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Bonassi afirma que diretor asiático não é conservador como brasileiros
DA REPORTAGEM LOCAL
"Plastic City" é "fundamentalmente um filme sobre como
as máfias acontecem no Terceiro Mundo", afirma o roteirista
Fernando Bonassi, que escreve
o longa em parceria com o diretor chinês Yu Lik-Wai.
Que essa história seja dirigida no Brasil por um cineasta
chinês "é o mais bacana", na
avaliação do roteirista, já que
"uma vocação realista que o cinema brasileiro possui se perde
nas mãos de alguém como ele".
Na opinião de Bonassi, Lik-Wai "sabe que o fenômeno da
degradação da periferia no capitalismo é o mesmo aqui e lá
[na China]". É a adoção desse
ponto de vista que torna o diretor chinês "respeitável" aos
olhos do roteirista brasileiro.
"Ele não veio aqui para tirar
sarro", afirma Bonassi.
Submundo
Lik-Wai conta que não conhecia Bonassi pessoalmente
quando seu nome foi sugerido
para o filme. Antes de encontrá-lo, o cineasta chinês assistiu
a "Carandiru" (Hector Babenco) e "Cazuza " (Sandra Werneck e Walter Carvalho), ambos roteirizados por Bonassi.
Após as primeiras conversas
com o roteirista, Lik-Wai
achou-o "uma ótima escolha
para o filme", por seu "conhecimento e sensibilidade para histórias e pessoas do submundo".
Bonassi, por sua vez, elogia
Lik-Wai, ao mesmo tempo em
que critica os cineastas brasileiros. "Jamais fui desafiado assim por um diretor no Brasil.
Ele é um cara que escolhe sempre o mais esquisito e descarta
o que é típico", afirma.
Para o roteirista, "o cinema
brasileiro é muito conservador,
do ponto de vista moral e estético". Citando o que classifica
como a superioridade do cinema argentino sobre o brasileiro, Bonassi diz: "A gente sabe
fazer direito, mas não ousa. Daria os meus braços para escrever para um argentino".
No caso de "Plastic City", o
roteirista diz que o grande desafio será evitar "fazer um filme
cosmopolita demais, leviano".
A trama da máfia econômica no
filme terá uma correlação com
a história recente do Brasil.
O personagem que cede o lugar na organização para a nova
geração criminosa fará uma
viagem até o Oiapoque (AP). A
área de fronteira "tem uma conexão política e emocional com
o passado do personagem, que
prospectava ouro no início dos
anos 80, no momento da anistia", conta o roteirista.
No retorno ao Oiapoque,
"onde espera reencontrar o paraíso pessoal, ele depara com
moleques jogando futebol com
tênis Nike", afirma.
Atento ao potencial mercado
que a China representa, Bonassi diz que, se ele e Lik-Wai conseguirem "achar uma chave
que converse com brasileiros e
chineses ao mesmo tempo", terão "chutado para o gol".
(SA)
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