São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE

Trajetória diversa recebe com o prêmio um justo coroamento

RICARDO DOMENECK
ESPECIAL PARA A FOLHA

É comum que a atribuição do Nobel a um poeta gere surpresa e a corrida por informações sobre o autor, tão frequentemente desconhecido.
Tomas Tranströmer é o poeta sueco mais traduzido no mundo. Na Europa, é considerado um dos mais importantes poetas vivos do continente, e sua posição no cânone poético sueco do pós-Guerra talvez só possa ser comparada à de Gunnar Ekelöf (1907-1968).
Em poemas do início de sua carreira, como "Tempestade", Tranströmer adotava uma poética de ritmos regulares, imagética clara e objetiva, aproximando-o do espanhol Jorge Guillén ou do francês Paul Valéry.
Aos poucos, sua obra enriqueceu-se de ritmos, passando a adotar versos longos, em poemas de fôlego, como no belo "Mares do Norte", em que versos de ritmo que beira o sálmico unem-se à técnica da enumeração e à quase-prosa que Allen Ginsberg tornaria famosa e popular em um poema como o "Uivo".
Tranströmer a empregaria ainda no poema "Schubertiana", ou recorreria à prosa poética em textos como "Funchal" e "Respostas breves".
Jamais pareceu querer tomar partido, porém, entre oposições como objetividade e subjetividade, tradição e vanguarda. Elas encontram guarida natural em sua obra, com delicadeza e elegância.
Este prêmio talvez venha agora como a coroação de uma obra que, desde seu primeiro volume em 1954, balança-se em equilíbrio entre a tradição europeia de uma poesia metrificada e pura e as contribuições das vanguardas que levaram a poesia ocidental a novos territórios rítmicos e temáticos.
O que podemos esperar é que o poeta receba agora a merecida recepção no mercado editorial brasileiro.

RICARDO DOMENECK, poeta e videasta brasileiro radicado em Berlim, é autor de "Carta aos Anfíbios" (Bem-te-vi, 2005) e "Cigarros na Cama" (7 Letras/Cosac Naify, 2011), entre outros.



Texto Anterior: Raio-X: Tomas Tranströmer
Próximo Texto: Paris tem clássicos femininos revisitados
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.