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crítica
Distante do seu melhor, diretor faz cinema íntegro
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
As duas horas de "O
Sobrevivente" podem ser divididas em
duas partes quase idênticas.
Na primeira, o tenente Dieter Ziegler, piloto da Marinha dos EUA no Vietnã, é designado para missão no Laos.
Estamos em 1965, a guerra
no Vietnã ainda não tem a
extensão que iria adquirir, e
a missão de bombardear alvos estratégicos no Laos é
absolutamente confidencial.
Ziegler tem o avião derrubado, é feito prisioneiro pelos
vietcongues, dos quais consegue escapar pela selva.
Não há muito segredo sobre o fim deste filme: sendo
baseado na autobiografia de
Ziegler, é evidente que ele
consegue escapar. A questão
não é essa, e sim: como?
Werner Herzog, que se notabilizou como um dos mais
importantes cineastas alemães dos anos 60 e 70, ultimamente tem se destacado
como documentarista. E o
documentário, como se sabe,
exige menos de um cineasta
do que a ficção: é questão
apenas de saber deixar o
mundo vir a si. Não é tão simples quanto parece, mas é
mais fácil do que ir ao encontro do mundo, transformá-lo
e torná-lo digno de crédito.
Em "O Sobrevivente", a
primeira metade é apenas
sofrível. Não pela modéstia
dos efeitos especiais. É que
Herzog não parece se interessar pelos aspectos que
precedem a fuga: o encontro
com outros prisioneiros, as
violências a que são submetidos, a permanente ameaça
de morte e a maneira como,
aos poucos, Ziegler se impõe
como líder aos colegas e comanda os planos de fuga.
A segunda metade é de outra ordem. É questão de dois
homens -Ziegler (Christian
Bale) e seu colega Duane
(Steve Zahn)- e uma selva. A
selva e suas adversidades. A
natureza com a qual esses
homens se defrontam a cada
instante para sobreviver, até
que, por fim, possamos observar talvez o melhor do filme: a transformação de Ziegler em um homem-natureza -uma espécie de identificação completa, na maneira
de se ocultar, se alimentar, se
proteger dos perigos.
Nesses momentos, parece
que estamos de novo diante
do Herzog dos velhos tempos, embora num mundo diferente: em que o controle
sobre a produção parece relativo, em que sofre com a
iluminação óbvia e mesmo
com a necessidade de seguir
um roteiro nem sempre favorável. Enfrentando (em
selvas da Tailândia) adversidades, Herzog não cede a
tentações a que raramente
escapam os cineastas, como
o sentimentalismo. "O Sobrevivente" não será nunca
seu melhor filme, mas é de
uma integridade formidável.
O SOBREVIVENTE
Diretor: Werner Herzog
Com: Christian Bale e Steve Zahn
Produção: EUA, 2006
Onde: a partir de hoje, nos cines
Bristol, Anália Franco e circuito
Avaliação: bom
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