São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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Jane Birkin revela memórias em "Caixas"

Estréia na direção da atriz e cantora foi exibida no Festival do Rio e integra a Mostra de SP neste mês

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Na memória dos amantes de cinema, a atriz e cantora inglesa Jane Birkin se fixou como a musa de "Je t'Aime Moi Non Plus", a canção sensual e o filme idem que dividiu, nos anos 60/70, com o artista francês Serge Gainsbourg, seu segundo marido e pai de sua filha Charlotte Gainsbourg.
Na semana passada, quando fez uma visita-relâmpago ao Brasil para divulgar "Caixas", seu primeiro filme como diretora, Birkin disse que "quem quer tocar as pessoas com a arte não pode ser mesquinho com as próprias memórias".
Em "Caixas", ela revela fartamente as suas lembranças da vida em família. O longa foi exibido no Festival do Rio, encerrado na última quinta, e será atração também da Mostra de São Paulo (de 19/10 a 1º/11).
"Escrevi esse filme há 15 anos, quando eu tinha 47", conta Birkin, que interpreta, a contragosto, a protagonista Ana. "Eu quis Kristin Scott Thomas e, acima de tudo, Rosanna Arquette para o papel, mas, no último minuto, ela não pôde."
Birkin fez então um corte de cabelo, com o qual ganhou "um ar de adolescente velha" e fez Ana recuar ao momento em que o roteiro foi escrito.
"[Naquela época] eu estava apaixonada, minha filha mais nova ainda morava comigo e implicava com minha relação, embora o pai dela já tivesse uma nova mulher", relata. "Foi quando me dei conta de que talvez não tivesse sido uma boa mãe, que minhas filhas pudessem ter queixas de mim."
As queixas (imaginárias) ganharam a forma do roteiro em que Ana se vê em casa, rodeada de caixas das quais emergem lembranças de toda a sua vida.
Em "Caixas", a "dívida" mais longa que Ana tem a acertar é com a filha mais velha, que cresceu completamente afastada do pai, um vaidoso escritor, que traiu Ana com uma amiga dela e a abandonou, quando o bebê era recém-nascido.
O episódio remete à separação de Birkin e do músico John Barry, com quem ela se casou, aos 19. Da união, nasceu a fotógrafa Kate Barry.
"Hoje percebo que eu poderia ter agido de forma diferente, se eu fosse uma pessoa melhor", diz Birkin. "Se eu não tivesse pensado no insulto de ser deixada, eu poderia ter ido atrás do pai da minha filha. Mas fui tão orgulhosa que fiquei entregue à minha miséria. Não pensei que, pela minha filha, talvez fosse preciso guardar fotos dele ou telefonar para ele."
Nos 15 anos passados entre a escritura do roteiro e a realização do filme, "no qual ninguém quis investir", as filhas de Birkin "tiveram seus próprios filhos e não têm mais nenhuma cobrança" em relação a ela, diz.
Por isso, ela nota em seu filme "um desejo de se perdoar por não ter sido perfeita", e acha que o que ele propõe é que "você pode continuar sua vida, sabendo que não é um crime ter sobrevivido a quem já se foi".
"Caixas" foi filmado na casa de Birkin, de forma quase artesanal. "Fizemos o filme com o menor orçamento possível. Os atores trabalharam de graça; mas tive o melhor fotógrafo do mundo [François Catonné] e técnicos geniais", afirma.
Michel Piccoli e Geraldine Chaplin interpretam os pais de Birkin. "Picolli conhecia meu pai e Geraldine, minha mãe. Eles representaram seus personagens com um sarcasmo e uma graça que me impressionava. Eu os olhava e pensava: eles têm a essência dos meus pais", diz a cineasta.
Em janeiro, Birkin planeja nova vinda ao Brasil. Desta vez, para fazer shows em São Paulo.


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