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TERRA DE CAUBÓIS
Falta de salas em cidades do interior obriga cinéfilos a se deslocarem para centros urbanos
Pecuarista viaja 8 horas para ver filme
da Reportagem Local
Foi-se o tempo em que o cinema
era uma das opções de entretenimento mais baratas do país. Pelo
menos para o estudante Fabrício
Cesar Lopes Brizola, 18, que gasta
cerca de R$ 20 para assistir a uma
sessão mais próxima de sua casa.
Brizola mora em São Simão
(285 km ao norte de SP), onde
não existe cinema. Fã de filmes de
aventura, ele enfrenta uma verdadeira maratona para assisti-los
em Ribeirão Preto, que fica a 50
quilômetros de sua cidade.
Além do gasto com a gasolina,
ele ainda paga pedágio para chegar, depois de meia hora, às salas
de Ribeirão. Lá, desembolsa mais
R$ 8 pelo ingresso. "Está ficando
cada vez mais difícil. O jeito é rachar com os amigos", afirma.
Mesmo ligada ao mundo
country, a pecuarista Flávia Medeiros Penachin, 39, de Presidente Prudente (558 km a oeste de
São Paulo), diz "detestar" rodeios.
Na sua cidade há salas em um
multiplex -voltadas para o chamado "circuitão"-, mas Penachin enfrenta seis horas e meia de
carro ou até oito horas de ônibus
para assistir aos seus filmes prediletos em São Paulo.
"Aproveito e acabo conciliando
as viagens com outras coisas. Esperar sair em vídeo é a última opção", diz a pecuarista, que adora
os filmes do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. "Por aqui, os filmes dele não chegam", reclama.
Responsável pela área cultural e
pela organização do rodeio de
Barra do Chapéu, o secretário de
Educação do município, Edgard
Batista de Lima, 49, já não lembra
mais o ano em que foi pela última
vez ao cinema.
"Foi na década de 70. Vi o filme
"Estrada da Vida", com Milionário
e José Rico", conta Lima.
Barra do Chapéu, segundo Lima, fica a mais de 200 quilômetros do cinema mais próximo, em
Sorocaba (87 km a oeste de SP). A
cidade não tem videolocadoras. A
mais próxima fica em Apiaí, a 28
quilômetros.
Segundo o Sindicato dos Distribuidores do RJ, São Paulo já teve
quase 1.300 cinemas, nos anos 70.
Mais de 800 viraram igrejas, bancos ou bingos. Hoje, o número de
salas tende a crescer, nos chamados multiplex, mas apenas em
grandes cidades.
(DANIEL CASTRO e ROBERTO DE OLIVEIRA)
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