência. O talento de Arraes na direção faz falta aqui, mas não é o mais grave.
Qual é o problema então? Apesar de todos os efeitos especiais, "O Coronel e o Lobisomem" aposta muito nos diálogos e pouco na imagem. É um filme falado em excesso, que quase não deixa margem para o espectador digerir a história. Vício oriundo da televisão, onde a novela ou o seriado tem que disputar a atenção do espectador a todo o momento com o telefone, o parente ou qualquer outro ruído importuno.
Como não há tempo para respirar, sente-se até falta dos comerciais ou dos capítulos que ajudam o espectador a se recompor. A impressão é que "O Coronel e o Lobisomem" sofreu o mesmo processo de adaptação de "O Auto da Compadecida" -originalmente concebido como minissérie, condensado depois para o cinema.


O Coronel e o Lobisomem
  
Direção: Maurício Farias
Produção: Brasil, 2005
Com: Diogo Vilela, Selton Mello
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Kinoplex Itaim e circuito


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