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CINEMA
Suzana Amaral monta longa-metragem a partir da próxima semana e prepara terceira produção para este ano
"A Hora da Estrela", de 86, ganha 1º sucessor
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
"No cinema você tem três chances: quando escolhe o roteiro,
quando roda e quando monta o
filme", diz a diretora Suzana
Amaral, 70.
Na próxima semana, Suzana começa a montagem de "Uma Vida
em Segredo", lançando mão da
última cartada para fazer o segundo longa-metragem de sua carreira repetir o êxito da estréia com
"A Hora da Estrela", em 86.
Não era para ter sido tão extenso o intervalo entre as duas produções. "Acho que fiquei meio
boba com tanta projeção para "A
Hora da Estrela". Fui viajando
com o filme e, quando vi, já tinham se passado cinco anos. Aí
veio o fim da Embrafilme, toda
aquela depressão no cinema, e eu
apenas sobrevivi, fazendo trabalhos comerciais e institucionais
durante esse tempo", lembra.
Para evitar novo jejum, Suzana
acertou, na semana passada, a
adaptação de "O Hotel Atlântico",
de João Gilberto Noll, para sua
terceira produção cinematográfica, que deve começar este ano.
Roteiro
Novamente, o cinema de Suzana Amaral partirá da literatura
-"A Hora da Estrela" vem de
Clarice Lispector e "Uma Vida em
Segredo", de Autran Dourado. E
outra vez ela fará questão de assinar sozinha o roteiro.
"Estou curioso e estimulado,
porque há algum tempo venho
me debruçando sobre questões
propriamente masculinas. Quero
ver como esse universo será tratado na visão de uma mulher como
Suzana", diz João Gilberto Noll,
que foi "batizado" na transposição de suas obras para a tela grande com "Alguma Coisa Urgentemente", de Murilo Salles.
Suzana Amaral fez parte da segunda turma de alunos da Escola
de Comunicações e Arte (ECA-USP), que começou os estudos
em 1968. E especializou-se em cinema nos Estados Unidos, em
cursos no Actors Studio e na Universidade de Nova York. Nesta última, dividiu a classe com o norte-americano Jim Jarmusch ("Dead
Man").
A formação específica ajudou-a
a sedimentar um modo de ver o
cinema muito particular e irredutivelmente autoral. "Não acredito
em co-direção. Isso tira a autoria", diz. Ela também faz questão
de ter a primeira e a última palavra na montagem de seus filmes.
"Para ir no escuro, prefiro ir com
a minha idéia. Se é para cair do galho, caio só eu."
A trilha sonora de "Uma Vida
em Segredo" só será composta
-por um profissional a ser ainda
definido- depois de o filme estar
completamente montado. "Sou
partidária da não-trilha. Quero
que ela entre no meu filme apenas
para fazer o barulho do pensamento, da emoção", diz.
Mas é talvez no domínio em que
o cinema mais incorpora a troca
que Suzana tem sua marca distintiva. Foi sob sua direção que Marcélia Cartaxo obteve o prêmio de
melhor atriz no festival de cinema
de Berlim, como a Macabéa de "A
Hora da Estrela".
À semelhança de Marcélia, Sabrina Greve, intérprete de Biela, a
protagonista de "Uma Vida em
Segredo", faz sua estréia no cinema pelas mãos de Suzana. E atingiu uma atuação não menos destacável, na avaliação da diretora.
"A forma como a Suzana conduz as filmagens me deixou muito tranquila. Ela vai deixando as
coisas brotarem", afirma Sabrina.
"Sei exatamente o que quero, mas
dou mesmo muita autonomia. O
segredo é os atores fazerem o que
quero, sem achar que estão fazendo o que eu quero", diz Suzana.
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