São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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Próximo volume destaca obra de Charlie Parker

Saxofonista é tema de livro-CD da Coleção Folha que chega às bancas no domingo que vem

Disco mostra jazzista no auge, em gravações ao vivo no clube Storyville, junto com nomes como Red Garland, Roy Haynes e Kenny Clarke

DA REPORTAGEM LOCAL

Ele tirou o jazz das pistas de dança e o transformou em música séria, para ser ouvida com atenção. Consumido pelo álcool e pelas drogas, o saxofonista Charlie Parker (1920-1955), um dos fundadores do bebop, é o tema do quarto volume da Coleção Folha Clássicos do Jazz, que chega às bancas no domingo que vem.
Nascido em Kansas City, Parker não corresponde à imagem do menino-prodígio: começou a tocar saxofone na adolescência, mas sem se destacar especialmente no instrumento, chegando a dar alguns vexames musicais nas apresentações da banda da escola.
Foram a obstinação e a garra que fizeram o garoto superar as dificuldades iniciais e integrar a orquestra de Jay McShann, na qual ganhou o seu célebre apelido de Bird (pássaro).
A origem da alcunha é inusitada: consta que, certa vez, quando a banda estava a caminho de uma apresentação na Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos, o motorista inadvertidamente atropelou algumas galinhas que cruzavam a estrada. O jovem Parker não se fez de rogado: desceu do veículo e voltou com um frango morto, que mandou cozinhar na parada seguinte.
Os músicos da banda, em razão disso, começaram a chamá-lo de Yardbird (ave de quintal), apelido que posteriormente foi encurtado para Bird.
A big band de McShann tinha os elementos clássicos daquele período que ficou conhecido como a era do swing, em que formações de tamanho grande embalavam casais nas pistas de dança.
Em busca de maior liberdade artística, instrumentistas como o pianista Thelonious Monk (tema do oitavo volume da Coleção Folha Clássicos do Jazz) e o baterista Kenny Clarke começaram a se envolver em longas práticas de improvisação, envolvendo menos músicos e técnicas mais vanguardistas e sofisticadas, que não pudessem ser copiadas pelos músicos brancos.
Era o nascimento do bebop, gênero refinado que valorizava o elevado virtuosismo instrumental e a imaginação melódica e harmônica.
Na rua 52, em Nova York, Charlie Parker foi um dos líderes da nova corrente, nas improvisações endiabradas que protagonizava ao lado de seu parceiro musical, o trompetista Dizzy Gillespie (tema do volume 16 da coleção).
Mulheres, comida, heroína, álcool: as compulsões de Bird fariam com que seu vôo, intenso, fosse de curta duração.
Retratada com maestria no conto "O Perseguidor", do escritor argentino Júlio Cortázar (um relato ficcional que, contudo, utiliza fatos reais), a existência de Parker contabilizou duas tentativas de suicídio e uma longa internação em um sanatório, antes de chegar ao fim, aos 34 anos -o estrago causado em seu corpo pela vida desregrada tinha sido tão grande que o legista atribuiu ao morto a idade de 53 anos.

Auge
O CD que vem com o livro da Coleção Folha documenta o saxofonista no auge, em gravações ao vivo no clube Storyville, em Boston, em 1953. Ao lado de instrumentistas do naipe de Red Garland (pianista que, mais tarde, tocaria com Miles Davis) e dos bateristas Roy Haynes e Kenny Clarke, Bird está completamente à vontade, improvisando com a fluência que era uma das suas marcas registradas.
A curiosidade é que essas apresentações foram originalmente registradas por meio de transmissões de rádio. Então, no final de algumas faixas, ouve-se a voz do locutor da emissora, dando um toque especial aos fonogramas.


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