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Crítica/"Raising Sand"
Plant brilha em duetos que sombra do Zeppelin deverá esconder do mundo
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Na próxima segunda, o
planeta-música estará
com seus ouvidos voltados para a reunião do Led
Zeppelin, com os originais Robert Plant, Jimmy Page e John
Paul Jones, mais o legítimo
herdeiro de John Bonham, Jason, na O2 Arena, em Londres.
Como não se falou em outra
coisa neste ano, é provável que
"Raising Sand" passe mais despercebido do que deveria, mesmo que envergado pela legendária voz de Plant.
Afinal, diante da possibilidade de um parque temático itinerante do
Zeppelin rodando o mundo,
quem vai querer ouvir seus
duetos com a cantora folk Alison Krauss, 36, uma das responsáveis pela renascença nos
EUA do bluegrass, um dos pilares do country e do rock?
Uma pena, porque o álbum é
belíssimo, similar em proposta
a um ótimo trabalho de 2006,
"All the Roadrunning" feito por
outro britânico de porte, Mark
Knopfler (Dire Straits) e uma
cantora de raiz, Emmylou Harris. A única diferença é que a
dupla de agora não se dedica a
canções inéditas.
Plant e Krauss se debruçam
sobre um repertório vasto, dos
Everly Brothers ("Gone Gone
Gone") a Tom Waits ("Trampled Rose") com delicadeza e
inspiração e, mesmo que não se
espere catarse, há aqui e ali
ecos zeppelinianos interessantíssimos.
Maduro, Robert Plant se coloca à disposição desse repertório com um senso de direção
fantástico. Casa perfeitamente
sua voz com a de sua parceira
em duetos belíssimos, como
"Killing the Blues", de Roly Jon
Salley, e tem um de seus melhores momentos justamente
quando faz apenas backing vocal para o solo de Krauss, em
"Through the Morning,
Through the Night", de Gene
Clark. Comove.
E assim, como um velho lobo
do rock, sabe o momento certo
para uivar. Em "Gone Gone Gone" e em "Fortune Teller", ambas dos anos 50 e 60, consegue
achar o ponto certo para lembrar em certa medida seus dias
de "Whole Lotta Love".
A produção de T Bone Burnett é correta, sem grandes ousadias no gênero. Cria um playground perfeito para as duas
vozes, colocando slide guitars e
banjos em espaços econômicos, adornados pela bateria de
Jay Bellerose, contida e discretíssima.
Mas, sem dúvida, um dos melhores momentos do disco é a
soturna "Nothin'", em que uma
guitarra bem mais pesada prepara o campo para a interpretação fatalista de Plant ("Dor e
solidão/ Essas são as coisas
preciosas/ E as únicas palavras
dignas de serem lembradas") e
a sóbria rabeca de Krauss.
Ou seja, é disco para quartos
e carros em vez de arenas superlotadas. Um álbum para se
guardar e ouvir sem pressa, depois que todo o frenesi do dirigível de chumbo passar.
RAISING SAND
Artistas: Robert Plant e Alison Krauss
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 29
Avaliação: ótimo
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