São Paulo, sábado, 08 de janeiro de 2011

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televisão

CRÍTICA MINISSÉRIE

"Sansão e Dalila" é incapaz de seduzir novos espectadores

Adaptação da lenda bíblica pela Record não vale altíssimos investimentos

MAURICIO STYCER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Qual o interesse em adaptar a lenda bíblica de "Sansão e Dalila", em 2011, para o público brasileiro?
O que explica o investimento de R$ 13 milhões em uma minissérie com 18 capítulos? Por que o programa com o custo por capítulo mais elevado da televisão no Brasil vai ao ar às 23h? É viável economicamente?
Diante da qualidade mambembe do que foi exibido na primeira semana, haveria ainda outra pergunta a fazer: como e onde se gastou tanto dinheiro?
Acompanhei os primeiros capítulos da minissérie sem encontrar respostas seguras para estas indagações. Arrisco, a seguir, algumas hipóteses.
Este é o segundo grande investimento da Record em minisséries bíblicas. A primeira adaptação, em 2010, foi de "A História de Ester" e seguiu o mesmo modelo: custo alto, roteiro e direção decepcionantes, audiência mediana.
As histórias do Velho Testamento se prestam às mais variadas interpretações, ao gosto de cada freguês.
No caso de "Sansão e Dalila", até o momento, duas ideias têm sido enfatizadas: 1. o herói é incapaz de cumprir a sua missão divina porque prefere os prazeres terrenos; 2. a vilã foi conduzida para o mau caminho por culpa de seu próprio poder de sedução. São temas que, a qualquer momento, deverão ser debatidos no "Fala Que Eu Te Escuto", programa religioso que vai ao ar no início da madrugada da Record.
É apresentado, como se sabe, por bispos da Igreja Universal de Reino de Deus, comandada, como a emissora faz questão de dizer, pelo "empresário Edir Macedo".
O programa religioso tem tanta sintonia com a Record que, há três semanas, no final de "A Fazenda", entrou ao vivo, entrevistando o vencedor do reality show minutos depois que o apresentador Britto Jr. anunciou o resultado.

VICE-LIDERANÇA
Ao expor os seus altíssimos investimentos em "Sansão e Dalila", a Record parece dar satisfação ao seu público e, também, aproveita para reforçar a mensagem que vem transmitindo nos últimos anos: não se contenta, como o SBT fez por muitos anos, com a vice-liderança.
Mas não basta divulgar que investiu mais de R$ 700 mil por capítulo. Precisa saber investir. A minissérie apresenta um roteiro escolar, com frases pomposas declamadas sem convicção e sotaque carioca por atores perdidos em cena.
O ritmo frenético do primeiro capítulo deu lugar a uma trama arrastada nos episódios seguintes.
Sansão perambula pelo deserto, indo e vindo, sem parar. O seu famoso duelo contra um leão, no terceiro capítulo, pareceu filmado por algum discípulo rejeitado de Roger Corman, o rei do chamado "filme B" norte-americano.
Dalila foi dar uma volta pela cidade, encontrou uma amiga, por acaso, viu o padrasto malvado na feira e aproveitou para, com seu poder de sedução, preparar uma armadilha mortal para ele. Ao voltar para o palácio foi punida pela chefe das cortesãs e servida de banquete para um grupo de soldados famintos.
"Sansão e Dalila" está longe de ter a força do herói ou o poder de sedução da vilã. A minissérie talvez seja capaz de impressionar o público fiel da emissora, mas não convida novos espectadores a entrar.

MAURICIO STYCER é repórter e crítico do portal UOL

NA TV

Sansão e Dalila
QUANDO ter. a sex., 23h, Record
CLASSIFICAÇÃO 10 anos
AVALIAÇÃO ruim


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