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Glicério "esconde" obra de Pennacchi
Artista do grupo Santa Helena que passa por revisão de obra tem um dos principais trabalhos em igreja no bairro
Paróquia Nossa Senhora da Paz, que exibe estátuas de Emendabili, tem missas em italiano e em espanhol e atendimento ao imigrante
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Jesus nos chama. Vinde
adoremos." Essa é uma das
poucas inscrições em português espalhadas pelas paredes
da igreja Nossa Senhora da Paz,
encravada no Glicério, região
central de São Paulo.
Frases em latim são a maioria nas superfícies de mármore.
Sobrenomes de famílias italianas estão gravados em numerosas dedicatórias nas paredes da
igreja, erigida a duras penas na
década de 40 e que é um refúgio
quase isolado na degradada
paisagem do bairro, espremido
entre a Liberdade, o Brás e o
início da Radial Leste.
A origem italiana não é a único peculiaridade do templo. Figuras de santos e fiéis católicos
de grandes dimensões, retratados em afrescos de cores opacas, impressionam o visitante.
As pinturas são de autoria de
Fulvio Pennacchi (1905-1992),
artista ítalo-brasileiro nascido
na Toscana, ligado ao grupo
Santa Helena -de nomes como
Volpi, Rebolo e Graciano- e
que nos últimos anos passa por
uma revisão de obra.
Um livro que acaba de ser
lançado é mais um indicativo
do interesse maior sobre o artista. Em 2006, retrospectiva
na Pinacoteca do Estado, com
curadoria de Tadeu Chiarelli,
também jogou novas luzes sobre "o maior muralista do Brasil", como destacou Pietro Maria Bardi (1900-1999), decano
do Masp, em texto de apresentação de mostra de 1973.
"Acho que essa redescoberta
tem a ver com a obra variada de
Pennacchi", avalia Valerio Antonio Pennacchi, autor de "Fulvio Pennacchi - Seu Tempo,
Seu Percurso", volume de 264
páginas sobre o artista nascido
na pequena Villa Collemandina, lugarejo com menos de
2.000 habitantes.
"Mas sempre houve interesse sobre sua trajetória. Nos
anos 70, por exemplo, Bardi
impressionou a todos com uma
retrospectiva no Masp", conta
ele, que diz ser "parente distante" do artista.
Refúgio
Os afrescos de Pennacchi, até
hoje em bom estado de conservação, foram feitos em diversas
etapas durante os anos 40. Estátuas de Galileo Emendabili
(1898-1974), artista do Obelisco do Ibirapuera, de 1954, ornam o conjunto.
"As comunidades que frequentam o espaço ajudam a
cuidar [das obras]", diz o padre
Lirio Berwanger. "E aqui sempre houve uma vocação para
acolher os imigrantes. A ordem
dos missionários de São Carlos
[responsável pela paróquia] foi
criada para dar tal amparo."
Berwanger chama a atenção
para o caráter "internacional"
da igreja, que celebra missas
em italiano, em português e em
espanhol, cada uma dedicada a
públicos cativos do espaço.
As missas em três línguas, segundo Berwanger, têm em média 350 fiéis a cada celebração.
Ao lado da igreja, funciona o
Centro Pastoral do Migrante,
que ajuda comunidades de diversos países; antes, eram da
Europa; hoje, especialmente de
sul-americanos.
Essa presença hispano-americana é evidente na igreja.
Obras sacras de Pennacchi,
imagens da Virgem de Copacabana, de Nossa Senhora de
Guadalupe e da Virgem de Luján, entre outras, são exibidas
junto das respectivas bandeiras
dos países onde são padroeiras
-Bolívia, México e Argentina,
respectivamente.
No mural de avisos, um pôster anuncia a Marcha dos Imigrantes, que acontecerá no dia
13 de dezembro na região da Sé.
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