São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2010

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Série recupera o amoralismo de Millôr

Programa concebido por Fernanda Torres estreia amanhã e reúne fábulas politicamente incorretas do autor

Relação da atriz com Millôr começou na infância, quando ela frequentava com os pais a casa do escritor

Daryan Dornelles/Folha Imagem
A atriz Fernanda Torres

MARCELO BORTOLOTI
DO RIO

Um homem caminha pelo deserto com seu fiel cachorro. Após dias sem se alimentar, mata o cão, assa-o numa fogueira e o devora. Depois da refeição, com a barriga cheia, começa a chorar: "Pobre do Luluzinho! Como ele adoraria roer esses ossos!".
O texto, de Millôr Fernandes, integra as "Fábulas Fabulosas", publicadas pela primeira vez em 1963. São alguns dos mais engenhosos textos do humorista, dramaturgo e escritor carioca. Seu resgate é uma iniciativa da atriz Fernanda Torres, que concebeu, corredigiu e protagoniza a série "Amoral da História", que estreia amanhã no canal Multishow.
O programa é um apanhado de fábulas nas quais Millôr subverte as lições de moral das histórias tradicionais, criando versões politicamente incorretas.
Na versão de "A Raposa e As Uvas", por exemplo, a raposa consegue finalmente alcançar as frutas. Mas, depois de prová-las, constata que estavam de fato verdes. Sua lição: "A frustração é uma forma de julgamento tão boa como qualquer outra".
O encontro entre Fernanda e Millôr não é fortuito. Quando criança, ela frequentava a casa dele ao lado dos pais, o diretor Fernando Torres, morto em 2008, e a atriz Fernanda Montenegro. Na adolescência, tornou-se sua fã incondicional.
Mais tarde, quando começou a receber comentários do humorista sobre suas colunas na imprensa, sentiu-se consagrada. "Era o amigo mais inteligente dos meus pais falando comigo diretamente", diz ela, que escreveu uma coluna para a Folha durante as eleições deste ano.

NECESSIDADE
A ideia de transportar "Fábulas Fabulosas" para a TV, segundo ela, teve duas motivações. Uma de ordem prática -os textos eram fáceis de converter em roteiro- e outra quase moral. "Vivemos numa época tão politicamente correta, tão tacanha, que resgatar essa inversão da moral típica do Millôr é uma necessidade", diz.
Os episódios, de 15 minutos cada um, reúnem de duas a três fábulas, intercaladas por aforismos de outro livro do escritor, "Millôr Definitivo: a Bíblia do Caos". É um genial apanhado de frases que não poupam ninguém: "Não sou um homem muito culto. Mas sempre tive o cuidado de me cercar de completos ignorantes".
Com essa matéria-prima, os textos adaptados por Renato Fagundes, com ajuda do diretor Vicente Kubrusly e de Fernanda Torres, dificilmente poderiam desandar.
Ao contrário de "Os Normais", em que a participação da atriz se restringiu ao papel de Vani, nas últimas incursões em TV e teatro ela ajudou no roteiro e deu palpites na direção, a exemplo do quadro "Bicho Homem", do "Fantástico".
Em "Amoral da História", o único parceiro em cena em quase todos os episódios é Carlos Miele -também ideia dela, que se lembrou do ator em razão de um disco que ouvia na infância, com textos de Millôr narrados por sua mãe, seu pai e Miele.
O restante do programa foi moldado pela falta de verba e pelo prazo curto. Os 20 episódios foram gravados em 22 dias. Parte do figurino foi retirado do guarda-roupa da atriz. As locações se restringiram a um galpão, com projeções de paisagens na parede.
Após a experiência independente, Fernanda volta à Globo para as gravações da série "Tapas e Beijos", ao lado de Andréa Beltrão, ainda sem data para começar. "O campo de trabalho para um ator vai se afunilando quando ele envelhece. É preciso buscar alternativas", diz a atriz, aos 45 anos.

NA TV

Amoral da História
Estreia do programa
QUANDO segunda, às 23h30, no Multishow
CLASSIFICAÇÃO não informada


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