DA REPORTAGEM LOCAL

Os pianistas Miguel Proença e Maria Inês Guimarães disseram, em entrevista à Folha por telefone, que gravaram a "Sonata op. 9" da forma como lhes foi enviada pelo neto do compositor, Sérgio Nepomuceno Alvim Correia, responsável pelos documentos e pela preservação da obra do avô.
Maria Inês disse que os saltos na partitura apontados no estudo do pianista Luiz Guilherme Goldberg não existem no material que ela tem em mãos. "Não é possível haver inversão de páginas porque as falhas apontadas estão no meio da página do manuscrito que eu recebi do Sérgio."
A pianista disse ainda que o manuscrito que ela possui "não é fruto de um erro banal e, sim, de alguém que quis que a música fosse gravada assim".
O neto do compositor, no entanto, afirmou que existe uma única versão da sonata e reforçou que a música foi gravada com as páginas trocadas. "A sonata ficou mais de cem anos sem ser tocada. A versão correta é a de Goldberg, que constatou o erro e editou corretamente a obra."
Correia admite que houve uma falha humana no momento de arquivar e transcrever o manuscrito original. "Essa é a única hipótese plausível para o erro, e as dimensões das letras são diferentes", disse o neto de Nepomuceno.
Apesar de afirmar que houve um erro, Correia não culpa os pianistas por terem gravado a sonata errada. "Ninguém conhecia essa música. Ela foi praticamente tirada do baú para ser publicada. E, por ser desconhecida, perceber o erro pode ser difícil."
O pianista Proença também disse que gravou a sonata conforme a edição que Correia lhe enviou. "O culpado pelo erro é ele [Correia]. Eu segui o texto que me foi entregue como correto", disse.
Proença foi quem alertou Goldberg, em uma conversa informal, de que havia algo "esquisito" na obra. "Percebi que a partitura estava fraca musicalmente, mas não sabia o que era. A sonata tem um certo sentido, mas é como se a obra acabasse abruptamente. O intérprete não tem culpa disso."
O pianista frisou que gravou toda a obra de Nepomuceno com a aprovação de Correia. "Quero que isso seja levado para uma comissão de compositores para que o erro seja realmente provado. Se for o caso, eu gravo a música de novo", afirmou Proença. (FB)


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