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O futuro chegou antes
Empresas brasileiras correm para se adaptar aos livros digitais, novidade que se concretizou mais rápido do que o esperado
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi como um futuro inevitável, porém distante, que editores e livreiros falaram ao longo
de todo o ano sobre chegada da
revolução digital de livros ao
Brasil. Mas os últimos avanços
atropelaram todas as expectativas, e agora as empresas do país
correm para tentar se adaptar.
Neste mês, começa a funcionar a primeira e-bookstore brasileira a oferecer o seu próprio
leitor eletrônico de livros. A
Ediouro promete, em janeiro,
passar a lançar todos os seus títulos nos formatos papel e digital. Em março, a livraria Saraiva
deve pôr no ar um ambicioso
sistema de download de títulos,
um tipo de iTunes dos livros.
São ao menos três iniciativas
tupiniquins que tentam espaço
num mercado em que os primeiros passos foram dados pelas americanas Google (com o
plano de expansão da digitalização de livros pelo Google
Books) e Amazon (com a venda
do leitor Kindle no Brasil).
E são ações que, é claro, ainda
encontram barreiras. O primeiro lançamento da Ediouro em
e-book -"O Seminarista", de
Rubem Fonseca, há um mês-
deixou usuários desorientados
com atrasos de dias na chegada
do livro eletrônico após a compra. Ela deveria ser imediata.
O livro ainda não pode ser
comprado pela Amazon, por
pendências no contrato. Pode
ser baixado pela loja virtual da
editora (www.lojasingular.com.br), pelo www.smashwords.com e pelo iTunes.
Newton Neto, diretor de tecnologia e mídias digitais da
Ediouro, diz que vende de 10 a
15 exemplares do formato eletrônico por dia -número expressivo, mas "muitíssimo inferior" à venda em papel.
Caso passe mesmo a lançar
todos os livros nos dois formatos em janeiro, a Ediouro será a
editora nacional mais avançada
nesse quesito. "Não fazemos
tudo no nosso quintal, temos
parcerias com empresas estrangeiras", diz Neto.
Parceria
Anunciada como a primeira
e-bookstore brasileira, com estreia marcada para 15/12, a Gato Sabido também tem parceria
com uma empresa de outro
país, a britânica Cool-er. Foi de
lá que o economista carioca
Carlos Eduardo Ernanny trouxe o leitor eletrônico que será
usado pela loja. Há um ano envolvido no projeto,
diz já ter investido
R$ 800 mil nele.
O leitor Cool-er é
mais simples que o
Kindle -o aparelho
britânico não tem
conexão sem fio, como o americano-,
mas custa menos: R$
750, contra os mais
de R$ 1.000 com que o
Kindle chega ao Brasil, incluídas as taxas.
O desafio da loja será
conseguir conteúdo
com as editoras. Ernanny diz que já tem o
aval de "três grandes escritores brasileiros" e está em
conversas com a Companhia
das Letras, a Objetiva e outras.
A única grande confirmada é a
Zahar. No dia 15, quando a loja
iniciar as vendas, terá da editora apenas três títulos: "Shakespeare e a Economia", de Gustavo Franco e Henry Farnam,
"Freud e o Inconsciente", de
Luiz Alfredo Garcia-Roza, e
"Morreu na Contramão", de
Arthur Dapieve.
Mariana Zahar, diretora-executiva da editora, diz que a
meta é que até março 300 títulos estejam disponíveis para
venda digital. Não só na Gato
Sabido. "Estamos conversando
com a Amazon e outras empresas. É zero exclusividade. Livrarias brasileiras também devem lançar logo suas próprias
e-bookstores", diz Mariana.
O maior projeto nesse sentido é o da Saraiva. O diretor presidente da livraria, Marcílio
Pousada, diz só que vai "entrar
no mercado de livro digital de
uma maneira muito boa, como
fizemos com o sistema de download de vídeos, em maio".
A Folha apurou que o sistema foi apresentado a ao menos
seis editoras, incluindo a Objetiva, a Companhia das Letras e
a Record, e que o lançamento
deve ocorrer em março -data
que Pousada não confirma.
Trata-se de um programa que o
usuário instalará no computador e que permitirá o download
para Kindle, iPhone e outros.
Para as editoras, a maior dificuldade é atualizar os contratos com autores para incluir os
direitos digitais. Sorte de editoras como a Intrínseca, que tem
só 50 títulos no catálogo; azar
de outras como a Record, com
mais de 5.000 -para quem a
conversão para o mundo digital
será bem mais trabalhosa.
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