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ANÁLISE
Museus têm novos papéis na vida urbana
MARCELO FERRAZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
O surgimento de inúmeros
novos museus sobre os mais variados temas e aspectos da vida
humana jogam luz sobre a própria ideia de museu. Os museus
vêm, há alguns anos, transformando-se, mudando seu papel
na cena da complexa vida das
cidades.
Em vez de depósitos
privilegiados de valores artísticos ou históricos do passado,
assumem novos programas,
funções e usos diferenciados.
Fluxos cada vez maiores de
pessoas se deslocam pelo mundo em busca do que é novo e
desconhecido, e os museus são
alvos privilegiados nessa busca.
Vivemos hoje numa encruzilhada: por um lado, é cada vez
menor a possibilidade de se
constituirem importantes
acervos artísticos, históricos ou
documentais pela falta de oferta ou pelo alto valor a se despender para a obtenção de algo
significativo -boas peças- na
formação de uma coleção com
nexo e conteúdo; por outro, a
demanda de acesso democrático aos museus aumenta, seja
pela implementação de programas escolares de visitação, seja
pela necessária abertura de
suas portas à entrada de gente
que nunca havia botado os pés
nesses espaços de ares restritivos e inibidores, espaços para
poucos iniciados.
Os museus são hoje parte indissociável das cidades modernas e estão integrados à vida cotidiana. Espaços de reflexão e
convivência por excelência, os
novos museus se guiam cada
vez mais pelo olhar antropológico, ferramenta de grande utilidade nos dias de hoje, em que
os conflitos dos encontros são a
marca da época, e as cidades, o
palco principal.
Assim, ou os museus se
transformam para falar a nova
língua da "urbis", para refletir
sobre o que se passa na vida do
cidadão a partir de seus acervos, ou estarão fadados ao fracasso e ao isolamento. E, hoje,
terminam por responder também por importante fatia do turismo sadio, não predador, o
chamado turismo cultural.
Está claro que, em tempos de
comunicação rápida, o desafio
aos criadores e gestores de museus redobra. É preciso encontrar novos meios, novas linguagens para os tempos atuais. E
para isso não há regras, cada caso é um caso, cada tema ou assunto demanda soluções próprias de comunicação.
Deveríamos tomar, quem sabe, algumas lições do cinema,
que conta velhas histórias sem
se esgotar.
Os museus também contam
histórias, múltiplas, cruzadas,
entrecruzadas. E estão à procura de uma gramática própria
em sua conversa com a sociedade -que deve ser cada vez mais
abrangente e democrática.
Assim, novos experimentos
aparecem e nos instigam a criar
e a avançar mais -e não importa se com "high-tech" ou "low-tech"; a questão é como contar
boas histórias diferentemente
dos livros, dos filmes, das escolas e das igrejas. É provocar estímulos, fazer com que cada
pessoa, após uma visita, saia
com novas dúvidas, muitas
questões e perguntas.
Museu como instrumento de
humanização, expansão das
fronteiras do conhecimento e
da poesia, um alimento do espírito; partindo do lugar -socioambiental ou físico e humano, mas sempre com uma linguagem universal e contemporânea. A comunicação é e continua sendo a chave do sucesso
da conversa que se quer travar.
Um museu deve ser ponto de
honra e orgulho para qualquer
comunidade ou cultura que venha a representar. Deve também ser um grande atrativo para os forasteiros, que se deslocam para ver algo original, com
força e caráter próprios. Assim,
a força motriz de um museu
bem idealizado e inteligente
movimenta a economia local e
coloca cidades no mapa cultural.
Hoje, o cidadão que viaja
quer uma experiência arquitetônica, antropológica, sensitiva
e intelectual diferenciada; uma
experiência nova, e não simulacros disfarçados em museus.
Nossos novos museus devem
responder às novas demandas
da vida, lugares de encontros
cada vez mais inusitados e originais. Podem ser instrumentos transformadores da vida
nas comunidades, instrumentos eficazes de atração de novos
negócios e desenvolvimento
econômico e social, dentro de
uma lógica que deve partir do
lugar e da convivência humana.
MARCELO FERRAZ é arquiteto, sócio do escritório Brasil Arquitetura e integra o conselho do Instituto Brasileiro de Museus.
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