São Paulo, segunda-feira, 07 de novembro de 2005

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"Quem manda aqui sou eu", diz líder

DA ENVIADA AO RIO

"Ele [Cacá Diegues] é o diretor, mas quem manda aqui sou eu." Líder da Associação de Moradores do Canal do Anil desde 1988, Marlene Salles Lima, 55, não mede palavras. Com ninguém.
"Para trás!", "Não me vem com "171'!", "Não insiste!". Enquanto caminha pelo local onde Diegues prepara a filmagem de "O Maior Amor do Mundo", Marlene dá irrevogável "passa-fora" nos curiosos em ver o vaivém dos atores.
Apenas os moradores da rua que serve de cenário ao longa têm seu aval para rodear a equipe de cinema. Ela mesma diz que "nunca havia imaginado estar frente a frente com um cineasta".
Quando encarou Diegues, achou-o "um homem de personalidade forte, mas que sabe ser humilde". Decidiu colaborar para que o longa fosse filmado no Anil. Entusiasmadamente. "Nem dormi quando marcaram de vir."
Diretor e equipe buscavam no Anil um dos locais de filmagem. A favela, de 15.800 moradores, está livre do tráfico de drogas desde 1989, "quando o gerente da boca-de-fumo morreu", segundo Marlene, e ninguém o substituiu.
"Mas você quer achar a casa de carro?", perguntou a líder ao diretor. Era sua primeira crítica. Logo aceita. Diegues concordou em seguir a pé. "Eu pus minhas havaianas e já estava me sentindo uma atriz", lembra Marlene, que trabalha para uma fábrica da região e dirige uma creche.
Nos dez dias em que Diegues filmou no Anil, ela esteve por perto. "Esse filme tem que ir "pras cabeças", igual os "2 Filhos de Francisco'", diz. É também uma torcida particular. "Ninguém me tira a ilusão de que esta é a história da minha vida."
Negra como as atrizes principais (Taís Araújo e Léa Garcia), a capixaba Marlene vê paralelos da trama com seu passado de garota que chegou ao Rio aos 8 anos, foi doméstica, progrediu e vive um amor inusual há quatro décadas: "Ele foi meu irmão, pai, namorado, companheiro. Nunca nos casamos, mas vivemos juntos."

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