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MÚSICA
Artista lança revista "Outracoisa", que circula com disco do rapper carioca independente BNegão, por R$ 11,90
"Jornalista" Lobão vende música em banca
DA REPORTAGEM LOCAL
Autor dos rocks "Vida Bandida" e "Revanche", o carioca Lobão, 46, agora é também jornalista e editor de revista.
"Outracoisa" chega às bancas
com 20 mil exemplares, proclamando "independência" para o
meio musical e contando com time de colaboradores que inclui
jornalistas "de verdade", os cartunistas Laerte, Angeli e Adão e o diretor Zé Celso Martinez Corrêa.
"Outracoisa" é pretexto para
outro motivo central: vender, por
R$ 11,90, em bancas de jornal, a
nova produção musical brasileira.
O primeiro número vem acompanhado do CD "Enxugando Gelo", do carioca BNegão, 30, ex-Planet Hemp e ex-Funk Fuckers.
Cada número bimestral terá, segundo Lobão, um CD inédito de
um nome jovem da cena nacional. A banda sergipana de reggae
Reação e os punk-bregas de Goiânia Réu e Condenado são cotados
para os próximos números.
Quase sempre voz destoante e
solitária dentro de sua classe, Lobão se vê agora rodeado de uma
equipe (o próprio BNegão já se
considera funcionário informal
da "Outracoisa"). E fala sobre a
experiência de editar jornalismo:
"Estou me divertindo muito.
Ninguém tem salário, é na base da
colaboração, mas com o resultado
da primeira edição vamos fazer
tabela de preços, organograma".
Ocupado em cooptar artistas
(como Fred Zero Quatro) para a
"Outracoisa", BNegão responde
às gargalhadas sobre a idéia de virar jornalista. "Temos coisas essenciais a escrever, mas tem que
pedir apoio e embasamento de
jornalista, senão vira loucura", ri.
Ele conta que chegou à nova
fórmula após experiências ruins
em gravadoras. "Fui gravando o
disco sozinho, a única dúvida era
se ia ser independente ou independentão."
Enumerando as críticas às grandes gravadoras, fala do preço do
CD ("acho um roubo"), da estrutura ("o único departamento que
existe é o de marketing"), do imediatismo ("banda nova não vendeu 10 mil cópias, pum, dançou").
Segundo Lobão, BNegão irá se
manter dono de sua gravação e
receberá R$ 1 por exemplar vendido. "Proporcionalmente, nem
Roberto Carlos ganharia isso",
propagandeia. O projeto conta
com um patrocínio "exíguo" da
Petrobras, nas palavras de Lobão.
Seu próximo disco, já gravado,
não sairá pelo esquema "Outracoisa". "Seria cabotino, uma espécie de jabá", afirma ele.
Crítica
Lobão tranquiliza quem receie
sua habitual metralhadora giratória, agora em formato jornalístico.
"A revista não tem a menor intenção de ser revanchista com ninguém. Se for dura é porque tem
que ser, não vou abusar desse espaço de maneira nenhuma".
Já no número 1, no entanto, ele
centra fogo contra a revelação
Maria Rita -e repete as críticas à
Folha. "Parece ser uma menina
talentosa mesmo, mas é vítima de
uma especulação mórbida, de necrofilia. É uma estética "emepebística" vetusta, varicosa, aquela história de diva, que torna a empreitada abastardada", dispara.
Mas dá o contraponto: "Torço
para que ela se liberte, porque isso
acontecendo todos nós teremos
que nos repensar".
Na mesma linha, BNegão também tenta relativizar. "Não é que a
gente é bonzinho e a gravadora é
má. Todo mundo colabora, é o
conjunto da obra", ri de novo.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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