São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

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Crítica/"Raising Sand"

Plant brilha em duetos que sombra do Zeppelin deverá esconder do mundo

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Na próxima segunda, o planeta-música estará com seus ouvidos voltados para a reunião do Led Zeppelin, com os originais Robert Plant, Jimmy Page e John Paul Jones, mais o legítimo herdeiro de John Bonham, Jason, na O2 Arena, em Londres.
Como não se falou em outra coisa neste ano, é provável que "Raising Sand" passe mais despercebido do que deveria, mesmo que envergado pela legendária voz de Plant.
Afinal, diante da possibilidade de um parque temático itinerante do Zeppelin rodando o mundo, quem vai querer ouvir seus duetos com a cantora folk Alison Krauss, 36, uma das responsáveis pela renascença nos EUA do bluegrass, um dos pilares do country e do rock?
Uma pena, porque o álbum é belíssimo, similar em proposta a um ótimo trabalho de 2006, "All the Roadrunning" feito por outro britânico de porte, Mark Knopfler (Dire Straits) e uma cantora de raiz, Emmylou Harris. A única diferença é que a dupla de agora não se dedica a canções inéditas.
Plant e Krauss se debruçam sobre um repertório vasto, dos Everly Brothers ("Gone Gone Gone") a Tom Waits ("Trampled Rose") com delicadeza e inspiração e, mesmo que não se espere catarse, há aqui e ali ecos zeppelinianos interessantíssimos.
Maduro, Robert Plant se coloca à disposição desse repertório com um senso de direção fantástico. Casa perfeitamente sua voz com a de sua parceira em duetos belíssimos, como "Killing the Blues", de Roly Jon Salley, e tem um de seus melhores momentos justamente quando faz apenas backing vocal para o solo de Krauss, em "Through the Morning, Through the Night", de Gene Clark. Comove.
E assim, como um velho lobo do rock, sabe o momento certo para uivar. Em "Gone Gone Gone" e em "Fortune Teller", ambas dos anos 50 e 60, consegue achar o ponto certo para lembrar em certa medida seus dias de "Whole Lotta Love".
A produção de T Bone Burnett é correta, sem grandes ousadias no gênero. Cria um playground perfeito para as duas vozes, colocando slide guitars e banjos em espaços econômicos, adornados pela bateria de Jay Bellerose, contida e discretíssima. Mas, sem dúvida, um dos melhores momentos do disco é a soturna "Nothin'", em que uma guitarra bem mais pesada prepara o campo para a interpretação fatalista de Plant ("Dor e solidão/ Essas são as coisas preciosas/ E as únicas palavras dignas de serem lembradas") e a sóbria rabeca de Krauss.
Ou seja, é disco para quartos e carros em vez de arenas superlotadas. Um álbum para se guardar e ouvir sem pressa, depois que todo o frenesi do dirigível de chumbo passar.


RAISING SAND
Artistas:
Robert Plant e Alison Krauss
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 29
Avaliação: ótimo


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