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MÚSICA/LANÇAMENTO
ROCK
Em nova fase, o vocalista Brett Anderson afirma estar "limpo e positivo"
"Ambicioso e alegre", Suede reúne singles em coletânea
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
O fundador, líder e vocalista do
Suede, Brett Anderson (ainda), é
uma das figuras mais idiossincráticas do rock britânico. Andrógino, hedonista, auto-indulgente,
celebrava os excessos. Certa vez,
declarou: "Sou um bissexual que
nunca teve uma relação homossexual". Era (e continua sendo)
odiado por muitos e festejado pelo mesmo tanto. Agora ele parece
ter cansado.
Aos 36 anos, Anderson já não é
mais o ícone ambíguo de quando
sua banda despejava música atrás
de música nas paradas. Recentemente declarou estar "limpo de
qualquer droga" e lançou um álbum chamado "A New Morning"
(Um Novo Amanhecer), em 2002.
"Queria escrever sobre algo positivo, que refletisse o que eu estava
sentindo. E isso era justamente o
oposto do que as pessoas esperavam de mim." Agora, o Suede
chega com a coletânea "Singles",
que, como diz o nome, reúne todos os singles do grupo.
Anderson falou por telefone
com a Folha sobre sua polêmica
carreira e a nova compilação, que
"reflete o lado alegre do Suede".
Folha - Como o Suede sobreviveu
ao grunge, ao britpop e, agora, ao
novo rock? Qual a herança que o
grupo deixará?
Brett Anderson - A razão pela
qual sobrevivemos é que continuamos a escrever canções que
importam às pessoas. Não é complicado. Sobre herança, acho que
é muito britânica. Acho que, agora, as bandas britânicas têm ambição de crescer e fazer coisas significativas.
Folha - Você considerava o Suede
britpop, como Oasis, Blur, Pulp,
nos anos 90?
Anderson - Sempre achei que
éramos completamente diferentes dessas bandas. Nós éramos
um grupo que falava, bem ou mal,
sobre a vida real, sobre o que
acontecia ao nosso redor. O britpop foi um mal-entendido ocorrido entre o rock e um certo nacionalismo britânico. Não sou nacionalista de jeito nenhum, não me
importo se os Trabalhistas ganharam em 94... Infelizmente os jornalistas ingleses começaram esse
movimento que mais parecia um
cartoon. Um dos melhores momentos de minha carreira foi
quando descobri o mundo, viajando e tocando em países onde
ninguém falava inglês. E essas
pessoas mesmo assim gostavam
da música. Mas tudo com que a
imprensa britânica se importava
era o lugar de onde você vinha.
Folha - Você leu "The Last Party"
[livro do jornalista John Harris que
relaciona bandas inglesas como
Suede e Blur à ascensão de Tony
Blair e dos Trabalhistas nos 90]?
Anderson - Até gostei do livro, é
bem escrito. Ele conhece as bandas, a cena. Acho que ele sofre pelo fato de ter sido escrito por um
jornalista. É cheio de teorias. As
coisas não tinham uma ligação
com os fatos políticos como ele dá
a entender. Mas, como um relato
social e histórico, é bem acurado.
Folha - Três ou quatro anos atrás
você decidiu falar abertamente sobre seu vício em drogas...
Anderson - Sempre falei abertamente sobre drogas. Nunca tentei
mentir sobre isso. De qualquer
forma, não me lembro bem do
que já disse... Mas é difícil falar
disso, fazem sensacionalismo.
Folha - E o que mudou desde
quando você largou o vício?
Anderson - Absolutamente tudo.
Quando fazíamos "Head Music"
[o quarto disco, de 1999], eu parecia viver meu último respiro de
música... Sinto-me uma pessoa
diferente. Mais do que qualquer
coisa, me sinto tendo uma vida
simples, e não a de um rock star.
Folha - Você disse certa vez que
está cada vez mais se interessando
por literatura, e que ela nunca teve
influência em sua música...
Anderson - Para ser honesto,
quando decidi ser um compositor
de verdade, desisti da literatura
por uns oito ou nove anos. Não
queria levar para a minha música
a voz ou as idéias de outras pessoas. Queria escrever apenas sobre o que estava à minha volta,
com a minha visão. Eu queria ter a
minha linguagem.
Folha - Mas isso passou?
Anderson - Sim. Agora leio escritores que têm uma linguagem direta, como George Orwell, Camus, Michel Houellebecq...
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