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CINEMA/ESTRÉIAS
"SEGUNDA-FEIRA AO SOL"
Diretor espanhol faz seu primeiro longa de ficção
Aranoa desenha com precisão os sentimentos do desemprego
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
O desemprego como tragédia da Europa neoliberal
tem sido fartamente explorado
pelo cinema: já rendeu desde comédias tolas e divertidas (como
"Ou Tudo ou Nada", de Peter Cattaneo) a um dos melhores filmes
políticos recentes ("Rosetta", dos
irmãos Dardenne).
O tema, porém, ainda não havia
sido tão diretamente atacado como neste "Segunda-Feira ao Sol",
do espanhol Fernando Leon de
Aranoa, que se concentra no cotidiano de um grupo de homens
sem trabalho.
É um desafio e tanto para um cineasta estreante em ficção (Aranoa já tem alguma experiência como documentarista e roteirista)
narrar dias vazios e desesperançados, mas o diretor conseguiu
transformar essas características
na potência de seu filme.
"Segunda-Feira ao Sol" não é
um "road movie", mas tem um
caráter errante. Acompanha seus
personagens sem apontar para
eles qualquer possibilidade de
destino certo (feliz ou não). O tom
é absolutamente lacônico, mas a
falta de definição é parte dos objetivos de Aranoa.
A ação se passa em Vigo, cidade
litorânea da Galícia, na Espanha,
onde um estaleiro fechou suas
portas deixando milhares sem salário no fim do mês. Entre eles está Santa (Javier Bardem, quase irreconhecível e em interpretação
memorável), que ainda por cima
está sendo processado pela empresa por ter quebrado uma luminária durante um protesto.
Do grupo que todas as noites
frequenta o mesmo bar, Santa é o
único que ainda se permite arroubos de indignação. Os outros são
dominados por um terrível sentimento de impotência diante de algo que lhes parece incontornável.
A postura de Santa o põe em
conflito direto com o único dos
frequentadores do bar que ainda
guarda um emprego, como vigia
noturno. Mas Santa sempre perde
as discussões, irritando-se e partindo para ofensas pessoais.
"Segunda-Feira ao Sol" desenha
com precisão os sentimentos do
desemprego, a humilhação do
ócio involuntário e a exclusão de
homens ainda presos a um modelo de trabalho, que não souberam
se reinventar diante de uma nova
realidade (um dos personagens
toma lições de informática do filho). Mais terrível, porém, é dar-se conta da própria irrelevância
diante de um mundo que ignora
seus excluídos, e dar-se conta,
também, que tentar resistir a essa
situação tornou-se algo igualmente irrelevante.
Segunda-Feira ao Sol
Los Lunes Al Sol
Produção: Espanha/França/Itália, 2003
Direção: Fernando León de Aranoa
Com: Javier Bardem e Luis Tosar
Quando: a partir de hoje nos cines Frei
Caneca Unibanco Arteplex, Market Place
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