|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Ator e diretor gaúcho estréia montagem em São Paulo que celebra a figura e a obra de Andy Warhol
Gawronski puxa sua "procissão pop"
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
|
O diretor Gilberto Gawronski como Andy Warhol (no alto) com atores de "Pop by Gawronski" |
VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha
A idéia é fazer o público se sentir numa procissão. Mas nem um
pouco santa. A "procissão pop"
do ator e diretor gaúcho Gilberto
Gawronski começa atrás do palco, passa por um "berçário", uma
"geladeira", um camarim, um
go-go boy, depois outro personagem-fetiche, na "lambição de botas" e por fim chega propriamente ao palco, o "éden", ou uma reminiscência do badalado estúdio
Factory, para fechar a noite em
grande estilo.
O périplo resumido fornece
pistas da referência-mor em
"Pop by Gawronski", que estréia
hoje no Centro Cultural SP, vindo de temporada no Rio (de Garwronski chega à cidade também,
na semana que vem, a peça
"Deus Somos Nós").
"Pop" é um happening em homenagem à figura e à obra de
Andy Warhol (1928-1987), o artista plástico americano pop por
excelência (leia abaixo).
Na sua Factory cenográfica, envolta em plástico transparente e
tons pratas, Gawronski quer celebrar um pouco da transgressão
que Warhol protagonizou em
seu ateliê-casa, em NY, no final
dos 60. "Como ele, que abrigou
em seu estúdio artistas como Basquiat, Lichtenstein e Lou Reed, eu
também estou reunindo aqui os
meus amigos artistas", compara.
Na pele do próprio, usando peruca loira e óculos de aros grossos, Gawronski contracena com o
poeta Tavinho Teixeira, a VJ Kysi
Conde, o modelo Vitor Mihailoff
e as atrizes Laura de Vison e Maria Maya. "É um monólogo superacompanhado, porque um pop
nunca pode estar só", ironiza.
E o encenador faz questão de
abrir o seu happening teatral para
"quem quiser declamar poemas,
expor um quadro ou simplesmente ficar nu". Essa perspectiva
de obra aberta tem a ver com o
modo como Gawronski entende a
relação com a platéia.
Como em "A Dama da Noite",
monólogo de Caio Fernando
Abreu, ele rompe a estrutura convencional do palco italiano e subverte a condição de voyeur do espectador. "O teatro é muito generoso para o forasteiro", argumenta. "Cada noite deve ser um momento único." O happening inclui a projeção de um filme em 16
mm, rodado por Isabella Fernandes e Vica Nabuco.
Para tratar de uma personalidade que usou e abusou da imagem,
em todos os sentidos -é de Warhol os tais "15 minutos de fama",
hoje instantâneos segundos numa rede de televisão-, Gawronski faz pouco uso da palavra. Entre
uma fala e outra, soltas, prevalece
o caráter artesanal do espaço.
No processo, diz ter descoberto
um método "warholiano" de
atuar: a "interpretação avulsa". "É
preciso coragem para expor sua
personalidade sem a couraça do
personagem, mas com a consciência de que você não é Warhol.". Diante da overdose pop,
Gawronski arrisca: "Se os sucrilhos Kellogg's não ficam bem ao
lado do café Melitta, então bote
um detergente Multiuso no meio
e você estará sendo um artista
pop na sua dispensa." Quem
compra esse produto?
Peça: Pop by Gawronski
Concepção e direção: Gilberto
Gawronski
Com: Kysi Conde, Maria Maya e outros
Quando: estréia hoje, 21h30; sex. e sáb.:
21h30; dom.: 20h30.
Onde: Centro Cultural São Paulo - sala
Jardel Filho (r. Vergueiro, 1.000, tel. 0/
xx/11/3277-3611)
Quanto: R$ 12 (amanhã, R$ 0,68)
Texto Anterior: Resenha da Semana - Bernardo Carvalho: Jorge Luis Borges vezes quatro Próximo Texto: "Deus" estréia na terça-feira Índice
|