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Jane Birkin revela memórias em "Caixas"
Estréia na direção da atriz e cantora foi exibida no Festival do Rio e integra a Mostra de SP neste mês
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Na memória dos amantes de
cinema, a atriz e cantora inglesa Jane Birkin se fixou como a
musa de "Je t'Aime Moi Non
Plus", a canção sensual e o filme idem que dividiu, nos anos
60/70, com o artista francês
Serge Gainsbourg, seu segundo
marido e pai de sua filha Charlotte Gainsbourg.
Na semana passada, quando
fez uma visita-relâmpago ao
Brasil para divulgar "Caixas",
seu primeiro filme como diretora, Birkin disse que "quem
quer tocar as pessoas com a arte não pode ser mesquinho com
as próprias memórias".
Em "Caixas", ela revela fartamente as suas lembranças da
vida em família. O longa foi exibido no Festival do Rio, encerrado na última quinta, e será
atração também da Mostra de
São Paulo (de 19/10 a 1º/11).
"Escrevi esse filme há 15
anos, quando eu tinha 47", conta Birkin, que interpreta, a contragosto, a protagonista Ana.
"Eu quis Kristin Scott Thomas
e, acima de tudo, Rosanna Arquette para o papel, mas, no último minuto, ela não pôde."
Birkin fez então um corte de
cabelo, com o qual ganhou "um
ar de adolescente velha" e fez
Ana recuar ao momento em
que o roteiro foi escrito.
"[Naquela época] eu estava
apaixonada, minha filha mais
nova ainda morava comigo e
implicava com minha relação,
embora o pai dela já tivesse
uma nova mulher", relata. "Foi
quando me dei conta de que talvez não tivesse sido uma boa
mãe, que minhas filhas pudessem ter queixas de mim."
As queixas (imaginárias) ganharam a forma do roteiro em
que Ana se vê em casa, rodeada
de caixas das quais emergem
lembranças de toda a sua vida.
Em "Caixas", a "dívida" mais
longa que Ana tem a acertar é
com a filha mais velha, que
cresceu completamente afastada do pai, um vaidoso escritor,
que traiu Ana com uma amiga
dela e a abandonou, quando o
bebê era recém-nascido.
O episódio remete à separação de Birkin e do músico John
Barry, com quem ela se casou,
aos 19. Da união, nasceu a fotógrafa Kate Barry.
"Hoje percebo que eu poderia ter agido de forma diferente,
se eu fosse uma pessoa melhor", diz Birkin. "Se eu não tivesse pensado no insulto de ser
deixada, eu poderia ter ido
atrás do pai da minha filha. Mas
fui tão orgulhosa que fiquei entregue à minha miséria. Não
pensei que, pela minha filha,
talvez fosse preciso guardar fotos dele ou telefonar para ele."
Nos 15 anos passados entre a
escritura do roteiro e a realização do filme, "no qual ninguém
quis investir", as filhas de Birkin "tiveram seus próprios filhos e não têm mais nenhuma
cobrança" em relação a ela, diz.
Por isso, ela nota em seu filme "um desejo de se perdoar
por não ter sido perfeita", e
acha que o que ele propõe é que
"você pode continuar sua vida,
sabendo que não é um crime ter
sobrevivido a quem já se foi".
"Caixas" foi filmado na casa
de Birkin, de forma quase artesanal. "Fizemos o filme com o
menor orçamento possível. Os
atores trabalharam de graça;
mas tive o melhor fotógrafo do
mundo [François Catonné] e
técnicos geniais", afirma.
Michel Piccoli e Geraldine
Chaplin interpretam os pais de
Birkin. "Picolli conhecia meu
pai e Geraldine, minha mãe.
Eles representaram seus personagens com um sarcasmo e
uma graça que me impressionava. Eu os olhava e pensava:
eles têm a essência dos meus
pais", diz a cineasta.
Em janeiro, Birkin planeja
nova vinda ao Brasil. Desta vez,
para fazer shows em São Paulo.
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