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Padre já vendeu 1,5 milhão de CDs
Com 11 CDs lançados e o primeiro DVD a caminho, o mineiro Fábio de Melo, 37, diz que nunca estudou música: "É só intuição'
"O celibato está a meu favor, não vejo restrição", diz ele, que lançou em setembro seu CD mais recente, "Vida", com tiragem de 500 mil
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Em três meses, ele vendeu
500 mil CDs, mas não é nenhum astro de ritmos pop. É
padre, faz música com elementos religiosos, critica a Teologia
da Libertação, defende o celibato como sua opção de vida e
relata já ter tido seus "namorinhos" antes da ordenação. Ele é
o mineiro Fábio de Melo, 37,
para quem a música e o sacerdócio são indissociáveis.
"Eu não consigo dissociar a
minha vida da música", diz, para em seguida completar: "Para
mim, ser padre é, antes de tudo,
um jeito de ser. Tudo aquilo
que eu faço é um desdobramento de ser padre".
Dessa mistura de fé, música e
devoção, surgiram 11 CDs, que
venderam 1,5 milhão de cópias.
Lançado em setembro pela
LGK/Som Livre, o último, "Vida", tem tiragem de 500 mil.
Curiosamente, o padre Fábio
de Melo, que toca violão, diz
que nunca estudou música. "É
só intuição mesmo."
Mas música e fé tiveram origem familiar. Seu pai "tocava
moda de viola" e em sua casa
ouvia-se Tom, Chico e Caetano.
Ao mesmo tempo, sua família
cultivava "uma vida cristã muito ativa" em Formiga (MG).
A banda do seminário
O gosto pela música cresceu
quando entrou no seminário,
aos 16 anos, em Lavras (MG).
Formou com outros seminaristas uma banda que "revolucionou o seminário" e animava as
missas. "Isso me incentivou
muito a acreditar que o trabalho de padre também poderia
estar diretamente ligado a um
trabalho musical."
No seminário, o padre Fábio
não era interno. Estudou em
colégios e faculdade abertos à
comunidade e se ordenou aos
31 anos. É dessa época, antes da
ordenação, que ele fala com a
maior naturalidade de suas experiências amorosas.
"Tive meus namorinhos, sim.
Não tem como amadurecer
uma opção pelo celibato sem
que você tenha se apaixonado
também. Eu não fiquei padre
porque não tive opções. Poderia ter construído uma família,
mas não foi um desejo meu. Namorei, paquerei muito. Isso faz
parte da vida."
Hoje em dia, ele se diz um celibatário convicto e relata que o
assédio que sofre por parte dos
fãs é muito mais "virtual [por e-mail] do que real".
"O celibato está a meu favor.
Eu não o vejo como uma restrição, eu o vejo como uma possibilidade. Fazer o trabalho que
eu faço, levar a vida que eu levo,
só é possível sendo como eu
sou, assumindo o celibato como uma proposta de vida."
O padre-cantor acredita, porém, que a Igreja Católica, no
futuro, ordenará homens casados -e o celibato será uma opção que ele não abrirá mão.
Sobre outra questão polêmica da Igreja, a Teologia da Libertação, ele é crítico.
"Ela teve uma contribuição
muito grande por abrir um espaço de reflexão, mas, por outro lado, banalizou muito a dimensão do rito e daquilo que é
sagrado. Não precisa disso. A
vida é sagrada."
Com mestrado em antropologia teológica e ex-professor
universitário, o padre diz: "O
Evangelho já me serve. Não
preciso de outra ideologia. A
postura de Jesus me orienta".
Ele também rejeita o rótulo
de conservador e afirma que o
maior desafio da Igreja Católica
no Brasil é melhorar sua comunicação: "Temos de qualificar a
vida ritual. Dar mais beleza e
alegria às nossas celebrações. O
rito é muito mecânico".
É algo a que ele se dedica em
seu programa semanal de TV
na Canção Nova, em seus livros
e em seus shows, cuja renda
(excluídos os custos) afirma ser
revertida para obras sociais da
Igreja ou de outras instituições.
Fará isso também numa nova mídia: seu primeiro DVD será gravado mês que vem no Rio
de Janeiro, com renda destinada parcialmente à Sociedade
Viva Cazuza e a outra instituição vinculada à Igreja.
O segredo do sucesso, ele
conta, está em falar de modo
simples ao público. "Faço questão de evangelizar a partir de
questões cotidianas. Esse era o
fascínio de Jesus. Ele falava de
joio, de trigo."
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