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MÚSICA
Banda lança "Volume Dois', sucessor de "Acústico'
Titãs querem ser "adultos' com canções da juventude
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
Enquanto vários artistas de MPB
imergem na eletrônica, os Titãs batem pé no que convencionaram
chamar de "acústico". "Volume
Dois" é a sequência imediata do
mais bem-sucedido disco da história da banda, "Acústico" (1,6 milhão de cópias vendidas).
Lançado em convescote para a
imprensa no Terraço Itália (e já
nas lojas), "Volume Dois" volta
com Liminha, Eumir Deodato e todo aquele séquito de cordas, metais e Morelenbaums que devem
ter tornado o estúdio de gravação
um dos lugares de maior densidade demográfica da cidade este ano.
Remete a "Acústico", mas tem
guitarras suficientes para desvirtuar a semântica, melotron, pedais. Puxado nas rádios por uma
canção de Roberto e Erasmo Carlos, "É Preciso Saber Viver", o CD
exibe ainda regravações e inéditas.
"Somos uma banda de palco,
gostamos de tocar. Não faz sentido, numa banda numerosa, ficar
esperando a sequência de computador para então entrar com a guitarra. Isso aconteceu na época do
"O Blesq Blom'", diz Paulo Miklos.
"Acústico é a valorização das melodias, a "coisa' eletrônica mais nos
atrapalhou que ajudou", bisa Toni
Belotto, guitarrista. "Somos uma
banda mais tradicional, acadêmica
até, por ter um guitarrista querendo tocar guitarra."
Mas ser "acústico" não é exatamente contrapor-se à eletrônica,
que também sabe, em vários casos,
ser bem melodiosa. Para os Titãs,
"Volume Dois" talvez afirme uma
vontade de apropriar-se do próprio repertório e dizê-lo "adulto".
"Escolhemos "Sonífera Ilha' para
abrir o disco por ser emblemática.
Brega, tentado ser pop, inventiva.
Os Titãs nunca foram um bando de
contestadores sociais, somos uma
banda de música. Se já não vou escrever "Polícia' porque não vivo
mais tomando blitz, também não a
renego", diz Belotto.
Miklos vai na mesma linha ao
achar que "Família" não é adolescente e "não poderia mais tocá-la
quando chegasse aos 20 anos".
"Polícia" e "Família" não estão
no disco, mas são hits nos shows.
"Insensível", de "Televisão", e
"Desordem" ("Quem quer manter
a ordem?/ Quem quer criar desordem?"), reaproveitadas agora, afirmam mais os propósitos do grupo
em "jamais" querer "ser gueto".
Ironicamente, as novas composições tendem a falar do envelhecimento. "Caras Como Eu" é narrada por um "cara de cabelos ralos
que está tirando o pé, andando em
marcha ré", enquanto "Senhora e
Senhor" fala do fim do casamento.
Com tanta pulsão pelo próprio
repertório, parece não ser arriscado pensar num "Volume Três".
"Acho que não, não teríamos mais
o que pegar lá atrás. É cedo para dizer o que vem depois, mas talvez a
experiência com orquestração a
gente use", diz Belotto.
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