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Com quase 90 milhões de livros vendidos, Paulo Coelho se prepara para escrever novo romance
A fantástica fábrica de BEST-SELLERS
Marlene Bergamo/Folha Imagem
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Paulo Coelho durante visita a Betharram, cidade que fica na região dos Pirineus, no sul da França, onde ele passou o fim do ano |
MÔNICA BERGAMO
ENVIADA A SAINT MARTIN, FRANÇA
Aos 58 anos, com quase 90 milhões de títulos vendidos em 59
países, Paulo Coelho está dando
depoimento para uma biografia,
começa a escrever nova obra em
2006 e se prepara para ver um de
seus livros, "Veronika Decide
Morrer", nas telas do cinema. Segundo a revista norte-americana
"Publishing Trends", voltada para o mercado editorial, "O Zahir"
foi o terceiro livro mais vendido
de 2005 -atrás apenas de "O Código Da Vinci" e "Anjos e Demônios", ambos de Dan Brown.
Em entrevista à Folha, ele afirma que revelou até suas experiências "homossexuais" ao escritor
Fernando Morais, que escreve a
biografia. Diz que vive com
€ 6.000 por mês e, ao falar de Lula,
cita o Apocalipse: "Admiro os que
são frios ou quentes. Mas os mornos, eu vomitarei".
Folha - Por que uma biografia?
Paulo Coelho - Para que eu possa
ler, se Deus permitir. Sempre pensei nesses caras que nunca puderam ler suas biografias. Vou ter
muita curiosidade de ler a minha,
coisa que outros personagens dele
[Morais] nunca puderam fazer.
Folha - Você brincou, nas festas
de Réveillon, que contou a ele até
sobre suas experiências...
Coelho - ...homossexuais. Contei
tudo. Estou abrindo 100%. Dei o
caminho dos amigos, dos inimigos. Não tenho direito a veto. Vou
ler o livro depois de publicado.
Folha - Você vai falar dos poderes
que já revelou ter?
Coelho - Esses poderes eu tenho,
estão aqui, eu possuo.
Folha - Você exerce?
Coelho - Se você está falando de
fazer chover e de ventar, não. Mas
poderia exercer. Só que não faz
mais sentido. Era mais para impressionar as pessoas.
Folha - Você já disse que sabe como morrerá [Coelho declarou, em
1992, que morrerá num atentado].
Coelho - Se eu continuar no meu
caminho, eu sei o dia, a hora, o local e como vou morrer. Mas, sobre isso, não tenho comentários.
Folha - Você faz sucesso há 20
anos e tem um patrimônio que lhe
permite viver sem trabalhar.
Coelho - Em várias encarnações.
Folha - Por que então continuar
escrevendo com tanta freqüência?
Coelho - Se eu me propus a ser
um escritor, o resto é conseqüência: o dinheiro, o sucesso, a sedução. Já o livro, não. É sempre um
desafio. É como se eu tivesse que
enfrentar uma eleição a cada dois
anos. Eu sou o único eleitor. Não é
o meu leitor. Se eu parar de escrever, estarei me traindo. E, a partir
desse momento, começarei a decair. Se fosse pelos motivos que
você falou, eu já teria parado. Não
correria mais riscos. A minha situação econômica me permitiria
viver de juros. Mas não é isso. Se
eu parasse, e até se eu ficasse aqui
[em sua casa de Saint Martin, no
sul da França] mais tempo do que
eu fico, eu piraria.
Folha - Há estimativas de que você tem mais de R$ 300 milhões.
Coelho - Não falo sobre isso. Não
só não falo como não sei quanto
dinheiro eu tenho.
Folha - Como assim?
Coelho - Neste momento em que
estou falando com você, estou ganhando dinheiro. No mundo inteiro está se vendendo algum livro
meu. A esta hora (18h30) as livrarias daqui da França já fecharam,
mas as de Nova York estão abertas. Então é 24 horas [vendendo
livros e ganhando dinheiro]. Não
sei mesmo quanto tenho.
