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Livro é biografia de um atrapalhado
especial para a Folha
A megaexposição do humorista Jô Soares
atrapalha a leitura de seu novíssimo "O Homem Que Matou Getúlio Vargas"? É difícil evitar as aparições
do meeiro gordo e engraçado de
tantas noites de insônia e que agora é também biógrafo?
O sucesso de "O Xangô de Baker
Street", que vendeu um número
sem parâmetros no mercado, pode
ser creditado à indireta promoção
que o mesmo fazia em seu programa. O segundo livro, como todo
segundo livro, é a prova dos nove.
O sucesso sempre deixa a crítica
amarga. Muitos elementos conspiram contra o novo livro. Mas ele é
ótimo, original. Difícil encaixá-lo
num gênero conhecido. É uma
biografia sem ser de um personagem tolo, atrapalhado, obsessivo.
Jô não é bobo. Procurou se esbater, deixando intervenções para
seu programa, e tascou pau numa
narrativa cativante sobre os lapsos
de Dimitri Borja Korozec, o anarquista biografado, evitando as piadas fáceis. Dimitri nasceu na Bósnia com um dedo a mais nas mãos.
Teve a parte direita do saco extirpada na infância -para ser sempre de esquerda, segundo seu pai.
Em alguns momentos, há um
certo excesso de material pesquisado, um "enciclopedismo" que
dispersa. Mas, pouco a pouco, as
andanças e atropelos de Dimitri
vão envolvendo o leitor. O truque é
fazer com que o personagem da
ficção não reescreva a história.
Apenas testemunhe. Afinal, o que
passou é fato.
O autor não abre o cofre de seu
repertório imenso de piadas. Os
escorregões de Dimitri é que são
engraçados -como quando é enviado por Al Capone para subornar os jurados e, depois de escalar
as paredes do tribunal, invade a sala errada e suborna os que estão
julgando o caso de um acidente de
trânsito.
Em 1914, Dimitri quase assassina
o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro; a deformidade nas mãos o
atrapalha na hora de puxar o gatilho. Encontra-se num trem com a
espiã Mata Hari. Depois de uma
noite de amor, acaba entregando-a
sem querer às autoridades alemãs.
Em 1925, em Hollywood, figurante
da primeira produção de "Ben-Hur", atrapalha as filmagens colocando abaixo o caríssimo cenário.
Envolve-se com Al Capone.
(MRP)
˛
Livro: O Homem Que Matou Getúlio Vargas
Autor: Jô Soares
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: R$ 25 (342 págs.)
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