São Paulo, terça-feira, 07 de novembro de 2006

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No mundo da lua

Livro que ganha edição brasileira disseca "The Dark Side of the Moon", o clássico álbum do Pink Floyd lançado em 1973

Reprodução do livro "Dark Side of the Moon - Os Bastidores..."
Gilmour (esq.) e Waters conversam com Storm Thorgeson (centro), que desenhou a capa do disco


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais do que uma obra do Pink Floyd, "The Dark Side of the Moon" tornou-se uma referência pop. Ancorado por números que impressionam, por histórias saborosas e circunstâncias nem tão saborosas assim, o álbum ganhou vida própria. Neste mês, chega ao Brasil um livro que disseca e desmistifica o "disco do prisma".
"The Dark Side of the Moon - Os Bastidores da Obra-Prima do Pink Floyd" revela detalhes da gravação do álbum (lançado em 1973), da elaboração do conceito que iria unir as canções e de como os músicos se relacionavam no estúdio.
O crédito é de John Harris, autor do elogiado "The Last Party: Britpop, Blair and the Demise of English Rock", livro que relaciona o surgimento do britpop com a chegada ao poder no Reino Unido do New Labour de Tony Blair. Jornalista, Harris escreve para o jornal britânico "The Guardian" e para as revistas "Mojo" e "Q".
Lançada no Reino Unido no ano passado, a obra se apóia em entrevistas com os integrantes do Pink Floyd, como o baixista e vocalista Roger Waters e o guitarrista e vocalista David Gilmour, técnicos de estúdio (Alan Parsons e Chris Thomas), entre outros. É ilustrado com fotos inéditas da banda, inclusive da época em que ainda contava com o vocalista Syd Barrett (1946-2006).
O projeto, segundo Harris, surgiu a partir de entrevistas que havia feito, desde 2003, com Waters e outros músicos, para diversas publicações.
"Um editor me ligou perguntando se eu não queria reunir tudo num livro", ele conta, por e-mail. "Havia material inédito e eu entrevistei os músicos em outras ocasiões. Nick Mason [baterista do Floyd] me autorizou a utilizar imagens de seu arquivo pessoal. Todos ficaram felizes em falar do disco, especialmente Waters. Ele fala bastante e é bem articulado quando explica o que fez."

Semeando o sucesso
Antes de chegar ao início dos anos 70, quando o Pink Floyd começava a semear o que viria a se tornar "The Dark Side...", Harris repassa os anos iniciais da banda criada em 1964, em Cambridge, Inglaterra.
O primeiro disco, "The Piper at the Gates of Dawn" (67), traz um Pink Floyd mergulhado totalmente no rock psicodélico, com marcas da folk music norte-americana, por influência principalmente do guitarrista e vocalista Syd Barrett.
Incapacitado de continuar compondo de forma regular devido ao excesso de drogas, Barrett deixou o grupo logo depois, mas seu fantasma ainda perseguiria o Floyd nos álbuns seguintes, como " A Saucerful of Secrets" (68), "Ummagumma" (69), "Atom Heart Mother" (70), "Meddle" (71) e "Obscured by Clouds" (72).
Apenas com "The Dark Side..." o Pink Floyd exorcizou definitivamente qualquer influência de seu antigo mentor. "Entre 1968 e 1971, eles tiveram sérios problemas para encontrar uma identidade com a sombra de Syd", diz Harris.
"Eles produziram grandes álbuns, mas se você ler algumas entrevistas e olhar a maioria das letras, verá que eles não eram um grupo com uma idéia clara do que estavam fazendo.
Começaram a mudar com "Meddle" e a canção "Echoes" é como um ensaio para "Dark Side...". Mas é este disco que é o grande giro." O álbum começou a ser fecundado em 1971 e 1972, durante turnês pela Europa -e é curioso ler, no livro, os músicos, hoje milionários, lembrando a época em que tinham de viajar pelo Reino Unido numa van apertada.
"Dark Side..." traz todos os integrantes da banda colaborando na música, mas é de Waters o conceito que atravessa a composição das dez músicas ("Speak to Me"; Breathe"; On the Run"; "Time"/"Breathe Reprise"; "The Great Gig in the Sky"; "Money"; "Us and Them"; "Any Colour You Like"; "Brain Damage"; "Eclipse").
"É um álbum conceitual cujo tema central pode ser expressado de forma graciosa: o fato de a sociedade impedir os seres humanos de alcançarem todo o seu potencial -e de até levá-los à loucura- ao relacionar tudo a dinheiro, ambição e regras sociais. É uma idéia que tem raízes na teoria marxista e na infância de Waters, criado por uma mãe comunista. Além disso, há o argumento de que Waters queria lembrar de Syd, alguém levado à loucura por não se encaixar na sociedade."
No livro, Harris lembra de encontros de Waters com gente como Paul McCartney, relata sessões de gravações em Abbey Road e sugere uma reavaliação da relação do Pink Floyd com o rock e o punk. "É uma injustiça [o ódio dos punks em relação ao Floyd]. Johnny Rotten vestiu a camiseta "Eu odeio Pink Floyd" e o destino da banda estava selado. O interessante é que várias das idéias políticas de Waters têm muita coisa em comum com o punk, mas ele era membro da geração errada."

THE DARK SIDE OF THE MOON - OS BASTIDORES DA OBRA-PRIMA DO PINK FLOYD
Autor:
John Harris
Tradução: Roberto Muggiati
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 39 (nas livrarias a partir do próximo dia 21)


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