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"Quem manda aqui sou eu", diz líder
DA ENVIADA AO RIO
"Ele [Cacá Diegues] é o diretor,
mas quem manda aqui sou eu."
Líder da Associação de Moradores do Canal do Anil desde 1988,
Marlene Salles Lima, 55, não mede palavras. Com ninguém.
"Para trás!", "Não me vem com
"171'!", "Não insiste!". Enquanto
caminha pelo local onde Diegues
prepara a filmagem de "O Maior
Amor do Mundo", Marlene dá irrevogável "passa-fora" nos curiosos em ver o vaivém dos atores.
Apenas os moradores da rua
que serve de cenário ao longa têm
seu aval para rodear a equipe de
cinema. Ela mesma diz que "nunca havia imaginado estar frente a
frente com um cineasta".
Quando encarou Diegues,
achou-o "um homem de personalidade forte, mas que sabe ser humilde". Decidiu colaborar para
que o longa fosse filmado no Anil.
Entusiasmadamente. "Nem dormi quando marcaram de vir."
Diretor e equipe buscavam no
Anil um dos locais de filmagem. A
favela, de 15.800 moradores, está
livre do tráfico de drogas desde
1989, "quando o gerente da boca-de-fumo morreu", segundo Marlene, e ninguém o substituiu.
"Mas você quer achar a casa de
carro?", perguntou a líder ao diretor. Era sua primeira crítica. Logo
aceita. Diegues concordou em seguir a pé. "Eu pus minhas havaianas e já estava me sentindo uma
atriz", lembra Marlene, que trabalha para uma fábrica da região e
dirige uma creche.
Nos dez dias em que Diegues filmou no Anil, ela esteve por perto.
"Esse filme tem que ir "pras cabeças", igual os "2 Filhos de Francisco'", diz. É também uma torcida
particular. "Ninguém me tira a
ilusão de que esta é a história da
minha vida."
Negra como as atrizes principais (Taís Araújo e Léa Garcia), a
capixaba Marlene vê paralelos da
trama com seu passado de garota
que chegou ao Rio aos 8 anos, foi
doméstica, progrediu e vive um
amor inusual há quatro décadas:
"Ele foi meu irmão, pai, namorado, companheiro. Nunca nos casamos, mas vivemos juntos."
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