São Paulo, Sábado, 08 de Janeiro de 2000


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"Violetas de Março" recria a Berlim de 1936

EDSON FRANCO
Editor interino de Suplementos


A literatura noir nunca deu mole aos detetives particulares. Mas nenhum deles sofreu tanto quanto Bernie Gunther, personagem criado pelo irlandês Philip Kerr, 43, que tem o seu "Violetas de Março" lançado no Brasil pela editora Record.
O livro é o primeiro volume da trilogia "Berlim Noir", completada pelos romances policiais "The Pale Criminal" e "A German Requiem", ainda inéditos no país.
Em "Violetas de Março", o detetive Gunther enfrenta as "armadilhas noir" de praxe: ambientes asfixiantes e enfumaçados, amigos e inimigos em ambos os lados da lei, mulheres armadas com genitálias calibre 38.
Essas características sintetizam todas as possíveis influências dos "papas" do gênero: Raymond Chandler (1888-1959) e Dashiell Hammett (1894-1961).
A coisa melhora bastante justamente quando Philip Kerr foge dessas influências. Ele não usa as metáforas célebres do gênero. Não há no romance, por exemplo, homens desarrumados que parecem ter confeccionado o nó da gravata com um alicate.
Em vez disso, há um discurso direto, enxuto e, sobretudo, dono de um senso de humor cáustico. Mas "Violetas de Março" mostra o que tem de melhor no seu pano de fundo. A cidade é Berlim, o ano, 1936.
Nessa cidade que aguarda o início da Olimpíada e que assiste ao crescimento do nazismo, Gunther é contratado por um magnata para encontrar um colar roubado do apartamento da filha, devidamente incinerada ao lado do marido, um oficial nazista.
Desviar de balas e se recuperar de pancadas na cabeça são as tarefas menos complicadas para o detetive criado por Kerr. O mais difícil é solucionar um caso sob os olhos atentos da Gestapo.
Para ajudá-lo, há alguns amigos judeus bem-informados e policiais divididos entre o dever de ofício e a ética. Apesar de algumas demonstrações de antipatia pelo nazismo, Gunther é um alemão típico. Ao mesmo tempo em que se queixa dos excessos violentos da SS, faz a saudação nazista sempre que a conveniência ordena.
Como todo bom detetive, Gunther é dotado de um raciocínio lógico preciso, mas não o suficiente para coser todos os fios soltos pela trama. Essa falibilidade dá graça e ares mais humanos ao detetive.
Mesmo com todas as suas variantes e ousadias, "Violetas de Março" passa pelo mais criterioso teste para identificar um bom romance policial noir: Humphrey Bogart ficaria soberbo na pele do detetive Bernie Gunther.


Avaliação:     


Livro: Violetas de Março
Autor: Philip Kerr
Editora: Record
Quanto: R$ 29 (288 págs.)


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