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Aos 64, Buddy Guy fala sobre o futuro do gênero e seu novo CD, que sai em fevereiro
O senhor do blues
GUITARRISTA TRAZ SOM RURAL DO MISSISSIPPI AO BRASIL
EDSON FRANCO
EDITOR DO TV FOLHA
No começo, o susto. O guitarrista norte-americano Buddy Guy
ameaçou cancelar a entrevista
que daria à Folha, pois precisava
ir ao médico. Depois, o alívio. Ele
estava apenas a caminho de um
dos três check-ups anuais que garantem a energia desse senhor de
64 anos, que toca na Via Funchal,
em São Paulo (amanhã), no ATL
Music Hall do Rio de Janeiro (dia
9) e em Porto Alegre (dia 11).
Como nos check-ups anteriores, em vez de receitar vitaminas,
os médicos devem se perguntar:
"Como pode alguém -que teve
uma infância paupérrima, que
chegava a ficar dois dias sem comer quando mudou para Chicago
e que ficou esquecido por duas
décadas- chegar a essa idade
correndo pelo palco e tocando
com a guitarra nas costas?".
Além da energia para o palco,
Guy precisa de disposição para
tocar o seu Legends, clube fundado em junho de 89. Para explicar
sua saúde e falar sobre o passado,
o presente e o futuro do blues,
Guy deu a seguinte entrevista, por
telefone, de sua casa, em Chicago.
E chegou atrasado ao check-up.
Folha - Como vai?
Buddy Guy - Muito bem, exceto
pelo fato de que eu tenho uma
consulta marcada. Tudo bem,
posso me atrasar. Vá em frente.
Folha - Algo grave?
Guy - Não. Eu faço três check-ups por ano, e a consulta estava
marcada para hoje de manhã.
Quase cancelei a entrevista, o que
detesto fazer, pois B.B. King disse
que não devemos perder oportunidades de divulgar o blues.
Folha - O blues é uma gangorra.
Às vezes está no topo, às vezes no
chão. Onde ele está hoje nos EUA?
Guy - O blues sempre esteve por
aí. Hoje ele não tem a mesma exposição que outros estilos. Há rádios que não tocam blues, especialmente se o músico for negro.
Não entendo isso, mas não ligo. O
importante é que ainda há grandes músicos de blues e muitas
pessoas vêm ver a gente tocar.
Folha - Dá para levar uma vida
confortável tocando blues?
Guy - Posso dizer que sim. Tenho amigos como Eric Clapton e
músicos de rock que tocam minhas músicas e me tornam conhecido. Devo isso a eles e a pessoas
como Stevie Ray Vaughan e Jimi
Hendrix. Hoje não preciso mais
morar na casa em que minha mãe
me criou, em que era preciso tapar os buracos em dias de chuva.
Folha - Quem fatura mais, o guitarrista ou o dono de clube?
Guy - O guitarrista fatura mais.
O clube aconteceu apenas porque
Chicago é o maior pólo concentrador de estrelas do blues.
Folha - E há platéia para todos?
Guy - Sim. Quando eu comecei,
havia seis ou sete clubes em um
único quarteirão. Acho que há lugar para mais clubes na cidade.
Folha - O sr. adora apadrinhar
músicos novos. Qual é sua aposta
mais recente?
Guy - Johnny Lang. Mas estou
descobrindo outras estrelas. Se
você for ao Legends às segundas-feiras, verá "jam sessions" em que
grandes músicos procuram um
lugar ao sol. Gosto tanto disso que
estou abrindo outro clube, no
qual vou instalar um estúdio. Não
é preciso ser de Chicago para participar. Quero receber músicos do
Brasil, da Argentina, do Japão...
Folha - Então o sr. não concorda
com aqueles que dizem ser necessário ter nascido no Mississippi e
colhido algodão para tocar o blues?
Guy - Isso é besteira. O blues é
uma coisa possível de ser aprendida. Tudo o que você precisa é de
um ser humano disposto a saber
como tocar e cantar as notas certas nos lugares certos.
Folha - É possível aprender a tocar blues em escolas?
Guy - Sim, mas eu acredito que a
melhor maneira é observar os
shows de músicos mais experientes e tentar "roubar" frases dos
discos. Foi assim que eu aprendi.
Folha - Seu último disco é de 98. O
sr. está trabalhando em um novo?
Guy - Sim. Já gravamos a maior
parte das músicas e vou concluí-lo assim que voltar da minha passagem pelo Brasil. Ele ainda não
tem nome, mas deve estar nas lojas em fevereiro do ano que vem.
Folha - Os brasileiros vão conhecer algumas músicas desse disco?
Guy - Não. Resolvi fazer um trabalho mais tradicional, bem próximo do estilo de blues rural que
era tocado no Mississippi no começo do século. É muito diferente
do que eu costumo fazer no palco.
Show: Buddy Guy
Quando: amanhã, às 21h30
Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, Vila
Olímpia, tel. 0/xx/11/3846-2300)
Quanto: de R$ 40 a R$ 120
Rio de Janeiro: dia 9, às 21h30, no ATL
Music Hall, av. Ayrton Senna, 3.000, tel.
0/XX/21/421-1331
Preços: de R$ 30 a R$ 80
Porto Alegre: dia 11, às 21h30, no
auditório Araújo Viana, parque da
Redenção, s/n, tel. 0/XX/51/231-4247
Preços: R$ 40 e R$ 50
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