São Paulo, terça-feira, 07 de novembro de 2000

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Aos 64, Buddy Guy fala sobre o futuro do gênero e seu novo CD, que sai em fevereiro
O senhor do blues

GUITARRISTA TRAZ SOM RURAL DO MISSISSIPPI AO BRASIL
EDSON FRANCO
EDITOR DO TV FOLHA

No começo, o susto. O guitarrista norte-americano Buddy Guy ameaçou cancelar a entrevista que daria à Folha, pois precisava ir ao médico. Depois, o alívio. Ele estava apenas a caminho de um dos três check-ups anuais que garantem a energia desse senhor de 64 anos, que toca na Via Funchal, em São Paulo (amanhã), no ATL Music Hall do Rio de Janeiro (dia 9) e em Porto Alegre (dia 11).
Como nos check-ups anteriores, em vez de receitar vitaminas, os médicos devem se perguntar: "Como pode alguém -que teve uma infância paupérrima, que chegava a ficar dois dias sem comer quando mudou para Chicago e que ficou esquecido por duas décadas- chegar a essa idade correndo pelo palco e tocando com a guitarra nas costas?".
Além da energia para o palco, Guy precisa de disposição para tocar o seu Legends, clube fundado em junho de 89. Para explicar sua saúde e falar sobre o passado, o presente e o futuro do blues, Guy deu a seguinte entrevista, por telefone, de sua casa, em Chicago. E chegou atrasado ao check-up.

Folha - Como vai?
Buddy Guy -
Muito bem, exceto pelo fato de que eu tenho uma consulta marcada. Tudo bem, posso me atrasar. Vá em frente.

Folha - Algo grave?
Guy -
Não. Eu faço três check-ups por ano, e a consulta estava marcada para hoje de manhã. Quase cancelei a entrevista, o que detesto fazer, pois B.B. King disse que não devemos perder oportunidades de divulgar o blues.

Folha - O blues é uma gangorra. Às vezes está no topo, às vezes no chão. Onde ele está hoje nos EUA?
Guy -
O blues sempre esteve por aí. Hoje ele não tem a mesma exposição que outros estilos. Há rádios que não tocam blues, especialmente se o músico for negro. Não entendo isso, mas não ligo. O importante é que ainda há grandes músicos de blues e muitas pessoas vêm ver a gente tocar.

Folha - Dá para levar uma vida confortável tocando blues?
Guy -
Posso dizer que sim. Tenho amigos como Eric Clapton e músicos de rock que tocam minhas músicas e me tornam conhecido. Devo isso a eles e a pessoas como Stevie Ray Vaughan e Jimi Hendrix. Hoje não preciso mais morar na casa em que minha mãe me criou, em que era preciso tapar os buracos em dias de chuva.

Folha - Quem fatura mais, o guitarrista ou o dono de clube?
Guy -
O guitarrista fatura mais. O clube aconteceu apenas porque Chicago é o maior pólo concentrador de estrelas do blues.

Folha - E há platéia para todos?
Guy -
Sim. Quando eu comecei, havia seis ou sete clubes em um único quarteirão. Acho que há lugar para mais clubes na cidade.

Folha - O sr. adora apadrinhar músicos novos. Qual é sua aposta mais recente?
Guy -
Johnny Lang. Mas estou descobrindo outras estrelas. Se você for ao Legends às segundas-feiras, verá "jam sessions" em que grandes músicos procuram um lugar ao sol. Gosto tanto disso que estou abrindo outro clube, no qual vou instalar um estúdio. Não é preciso ser de Chicago para participar. Quero receber músicos do Brasil, da Argentina, do Japão...

Folha - Então o sr. não concorda com aqueles que dizem ser necessário ter nascido no Mississippi e colhido algodão para tocar o blues?
Guy -
Isso é besteira. O blues é uma coisa possível de ser aprendida. Tudo o que você precisa é de um ser humano disposto a saber como tocar e cantar as notas certas nos lugares certos.

Folha - É possível aprender a tocar blues em escolas?
Guy -
Sim, mas eu acredito que a melhor maneira é observar os shows de músicos mais experientes e tentar "roubar" frases dos discos. Foi assim que eu aprendi.

Folha - Seu último disco é de 98. O sr. está trabalhando em um novo?
Guy -
Sim. Já gravamos a maior parte das músicas e vou concluí-lo assim que voltar da minha passagem pelo Brasil. Ele ainda não tem nome, mas deve estar nas lojas em fevereiro do ano que vem.

Folha - Os brasileiros vão conhecer algumas músicas desse disco?
Guy -
Não. Resolvi fazer um trabalho mais tradicional, bem próximo do estilo de blues rural que era tocado no Mississippi no começo do século. É muito diferente do que eu costumo fazer no palco.


Show: Buddy Guy Quando: amanhã, às 21h30 Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, Vila Olímpia, tel. 0/xx/11/3846-2300) Quanto: de R$ 40 a R$ 120


Rio de Janeiro: dia 9, às 21h30, no ATL Music Hall, av. Ayrton Senna, 3.000, tel. 0/XX/21/421-1331
Preços: de R$ 30 a R$ 80



Porto Alegre: dia 11, às 21h30, no auditório Araújo Viana, parque da Redenção, s/n, tel. 0/XX/51/231-4247
Preços: R$ 40 e R$ 50



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