São Paulo, Sábado, 08 de Janeiro de 2000


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TEATRO
Ator e diretor gaúcho estréia montagem em São Paulo que celebra a figura e a obra de Andy Warhol
Gawronski puxa sua "procissão pop"

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
O diretor Gilberto Gawronski como Andy Warhol (no alto) com atores de "Pop by Gawronski"


VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha


A idéia é fazer o público se sentir numa procissão. Mas nem um pouco santa. A "procissão pop" do ator e diretor gaúcho Gilberto Gawronski começa atrás do palco, passa por um "berçário", uma "geladeira", um camarim, um go-go boy, depois outro personagem-fetiche, na "lambição de botas" e por fim chega propriamente ao palco, o "éden", ou uma reminiscência do badalado estúdio Factory, para fechar a noite em grande estilo.
O périplo resumido fornece pistas da referência-mor em "Pop by Gawronski", que estréia hoje no Centro Cultural SP, vindo de temporada no Rio (de Garwronski chega à cidade também, na semana que vem, a peça "Deus Somos Nós").
"Pop" é um happening em homenagem à figura e à obra de Andy Warhol (1928-1987), o artista plástico americano pop por excelência (leia abaixo).
Na sua Factory cenográfica, envolta em plástico transparente e tons pratas, Gawronski quer celebrar um pouco da transgressão que Warhol protagonizou em seu ateliê-casa, em NY, no final dos 60. "Como ele, que abrigou em seu estúdio artistas como Basquiat, Lichtenstein e Lou Reed, eu também estou reunindo aqui os meus amigos artistas", compara.
Na pele do próprio, usando peruca loira e óculos de aros grossos, Gawronski contracena com o poeta Tavinho Teixeira, a VJ Kysi Conde, o modelo Vitor Mihailoff e as atrizes Laura de Vison e Maria Maya. "É um monólogo superacompanhado, porque um pop nunca pode estar só", ironiza.
E o encenador faz questão de abrir o seu happening teatral para "quem quiser declamar poemas, expor um quadro ou simplesmente ficar nu". Essa perspectiva de obra aberta tem a ver com o modo como Gawronski entende a relação com a platéia.
Como em "A Dama da Noite", monólogo de Caio Fernando Abreu, ele rompe a estrutura convencional do palco italiano e subverte a condição de voyeur do espectador. "O teatro é muito generoso para o forasteiro", argumenta. "Cada noite deve ser um momento único." O happening inclui a projeção de um filme em 16 mm, rodado por Isabella Fernandes e Vica Nabuco.
Para tratar de uma personalidade que usou e abusou da imagem, em todos os sentidos -é de Warhol os tais "15 minutos de fama", hoje instantâneos segundos numa rede de televisão-, Gawronski faz pouco uso da palavra. Entre uma fala e outra, soltas, prevalece o caráter artesanal do espaço.
No processo, diz ter descoberto um método "warholiano" de atuar: a "interpretação avulsa". "É preciso coragem para expor sua personalidade sem a couraça do personagem, mas com a consciência de que você não é Warhol.". Diante da overdose pop, Gawronski arrisca: "Se os sucrilhos Kellogg's não ficam bem ao lado do café Melitta, então bote um detergente Multiuso no meio e você estará sendo um artista pop na sua dispensa." Quem compra esse produto?


Peça: Pop by Gawronski
Concepção e direção: Gilberto Gawronski
Com: Kysi Conde, Maria Maya e outros
Quando: estréia hoje, 21h30; sex. e sáb.: 21h30; dom.: 20h30.
Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Jardel Filho (r. Vergueiro, 1.000, tel. 0/ xx/11/3277-3611)
Quanto: R$ 12 (amanhã, R$ 0,68)



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