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Stones passaram por exílio, diz autor
Robert Greenfield, que escreveu "Uma Temporada no Inferno com os Rolling Stones", comenta gravação de "Exile on Main St.'
Livro, que chega agora ao
Brasil, "é sobre um momento
em que os Stones viviam de
uma maneira que ninguém
mais vivia", diz escritor
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando do lançamento nos
EUA, em 2006, "Uma Temporada no Inferno com os Rolling
Stones" foi encarado como um
livro sobre o clássico álbum
"Exile on Main St.", lançado pelos Stones em 1972. Muita gente ficou decepcionada com o
pouco de música que havia na
obra e com o muito de drogas e
"causos". Para o lançamento no
Brasil, o autor, Robert Greenfield, corrige a expectativa:
"O livro não é exatamente sobre o disco, é sobre um momento na história em que os Stones
viviam de uma maneira que
ninguém mais vivia".
Primeiro álbum duplo dos
Stones, "Exile on Main St." é tido hoje como um ponto alto
-se não o maior- na carreira
de mais de 40 anos da banda.
O impressionante -e o que
Greenfield se propõe a contar
no livro- é como tal obra-prima pôde ter sido criada a partir
de um ambiente caótico como o
daquele início de anos 1970 que
havia ao redor da banda.
"Exile on Main St." foi gravado em grande parte num porão
da Villa Nellcote, uma mansão
encravada na Riviera Francesa,
sul do país, que havia sido alugada por Keith Richards -e
que, segundo rumores, teria
pertencido a nazistas durante a
Segunda Guerra.
Foi um dos períodos mais pesados na pesada trajetória de
Keith Richards com drogas
-foi na Villa Nellcote que o
consumo de heroína chegou a
ingestões praticamente diárias.
Convidados iam e vinham com
carregamentos de bebidas e de
drogas variadas.
No final de 1971, a banda rumaria para os EUA, onde finalizaria a gravação do disco e, depois, realizaria uma turnê pelo
país, iniciando uma nova fase.
FOLHA - O disco foi feito quando o
rock passava por uma espécie de
ressaca, após o fim do sonho hippie
e das mortes de Jimi Hendrix, Janis
Joplin e Jim Morrison. De que modo
o álbum foi influenciado por esses
acontecimentos?
ROBERT GREENFIELD - Bem, Jim
Morrison morreu em Paris de
overdose de heroína, e alguns
dos Stones usavam heroína na
época. As mortes de Morrison,
Joplin e Hendrix aconteceram
em um período muito curto.
Elas refletiam o que acontecia à
época, mas o disco é um reflexo
maior daquele tempo.
FOLHA - Algumas críticas feitas ao
seu livro dizem que ele enfoca muito
mais os acontecimentos ao redor
dos Stones do que o disco em si. É
impossível falar do disco sem entrar
a fundo nos excessos que os músicos
cometiam à época?
GREENFIELD - Há outros livros
sobre a música daquela época.
E eu estive lá, eu vivi por algumas semanas naquela casa, para entrevistar Keith Richards
para a "Rolling Stone". Não dá
para separar a música da maneira como eles viviam. Eles estavam num exílio, pois haviam
saído da Inglaterra e a França
era um lugar distante do mundo deles. E é esse senso de deslocamento que dá direcionamento à música. Além disso, algumas das canções foram compostas anteriormente. Os discos anteriores dos Stones eram
uma visão deles da América, da
contracultura que havia ali; esse disco representa o próprio
estilo de vida deles, que ninguém mais estava vivendo.
"Exile" foi um disco transitório.
FOLHA - Keith Richards foi criativamente mais importante para o disco
do que Mick Jagger?
GREENFIELD - Sim. Esse foi o disco em que Keith Richards expressou para os outros integrantes dos Stones toda a sua
importância. Uma coisa que
não podemos esquecer é que
esse disco foi gravado pouco
tempo depois da morte de
Brian Jones [ocorrida em
1969]... O disco foi gravado na
casa de Keith na França; ele era
o maior responsável pela música, enquanto Jagger se preocupava mais com as letras. Além
disso, Jagger havia casado, tido
filho, estava mais responsável,
enquanto Richards continuava
agindo como um fora-da-lei.
UMA TEMPORADA NO INFERNO
COM OS ROLLING STONES
Autor: Robert Greenfield
Tradução: Diego Alfaro
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 39,90 (236 págs.)
O DISCO
Nome: "Exile on Main St."
Lançamento: maio de 1972
Músicas:
"Rocks Off"
"Rip this Joint"
"Shake Your Hips"
"Casino Boogie"
"Tumbling Dice"
"Sweet Virginia"
"Torn and Frayed"
"Sweet Black Angel"
"Loving Cup"
"Happy"
"Turd on the Run"
"Ventilator Blues"
"I Just Want to See His Face"
"Let it Loose"
"All Down the Line"
"Stop Breaking Down"
"Shine a Light"
"Soul Survivor"
TRECHOS
Como escreveria Bill
Wyman -o mais careta dos
Stones, mesmo depois de
começar a fumar haxixe todos
os dias no sul da França-:
"Em Nellcote, o ambiente era
bizarro, certamente; aquilo fez
com que "Satanic Majesties"
[disco de 1967] parecesse
organizado. Andy Johns
[engenheiro de som] tentava
gravar linhas de guitarra
enquanto as pessoas comiam
na cozinha. Era como um
desses discos de festa dos anos
1960 em que todo mundo
achava que tinha que se
envolver. Esse caos não era
nem um pouco facilitado pelo
estilo de vida cada vez mais
caótico de Keith e Anita
[Pallenberg, mulher de
Richards à época]. Era óbvio
que as drogas eram o centro
do problema.
Independentemente do que
você tenha ouvido falar sobre
a relação criativa entre as
drogas pesadas e a produção
de discos de rock, esqueça.
Pode acreditar em mim, são
muito mais um obstáculo do
que uma ajuda."
Todos os envolvidos na
hierarquia dos Stones estão
preocupados com o que está
acontecendo no sul da França,
o que parece ser confirmado
por um telefonema feito
nessa época pelo príncipe
Rupert Loewenstein para June
Shelley. Depois de procurar
saber o que Shelley ouviu falar
sobre as festas regadas a
drogas em Nellcote, Rupert
lhe pergunta se ela poderia
fazer uma investigação para
saber com exatidão o que se
passou lá dentro. Em
dezembro de 1971, pouco
após a dura em Nellcote, a
polícia de Cap Ferrat prende
"dez jovens e dois norte-americanos" e os acusa de
levarem haxixe e 50 g de
heroína a Nellcote todas as
semanas durante o verão. (...)
Só então o jornal "The Times"
noticia que "a polícia
informou que Mick Jagger e
outros três integrantes dos
Rolling Stones foram
acusados por uso ilegal de
heroína e outros narcóticos.
(...) "Três jovens franceses que
forneciam 50 g de heroína por
semana aos Stones e seus
companheiros durante o
verão do ano passado
também foram presos e estão
presentes na audiência."
Extraído de "Uma Temporada no Inferno
com os Rolling Stones",
de Robert Greenfield
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