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São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2003

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MÚSICA/LANÇAMENTO

ROCK

Em nova fase, o vocalista Brett Anderson afirma estar "limpo e positivo"

"Ambicioso e alegre", Suede reúne singles em coletânea

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

O fundador, líder e vocalista do Suede, Brett Anderson (ainda), é uma das figuras mais idiossincráticas do rock britânico. Andrógino, hedonista, auto-indulgente, celebrava os excessos. Certa vez, declarou: "Sou um bissexual que nunca teve uma relação homossexual". Era (e continua sendo) odiado por muitos e festejado pelo mesmo tanto. Agora ele parece ter cansado.
Aos 36 anos, Anderson já não é mais o ícone ambíguo de quando sua banda despejava música atrás de música nas paradas. Recentemente declarou estar "limpo de qualquer droga" e lançou um álbum chamado "A New Morning" (Um Novo Amanhecer), em 2002. "Queria escrever sobre algo positivo, que refletisse o que eu estava sentindo. E isso era justamente o oposto do que as pessoas esperavam de mim." Agora, o Suede chega com a coletânea "Singles", que, como diz o nome, reúne todos os singles do grupo.
Anderson falou por telefone com a Folha sobre sua polêmica carreira e a nova compilação, que "reflete o lado alegre do Suede".
 

Folha - Como o Suede sobreviveu ao grunge, ao britpop e, agora, ao novo rock? Qual a herança que o grupo deixará?
Brett Anderson -
A razão pela qual sobrevivemos é que continuamos a escrever canções que importam às pessoas. Não é complicado. Sobre herança, acho que é muito britânica. Acho que, agora, as bandas britânicas têm ambição de crescer e fazer coisas significativas.

Folha - Você considerava o Suede britpop, como Oasis, Blur, Pulp, nos anos 90?
Anderson -
Sempre achei que éramos completamente diferentes dessas bandas. Nós éramos um grupo que falava, bem ou mal, sobre a vida real, sobre o que acontecia ao nosso redor. O britpop foi um mal-entendido ocorrido entre o rock e um certo nacionalismo britânico. Não sou nacionalista de jeito nenhum, não me importo se os Trabalhistas ganharam em 94... Infelizmente os jornalistas ingleses começaram esse movimento que mais parecia um cartoon. Um dos melhores momentos de minha carreira foi quando descobri o mundo, viajando e tocando em países onde ninguém falava inglês. E essas pessoas mesmo assim gostavam da música. Mas tudo com que a imprensa britânica se importava era o lugar de onde você vinha.

Folha - Você leu "The Last Party" [livro do jornalista John Harris que relaciona bandas inglesas como Suede e Blur à ascensão de Tony Blair e dos Trabalhistas nos 90]?
Anderson -
Até gostei do livro, é bem escrito. Ele conhece as bandas, a cena. Acho que ele sofre pelo fato de ter sido escrito por um jornalista. É cheio de teorias. As coisas não tinham uma ligação com os fatos políticos como ele dá a entender. Mas, como um relato social e histórico, é bem acurado.

Folha - Três ou quatro anos atrás você decidiu falar abertamente sobre seu vício em drogas...
Anderson -
Sempre falei abertamente sobre drogas. Nunca tentei mentir sobre isso. De qualquer forma, não me lembro bem do que já disse... Mas é difícil falar disso, fazem sensacionalismo.

Folha - E o que mudou desde quando você largou o vício?
Anderson -
Absolutamente tudo. Quando fazíamos "Head Music" [o quarto disco, de 1999], eu parecia viver meu último respiro de música... Sinto-me uma pessoa diferente. Mais do que qualquer coisa, me sinto tendo uma vida simples, e não a de um rock star.

Folha - Você disse certa vez que está cada vez mais se interessando por literatura, e que ela nunca teve influência em sua música...
Anderson -
Para ser honesto, quando decidi ser um compositor de verdade, desisti da literatura por uns oito ou nove anos. Não queria levar para a minha música a voz ou as idéias de outras pessoas. Queria escrever apenas sobre o que estava à minha volta, com a minha visão. Eu queria ter a minha linguagem.

Folha - Mas isso passou?
Anderson -
Sim. Agora leio escritores que têm uma linguagem direta, como George Orwell, Camus, Michel Houellebecq...


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