São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Stones passaram por exílio, diz autor

Robert Greenfield, que escreveu "Uma Temporada no Inferno com os Rolling Stones", comenta gravação de "Exile on Main St.'

Livro, que chega agora ao Brasil, "é sobre um momento em que os Stones viviam de uma maneira que ninguém mais vivia", diz escritor


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando do lançamento nos EUA, em 2006, "Uma Temporada no Inferno com os Rolling Stones" foi encarado como um livro sobre o clássico álbum "Exile on Main St.", lançado pelos Stones em 1972. Muita gente ficou decepcionada com o pouco de música que havia na obra e com o muito de drogas e "causos". Para o lançamento no Brasil, o autor, Robert Greenfield, corrige a expectativa: "O livro não é exatamente sobre o disco, é sobre um momento na história em que os Stones viviam de uma maneira que ninguém mais vivia".
Primeiro álbum duplo dos Stones, "Exile on Main St." é tido hoje como um ponto alto -se não o maior- na carreira de mais de 40 anos da banda.
O impressionante -e o que Greenfield se propõe a contar no livro- é como tal obra-prima pôde ter sido criada a partir de um ambiente caótico como o daquele início de anos 1970 que havia ao redor da banda.
"Exile on Main St." foi gravado em grande parte num porão da Villa Nellcote, uma mansão encravada na Riviera Francesa, sul do país, que havia sido alugada por Keith Richards -e que, segundo rumores, teria pertencido a nazistas durante a Segunda Guerra.
Foi um dos períodos mais pesados na pesada trajetória de Keith Richards com drogas -foi na Villa Nellcote que o consumo de heroína chegou a ingestões praticamente diárias.
Convidados iam e vinham com carregamentos de bebidas e de drogas variadas.
No final de 1971, a banda rumaria para os EUA, onde finalizaria a gravação do disco e, depois, realizaria uma turnê pelo país, iniciando uma nova fase.

 

FOLHA - O disco foi feito quando o rock passava por uma espécie de ressaca, após o fim do sonho hippie e das mortes de Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison. De que modo o álbum foi influenciado por esses acontecimentos?
ROBERT GREENFIELD
- Bem, Jim Morrison morreu em Paris de overdose de heroína, e alguns dos Stones usavam heroína na época. As mortes de Morrison, Joplin e Hendrix aconteceram em um período muito curto. Elas refletiam o que acontecia à época, mas o disco é um reflexo maior daquele tempo.

FOLHA - Algumas críticas feitas ao seu livro dizem que ele enfoca muito mais os acontecimentos ao redor dos Stones do que o disco em si. É impossível falar do disco sem entrar a fundo nos excessos que os músicos cometiam à época?
GREENFIELD
- Há outros livros sobre a música daquela época. E eu estive lá, eu vivi por algumas semanas naquela casa, para entrevistar Keith Richards para a "Rolling Stone". Não dá para separar a música da maneira como eles viviam. Eles estavam num exílio, pois haviam saído da Inglaterra e a França era um lugar distante do mundo deles. E é esse senso de deslocamento que dá direcionamento à música. Além disso, algumas das canções foram compostas anteriormente. Os discos anteriores dos Stones eram uma visão deles da América, da contracultura que havia ali; esse disco representa o próprio estilo de vida deles, que ninguém mais estava vivendo. "Exile" foi um disco transitório.

FOLHA - Keith Richards foi criativamente mais importante para o disco do que Mick Jagger?
GREENFIELD
- Sim. Esse foi o disco em que Keith Richards expressou para os outros integrantes dos Stones toda a sua importância. Uma coisa que não podemos esquecer é que esse disco foi gravado pouco tempo depois da morte de Brian Jones [ocorrida em 1969]... O disco foi gravado na casa de Keith na França; ele era o maior responsável pela música, enquanto Jagger se preocupava mais com as letras. Além disso, Jagger havia casado, tido filho, estava mais responsável, enquanto Richards continuava agindo como um fora-da-lei.

UMA TEMPORADA NO INFERNO COM OS ROLLING STONES
Autor: Robert Greenfield
Tradução: Diego Alfaro
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 39,90 (236 págs.)

O DISCO
Nome: "Exile on Main St."
Lançamento: maio de 1972
Músicas:
"Rocks Off" "Rip this Joint" "Shake Your Hips" "Casino Boogie" "Tumbling Dice" "Sweet Virginia" "Torn and Frayed" "Sweet Black Angel" "Loving Cup" "Happy" "Turd on the Run" "Ventilator Blues" "I Just Want to See His Face" "Let it Loose" "All Down the Line" "Stop Breaking Down" "Shine a Light" "Soul Survivor"

TRECHOS

Como escreveria Bill Wyman -o mais careta dos Stones, mesmo depois de começar a fumar haxixe todos os dias no sul da França-: "Em Nellcote, o ambiente era bizarro, certamente; aquilo fez com que "Satanic Majesties" [disco de 1967] parecesse organizado. Andy Johns [engenheiro de som] tentava gravar linhas de guitarra enquanto as pessoas comiam na cozinha. Era como um desses discos de festa dos anos 1960 em que todo mundo achava que tinha que se envolver. Esse caos não era nem um pouco facilitado pelo estilo de vida cada vez mais caótico de Keith e Anita [Pallenberg, mulher de Richards à época]. Era óbvio que as drogas eram o centro do problema. Independentemente do que você tenha ouvido falar sobre a relação criativa entre as drogas pesadas e a produção de discos de rock, esqueça. Pode acreditar em mim, são muito mais um obstáculo do que uma ajuda."

Todos os envolvidos na hierarquia dos Stones estão preocupados com o que está acontecendo no sul da França, o que parece ser confirmado por um telefonema feito nessa época pelo príncipe Rupert Loewenstein para June Shelley. Depois de procurar saber o que Shelley ouviu falar sobre as festas regadas a drogas em Nellcote, Rupert lhe pergunta se ela poderia fazer uma investigação para saber com exatidão o que se passou lá dentro. Em dezembro de 1971, pouco após a dura em Nellcote, a polícia de Cap Ferrat prende "dez jovens e dois norte-americanos" e os acusa de levarem haxixe e 50 g de heroína a Nellcote todas as semanas durante o verão. (...) Só então o jornal "The Times" noticia que "a polícia informou que Mick Jagger e outros três integrantes dos Rolling Stones foram acusados por uso ilegal de heroína e outros narcóticos. (...) "Três jovens franceses que forneciam 50 g de heroína por semana aos Stones e seus companheiros durante o verão do ano passado também foram presos e estão presentes na audiência."

Extraído de "Uma Temporada no Inferno com os Rolling Stones", de Robert Greenfield



Texto Anterior: Festival tem ainda debates e minicursos
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.