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São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2003

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MÚSICA

Artista lança revista "Outracoisa", que circula com disco do rapper carioca independente BNegão, por R$ 11,90

"Jornalista" Lobão vende música em banca

DA REPORTAGEM LOCAL

Autor dos rocks "Vida Bandida" e "Revanche", o carioca Lobão, 46, agora é também jornalista e editor de revista.
"Outracoisa" chega às bancas com 20 mil exemplares, proclamando "independência" para o meio musical e contando com time de colaboradores que inclui jornalistas "de verdade", os cartunistas Laerte, Angeli e Adão e o diretor Zé Celso Martinez Corrêa.
"Outracoisa" é pretexto para outro motivo central: vender, por R$ 11,90, em bancas de jornal, a nova produção musical brasileira.
O primeiro número vem acompanhado do CD "Enxugando Gelo", do carioca BNegão, 30, ex-Planet Hemp e ex-Funk Fuckers. Cada número bimestral terá, segundo Lobão, um CD inédito de um nome jovem da cena nacional. A banda sergipana de reggae Reação e os punk-bregas de Goiânia Réu e Condenado são cotados para os próximos números.
Quase sempre voz destoante e solitária dentro de sua classe, Lobão se vê agora rodeado de uma equipe (o próprio BNegão já se considera funcionário informal da "Outracoisa"). E fala sobre a experiência de editar jornalismo:
"Estou me divertindo muito. Ninguém tem salário, é na base da colaboração, mas com o resultado da primeira edição vamos fazer tabela de preços, organograma".
Ocupado em cooptar artistas (como Fred Zero Quatro) para a "Outracoisa", BNegão responde às gargalhadas sobre a idéia de virar jornalista. "Temos coisas essenciais a escrever, mas tem que pedir apoio e embasamento de jornalista, senão vira loucura", ri.
Ele conta que chegou à nova fórmula após experiências ruins em gravadoras. "Fui gravando o disco sozinho, a única dúvida era se ia ser independente ou independentão."
Enumerando as críticas às grandes gravadoras, fala do preço do CD ("acho um roubo"), da estrutura ("o único departamento que existe é o de marketing"), do imediatismo ("banda nova não vendeu 10 mil cópias, pum, dançou").
Segundo Lobão, BNegão irá se manter dono de sua gravação e receberá R$ 1 por exemplar vendido. "Proporcionalmente, nem Roberto Carlos ganharia isso", propagandeia. O projeto conta com um patrocínio "exíguo" da Petrobras, nas palavras de Lobão.
Seu próximo disco, já gravado, não sairá pelo esquema "Outracoisa". "Seria cabotino, uma espécie de jabá", afirma ele.

Crítica
Lobão tranquiliza quem receie sua habitual metralhadora giratória, agora em formato jornalístico. "A revista não tem a menor intenção de ser revanchista com ninguém. Se for dura é porque tem que ser, não vou abusar desse espaço de maneira nenhuma".
Já no número 1, no entanto, ele centra fogo contra a revelação Maria Rita -e repete as críticas à Folha. "Parece ser uma menina talentosa mesmo, mas é vítima de uma especulação mórbida, de necrofilia. É uma estética "emepebística" vetusta, varicosa, aquela história de diva, que torna a empreitada abastardada", dispara.
Mas dá o contraponto: "Torço para que ela se liberte, porque isso acontecendo todos nós teremos que nos repensar".
Na mesma linha, BNegão também tenta relativizar. "Não é que a gente é bonzinho e a gravadora é má. Todo mundo colabora, é o conjunto da obra", ri de novo.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


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