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Próximo volume destaca obra de Charlie Parker
Saxofonista é tema de livro-CD da Coleção Folha que chega às bancas no domingo que vem
Disco mostra jazzista no auge, em gravações ao vivo no clube Storyville, junto com nomes como Red Garland, Roy Haynes e Kenny Clarke
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele tirou o jazz das pistas de
dança e o transformou em música séria, para ser ouvida com
atenção. Consumido pelo álcool e pelas drogas, o saxofonista Charlie Parker (1920-1955),
um dos fundadores do bebop, é
o tema do quarto volume da
Coleção Folha Clássicos do
Jazz, que chega às bancas no
domingo que vem.
Nascido em Kansas City,
Parker não corresponde à imagem do menino-prodígio: começou a tocar saxofone na adolescência, mas sem se destacar especialmente no instrumento,
chegando a dar alguns vexames
musicais nas apresentações da
banda da escola.
Foram a obstinação e a garra
que fizeram o garoto superar as
dificuldades iniciais e integrar
a orquestra de Jay McShann,
na qual ganhou o seu célebre
apelido de Bird (pássaro).
A origem da alcunha é inusitada: consta que, certa vez,
quando a banda estava a caminho de uma apresentação na
Universidade de Nebraska, nos
Estados Unidos, o motorista
inadvertidamente atropelou algumas galinhas que cruzavam a
estrada. O jovem Parker não se
fez de rogado: desceu do veículo e voltou com um frango morto, que mandou cozinhar na parada seguinte.
Os músicos da banda, em razão disso, começaram a chamá-lo de Yardbird (ave de quintal),
apelido que posteriormente foi
encurtado para Bird.
A big band de McShann tinha
os elementos clássicos daquele
período que ficou conhecido
como a era do swing, em que
formações de tamanho grande
embalavam casais nas pistas
de dança.
Em busca de maior liberdade
artística, instrumentistas como
o pianista Thelonious Monk
(tema do oitavo volume da Coleção Folha Clássicos do Jazz) e
o baterista Kenny Clarke começaram a se envolver em longas práticas de improvisação,
envolvendo menos músicos e
técnicas mais vanguardistas e
sofisticadas, que não pudessem
ser copiadas pelos músicos
brancos.
Era o nascimento do bebop,
gênero refinado que valorizava
o elevado virtuosismo instrumental e a imaginação melódica e harmônica.
Na rua 52, em Nova York,
Charlie Parker foi um dos líderes da nova corrente, nas improvisações endiabradas que
protagonizava ao lado de seu
parceiro musical, o trompetista
Dizzy Gillespie (tema do volume 16 da coleção).
Mulheres, comida, heroína,
álcool: as compulsões de Bird
fariam com que seu vôo, intenso, fosse de curta duração.
Retratada com maestria no
conto "O Perseguidor", do escritor argentino Júlio Cortázar
(um relato ficcional que, contudo, utiliza fatos reais), a existência de Parker contabilizou
duas tentativas de suicídio e
uma longa internação em um
sanatório, antes de chegar ao
fim, aos 34 anos -o estrago
causado em seu corpo pela vida
desregrada tinha sido tão grande que o legista atribuiu ao
morto a idade de 53 anos.
Auge
O CD que vem com o livro da
Coleção Folha documenta o saxofonista no auge, em gravações ao vivo no clube Storyville,
em Boston, em 1953. Ao lado de
instrumentistas do naipe de
Red Garland (pianista que,
mais tarde, tocaria com Miles
Davis) e dos bateristas Roy
Haynes e Kenny Clarke, Bird
está completamente à vontade,
improvisando com a fluência
que era uma das suas marcas
registradas.
A curiosidade é que essas
apresentações foram originalmente registradas por meio de
transmissões de rádio. Então,
no final de algumas faixas, ouve-se a voz do locutor da emissora, dando um toque especial
aos fonogramas.
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