São Paulo, quinta-feira, 07 de dezembro de 2006

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Bonassi afirma que diretor asiático não é conservador como brasileiros

DA REPORTAGEM LOCAL

"Plastic City" é "fundamentalmente um filme sobre como as máfias acontecem no Terceiro Mundo", afirma o roteirista Fernando Bonassi, que escreve o longa em parceria com o diretor chinês Yu Lik-Wai.
Que essa história seja dirigida no Brasil por um cineasta chinês "é o mais bacana", na avaliação do roteirista, já que "uma vocação realista que o cinema brasileiro possui se perde nas mãos de alguém como ele".
Na opinião de Bonassi, Lik-Wai "sabe que o fenômeno da degradação da periferia no capitalismo é o mesmo aqui e lá [na China]". É a adoção desse ponto de vista que torna o diretor chinês "respeitável" aos olhos do roteirista brasileiro. "Ele não veio aqui para tirar sarro", afirma Bonassi.

Submundo
Lik-Wai conta que não conhecia Bonassi pessoalmente quando seu nome foi sugerido para o filme. Antes de encontrá-lo, o cineasta chinês assistiu a "Carandiru" (Hector Babenco) e "Cazuza " (Sandra Werneck e Walter Carvalho), ambos roteirizados por Bonassi.
Após as primeiras conversas com o roteirista, Lik-Wai achou-o "uma ótima escolha para o filme", por seu "conhecimento e sensibilidade para histórias e pessoas do submundo".
Bonassi, por sua vez, elogia Lik-Wai, ao mesmo tempo em que critica os cineastas brasileiros. "Jamais fui desafiado assim por um diretor no Brasil. Ele é um cara que escolhe sempre o mais esquisito e descarta o que é típico", afirma.
Para o roteirista, "o cinema brasileiro é muito conservador, do ponto de vista moral e estético". Citando o que classifica como a superioridade do cinema argentino sobre o brasileiro, Bonassi diz: "A gente sabe fazer direito, mas não ousa. Daria os meus braços para escrever para um argentino".
No caso de "Plastic City", o roteirista diz que o grande desafio será evitar "fazer um filme cosmopolita demais, leviano". A trama da máfia econômica no filme terá uma correlação com a história recente do Brasil.
O personagem que cede o lugar na organização para a nova geração criminosa fará uma viagem até o Oiapoque (AP). A área de fronteira "tem uma conexão política e emocional com o passado do personagem, que prospectava ouro no início dos anos 80, no momento da anistia", conta o roteirista.
No retorno ao Oiapoque, "onde espera reencontrar o paraíso pessoal, ele depara com moleques jogando futebol com tênis Nike", afirma.
Atento ao potencial mercado que a China representa, Bonassi diz que, se ele e Lik-Wai conseguirem "achar uma chave que converse com brasileiros e chineses ao mesmo tempo", terão "chutado para o gol". (SA)


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