São Paulo, quarta, 7 de outubro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA
Banda lança "Volume Dois', sucessor de "Acústico'
Titãs querem ser "adultos' com canções da juventude


PAULO VIEIRA
especial para a Folha

Enquanto vários artistas de MPB imergem na eletrônica, os Titãs batem pé no que convencionaram chamar de "acústico". "Volume Dois" é a sequência imediata do mais bem-sucedido disco da história da banda, "Acústico" (1,6 milhão de cópias vendidas).
Lançado em convescote para a imprensa no Terraço Itália (e já nas lojas), "Volume Dois" volta com Liminha, Eumir Deodato e todo aquele séquito de cordas, metais e Morelenbaums que devem ter tornado o estúdio de gravação um dos lugares de maior densidade demográfica da cidade este ano.
Remete a "Acústico", mas tem guitarras suficientes para desvirtuar a semântica, melotron, pedais. Puxado nas rádios por uma canção de Roberto e Erasmo Carlos, "É Preciso Saber Viver", o CD exibe ainda regravações e inéditas.
"Somos uma banda de palco, gostamos de tocar. Não faz sentido, numa banda numerosa, ficar esperando a sequência de computador para então entrar com a guitarra. Isso aconteceu na época do "O Blesq Blom'", diz Paulo Miklos.
"Acústico é a valorização das melodias, a "coisa' eletrônica mais nos atrapalhou que ajudou", bisa Toni Belotto, guitarrista. "Somos uma banda mais tradicional, acadêmica até, por ter um guitarrista querendo tocar guitarra."
Mas ser "acústico" não é exatamente contrapor-se à eletrônica, que também sabe, em vários casos, ser bem melodiosa. Para os Titãs, "Volume Dois" talvez afirme uma vontade de apropriar-se do próprio repertório e dizê-lo "adulto".
"Escolhemos "Sonífera Ilha' para abrir o disco por ser emblemática. Brega, tentado ser pop, inventiva. Os Titãs nunca foram um bando de contestadores sociais, somos uma banda de música. Se já não vou escrever "Polícia' porque não vivo mais tomando blitz, também não a renego", diz Belotto.
Miklos vai na mesma linha ao achar que "Família" não é adolescente e "não poderia mais tocá-la quando chegasse aos 20 anos".
"Polícia" e "Família" não estão no disco, mas são hits nos shows. "Insensível", de "Televisão", e "Desordem" ("Quem quer manter a ordem?/ Quem quer criar desordem?"), reaproveitadas agora, afirmam mais os propósitos do grupo em "jamais" querer "ser gueto".
Ironicamente, as novas composições tendem a falar do envelhecimento. "Caras Como Eu" é narrada por um "cara de cabelos ralos que está tirando o pé, andando em marcha ré", enquanto "Senhora e Senhor" fala do fim do casamento.
Com tanta pulsão pelo próprio repertório, parece não ser arriscado pensar num "Volume Três". "Acho que não, não teríamos mais o que pegar lá atrás. É cedo para dizer o que vem depois, mas talvez a experiência com orquestração a gente use", diz Belotto.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.