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CRÍTICA
Filme parece condensado de série de TV
THIAGO STIVALETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No material de "O Coronel e o
Lobisomem" dado à imprensa, a Globo Filmes não deixa
de mencionar que, das dez maiores bilheterias brasileiras nos últimos dez anos, nove têm a sua participação. Muitos ("Lisbela e o
Prisioneiro", "Os Normais", os filmes da Xuxa) não conseguem se
desvencilhar da matriz e criar
uma linguagem e um ritmo próprios de cinema. Ou seja, poderiam ter sido feitos para a TV.
É o caso de "O Coronel e o Lobisomem", que fecha uma espécie
de trilogia idealizada por Guel Arraes a partir da literatura popular
-os primeiros participantes foram "O Auto da Compadecida" e
"Lisbela". Neste terceiro, Arraes
aparece só como roteirista, deixando a direção a cargo de Maurício Farias, de "A Grande Família".
Na história, o coronel Ponciano
(Diogo Vilela) começa a ouvir rumores de que seu irmão de criação, Nogueira (Selton Mello), é
um lobisomem que assombra a
região. Decide expulsá-lo da fazenda. Anos depois, Nogueira
volta bem estabelecido e casado
com Esmeraldina (Ana Paula
Arósio), a prima por quem Ponciano era apaixonado. Nogueira
volta para se vingar. Retoma o trabalho com o primo para sabotar
seus negócios e levá-lo à falência.
O romance de José Cândido de
Carvalho diz muito sobre a desconfiança da elite brasileira em relação aos seus subordinados. Aos
olhos do irmão rico, Nogueira, o
mais pobre, bastardo e deserdado, é nada menos que um monstro, uma ameaça constante. O tema passa de forma quase despercebida pelo filme, mas o roteiro é
inteligente e aproveita ao máximo
os neologismos do coronel Ponciano, que se esforça no vocabulário para ser respeitado.
Selton Mello cria um tipo original como o suposto lobisomem.
Todo o elenco cumpre seu papel
com eficiência. O talento de Arraes na direção faz falta aqui, mas
não é o mais grave.
Qual é o problema então? Apesar de todos os efeitos especiais,
"O Coronel e o Lobisomem"
aposta muito nos diálogos e pouco na imagem. É um filme falado
em excesso, que quase não deixa
margem para o espectador digerir
a história. Vício oriundo da televisão, onde a novela ou o seriado
tem que disputar a atenção do espectador a todo o momento com
o telefone, o parente ou qualquer
outro ruído importuno.
Como não há tempo para respirar, sente-se até falta dos comerciais ou dos capítulos que ajudam
o espectador a se recompor. A impressão é que "O Coronel e o Lobisomem" sofreu o mesmo processo de adaptação de "O Auto da
Compadecida" -originalmente
concebido como minissérie, condensado depois para o cinema.
O Coronel e o Lobisomem
Direção: Maurício Farias
Produção: Brasil, 2005
Com: Diogo Vilela, Selton Mello
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Kinoplex Itaim e circuito
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