Folha - Você ganha mais aplicando o dinheiro ou vendendo livros?
Coelho - Não sei. Sei é que gasto
menos do que alguns amigos do
Brasil. A gente [Coelho e a mulher, Cristina Oiticica] faz um depósito de 8.000 na conta. Paga
2.000 para a Maria [empregada]
e vive com os outros 6.000. A
gente não gasta nada aqui. O nosso grande prazer é andar.
Cristina - A gente não tem um
hobby caro, barco, cavalo...
Coelho - Não tem avião, não tem
nada disso. Sou sempre convidado. Vamos até Ibiza de barco, até
não sei onde... Meu hobby está ali,
ó [aponta para um arco]: arco e
flecha. Mas o grande prazer é andar, descobrir novos caminhos.
Todos os meus editores já sabem
que, quando visito uma nova cidade, não estou nem um pouco
interessado em museus, em monumentos, em igrejas.
Folha - Nem em Paris?
Coelho - O que isso acrescenta na
vida? Nada, nada. O que vai te
acrescentar ver a Monalisa? Falaram tanto da capela Sistina que
quando eu entrei lá, falei: "É bonito, mas não é nada desse delírio".
Outra coisa é uma igreja em que
de repente você entra. Você nunca mais esquece, porque descobriu. As pessoas vão a museus,
passam da Renascença para a Idade Média e daí ao Egito em três
horas. Esquecem tudo no dia seguinte. Agora, uma pista de esqui
no meio do deserto, em Dubai, é
evidente que eu quis ver.
Folha - Você está escrevendo?
Coelho - Não. Eu dou um intervalo de dois anos para começar
um novo livro e, quando começo,
escrevo em um mês, 20 dias. Teoricamente, devo fazer isso agora:
"O Zahir" foi escrito em 2004. Então 2006 é o ano de escrever. A
coisa já está escrita na minha alma. Eu ainda não sei sobre o que
vou escrever. Sei que já é a hora. Já
fiz amor, já fiquei grávido. Estou
no momento do parto.
Folha - Tem medo de fracassar?
Coelho - Eu já lancei livros que
não venderam e que eu adoro. "O
Monte Cinco", por exemplo. Eu
não sofri. Disse: "Esse livro um
dia vai ser entendido". "As Valquírias" foi outro que, no Brasil,
vendeu 350 mil -a média seria
700 mil. Não vender, para mim, é
ficar num patamar estável. Mas
isso não me dá agonia. O meu leitor nunca vai me culpar por um livro de que não goste, mas sim por
um que eu escrevi sem acreditar.
Folha - E os filmes baseados em
seus livros? Quando vão estrear
(Coelho vendeu os direitos de "O
Alquimista", de "Veronika Decide
Morrer" e de "Onze Minutos", que
será dirigido por Jack Nicholson)?
Coelho - O produtor diz que Jack
Nicholson vai fazer isso, vai fazer
aquilo. Meu medo é perder a credibilidade porque acham que essas notícias vêm de mim. Quero
distância dos filmes. No dia que
você me vir em Hollywood, é o começo do meu fim. Não é o meu
barato, não é a minha jogada.
Folha - Você acompanha de perto
a política no Brasil?
Coelho -De pertíssimo. Votei no
[José] Serra em 2002. Como qualquer brasileiro, torci muito pelo
Lula. Continuo torcendo.
Folha - Que avaliação você faz do
governo dele?
Coelho - É o momento, no mundo, de posições muito firmes e
claras. Viajo muito. Vejo que ainda há uma expectativa muito
grande em relação ao Lula. Ele é
um símbolo. Mas o mundo está
pedindo uma posição dele. Eu
acho que ele se apagou um pouco.
Há um ano as pessoas sabiam o
que o Lula estava fazendo. Hoje
me perguntam: "E o que o Lula
está fazendo, afinal?". Existe uma
frase do Apocalipse que diz: "Admiro os que são frios ou quentes.
Mas os mornos, eu vomitarei".
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