|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Violetas de Março"
recria a Berlim de 1936
EDSON FRANCO
Editor interino de Suplementos
A literatura noir
nunca deu mole aos
detetives particulares. Mas nenhum
deles sofreu tanto
quanto Bernie
Gunther, personagem criado pelo
irlandês Philip Kerr, 43, que tem o
seu "Violetas de Março" lançado
no Brasil pela editora Record.
O livro é o primeiro volume da
trilogia "Berlim Noir", completada pelos romances policiais "The
Pale Criminal" e "A German Requiem", ainda inéditos no país.
Em "Violetas de Março", o detetive Gunther enfrenta as "armadilhas noir" de praxe: ambientes asfixiantes e enfumaçados, amigos e
inimigos em ambos os lados da
lei, mulheres armadas com genitálias calibre 38.
Essas características sintetizam
todas as possíveis influências dos
"papas" do gênero: Raymond
Chandler (1888-1959) e Dashiell
Hammett (1894-1961).
A coisa melhora bastante justamente quando Philip Kerr foge
dessas influências. Ele não usa as
metáforas célebres do gênero.
Não há no romance, por exemplo,
homens desarrumados que parecem ter confeccionado o nó da
gravata com um alicate.
Em vez disso, há um discurso
direto, enxuto e, sobretudo, dono
de um senso de humor cáustico.
Mas "Violetas de Março" mostra
o que tem de melhor no seu pano
de fundo. A cidade é Berlim, o
ano, 1936.
Nessa cidade que aguarda o início da Olimpíada e que assiste ao
crescimento do nazismo, Gunther é contratado por um magnata para encontrar um colar roubado do apartamento da filha, devidamente incinerada ao lado do
marido, um oficial nazista.
Desviar de balas e se recuperar
de pancadas na cabeça são as tarefas menos complicadas para o detetive criado por Kerr. O mais difícil é solucionar um caso sob os
olhos atentos da Gestapo.
Para ajudá-lo, há alguns amigos
judeus bem-informados e policiais divididos entre o dever de
ofício e a ética. Apesar de algumas
demonstrações de antipatia pelo
nazismo, Gunther é um alemão
típico. Ao mesmo tempo em que
se queixa dos excessos violentos
da SS, faz a saudação nazista sempre que a conveniência ordena.
Como todo bom detetive, Gunther é dotado de um raciocínio lógico preciso, mas não o suficiente
para coser todos os fios soltos pela
trama. Essa falibilidade dá graça e
ares mais humanos ao detetive.
Mesmo com todas as suas variantes e ousadias, "Violetas de
Março" passa pelo mais criterioso
teste para identificar um bom romance policial noir: Humphrey
Bogart ficaria soberbo na pele do
detetive Bernie Gunther.
Avaliação:
Livro: Violetas de Março
Autor: Philip Kerr
Editora: Record
Quanto: R$ 29 (288 págs.)
Texto Anterior: Ramsés nas livrarias Próximo Texto: Resenha da Semana - Bernardo Carvalho: Jorge Luis Borges vezes quatro Índice
|