São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2008

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Frateschi deixa presidência da Funarte

Ator deixa o cargo após suspeita de favorecer companhia teatral que fundou; substituto ainda não foi anunciado

CAIO JOBIM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Celso Frateschi renunciou à presidência da Funarte, ontem, em carta enviada ao ministro da Cultura, Juca Ferreira.
Ele deixou o cargo -que ocupou desde o início de 2007- dois dias depois de o jornal "O Globo" publicar reportagem sobre suposto favorecimento da fundação à Ágora, companhia de teatro que Frateschi fundou e cuja coordenação está a cargo de sua mulher, a cenógrafa Sylvia Moreira, e do diretor Roberto Lage.
Também no sábado, a Associação de Funcionários da Funarte (Asserte) divulgou carta enviada a Juca Ferreira acusando a gestão de Frateschi de ser "autoritária" e de criar um "clima de intimidação e desrespeito para com os servidores".
"No momento em que se caracterizou uma série de eventos [a reportagem e a carta] -e você sabe que, em política, não existe coincidência-, você percebe que estão armando, e eu, sinceramente, não estou aqui para disputar cargos, não é a minha praia", disse Frateschi à Folha, justificando sua saída.
Secretário de Cultura de São Paulo na gestão de Marta Suplicy (2001-2004), ele afirmou ainda ter acabado com "uma indústria de favorecimento" que funcionava dentro do órgão.
Ele disse que buscou descentralizar as ações do órgão, tirando-as do eixo Rio-São Paulo, o que teria provocado insatisfação entre os servidores. "Nós mudamos a questão da territorialização, e hoje todos os Estados têm prêmios da Funarte. Não adianta a gente usar os projetos da Funarte e reproduzir a lógica da Lei Rouanet, onde 80% são de Rio e São Paulo."

Aprovação em seis dias
Enviado à Funarte para ser submetido a parecer técnico em 30 de novembro de 2007, o projeto do grupo Ágora batizado "Machadianas 2", adaptação de contos de Machado de Assis, foi aprovado em 6/12.
Vinte dias depois, obteve junto ao MinC a autorização para captação de recursos. A tramitação foi extremamente rápida, segundo profissionais da classe teatral, ainda mais por que, em 2007, houve uma greve de 73 dias dos servidores do MinC.
Frateschi argumenta que o ministério e a Funarte fizeram um "acordo de excepcionalidade" para analisar projetos cujos produtores já apresentassem cartas de intenções de patrocinadores manifestando interesse em apoiar a sua realização. Frateschi apresentou à Folha um e-mail da Petrobras como prova de que era o caso do espetáculo da Ágora.

Comemoração
Ontem, funcionários da Funarte comemoravam a saída de Frateschi em frente ao palácio Gustavo Capanema, sede da fundação. "Foi a pior gestão da Funarte. Houve assédio moral aos funcionários e foram destruídos programas que deram certo", disse Paula Nogueira, presidente da Asserte.
O Ministério da Cultura confirmou a saída de Frateschi e informou que seu substituto ainda não foi definido.


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