São Paulo, sexta, 8 de janeiro de 1999

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MÚSICA
O compositor Gaudêncio Thiago de Mello concorre na categoria crossover clássico com "Journey to the Amazon'
Percussão do Amazonas vai ao Grammy

Rogério Assis/Folha Imagem
O ex-técnico de futebol Gaudêncio Thiago de Mello, que concorre ao Grammy, em sua casa no Queens (NY)


PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

"O Amazonas é madeira e água", afirma o compositor Gaudêncio Thiago de Mello, 65. Explorando os sons da madeira de sua terra natal, esse "caboclo", como ele mesmo gosta de dizer, criou um novo tipo de percussão. E, com ela, acaba de ser indicado ao Grammy, o mais importante prêmio da indústria musical norte-americana.
O álbum "Journey to the Amazon", da violonista Sharon Isbin, traz seis composições de Gaudêncio, que assina também os arranjos e a percussão. Lançado nos EUA pela Warner/Teldec, o disco concorre com outros quatro na nova categoria crossover clássico, que abarca trabalhos em que a música erudita encontra outros gêneros. O vencedor será conhecido no dia 24 de fevereiro, em Los Angeles.
Há 35 anos vivendo em Nova York (atualmente ele mora no Queens), o irmão compositor do poeta Thiago de Mello é pouco conhecido no Brasil. Mais famosa por aqui é sua carreira como técnico de futebol -ele foi campeão brasileiro pelo Botafogo, em 1961, contra o Santos de Pelé-, abandonada ainda no final dos anos 60 para que ele pudesse se dedicar à sua "amada", a música.
Foi para os Estados Unidos depois de passar pela Colômbia numa espécie de exílio voluntário provocado pelo golpe de 64. "Saí porque não tinha futuro aqui. Meu irmão foi preso, minha família toda foi atingida", conta.
Gaudêncio começou tocando bossa nova em "night clubs" de Manhattan. Em 1973, durante um show no Village Vanguard pró-prisioneiros políticos do Chile, virou o violão ao contrário e transformou-o num instrumento de percussão. Não parou mais.
Transformou caixas de madeira (de vários tipos e espessuras) em bocas-do-mato, algo como violões ou violoncelos sem cordas em que o toque na madeira produz o som (leia texto abaixo).
"Não é uma percussão de acompanhamento. Não é ritmo, é melodia", afirma. Essa percussão "de câmara" é uma das razões pela qual "Journey do the Amazon" está sendo classificado de "único" nos Estados Unidos.
Ainda na década de 70, Gaudêncio criou uma banda de "brazilian jazz", a Thiago de Mello & Amazon. Desde então, tocou com e compôs para nomes importantes da música instrumental brasileira como Cláudio Roditi, Paulo Moura e Luís Bonfá. Com esse último, compôs 12 canções sobre Carmem Miranda para o projeto de um musical da Broadway que agora devem virar disco.
Outro violonista, Carlos Barbosa Lima, gravou "Chants for the Chief", dez cantos compostos por Gaudêncio baseados em cantos amazônicos e africanos. Em 92, tocou pela última vez no Brasil, durante a ECO-92.



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