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CINEMA/ESTRÉIA
"DUAS VEZES COM HELENA"
Longa de Mauro Farias é baseado em conto homônimo de Paulo Emílio Salles Gomes
Cineasta homenageia crítico com filme
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Duas Vezes com Helena", longa de Mauro Farias que estréia
hoje, é um filme-homenagem.
No ato de transpor para o cinema um conto do crítico Paulo
Emílio Salles Gomes, Farias viu
mais que a possibilidade de diálogo com o autor literário. "Eu me
senti retribuindo o crítico."
O cineasta diz que jamais considerou a hipótese de deslocar elementos do conto, como o tempo
em que se desenrola (os anos 40 e
os 70), por exemplo. "Não vejo
como alterá-lo. O conto acaba
sendo a visão de uma época", diz.
Mas, para evitar o tom excessivamente respeitoso, Farias retomou a sensação que se impôs ao
dirigir alguns dos mais reconhecidos atores brasileiros. "Você se vê
diante de monstros sagrados como Paulo Autran, Fernanda
Montenegro, Marília Pêra e não
adianta mitificar, tem de estar desinibido e com coragem."
No texto de Paulo Emílio, são
dois os aspectos que Farias considera mais destacados: "o pano de
fundo histórico e o caráter de absurdo quase folhetinesco, em que
tudo soa falso e precário".
A história apresenta o jovem estudante Polydoro (Fabio Assunção) flertando com o nazismo antes da eclosão da Segunda Guerra,
embora tenha na figura do professor liberal Alberto (Carlos Gregório) um dedicado preceptor.
A incontornável paixão pela
mulher do professor, Helena
(Christine Fernandes), faz com
que mestre e discípulo se afastem
por 30 anos. No reencontro do
triângulo, as condições históricas
estão representadas pelo desfecho
trágico da atividade política do filho do casal, num Brasil subjugado pelo regime militar. E o "absurdo" dos comportamentos pessoais também se revela de golpe.
Farias entremeou a narração
dos atores com numerosas imagens de arquivo, utilizadas na forma de "back projection". Ou seja,
no mais das vezes, os filmes inseridos saltam de algum ponto no
fundo do cenário. A escolha do recurso, de acordo com o cineasta,
pareceu coerente com "o fundo
falso dos personagens, o terreno
movediço em que se encontram".
"Duas Vezes com Helena" competiu no Festival de Gramado no
ano passado e não obteve Kikitos.
Num ano de filmes dominados
por atores, o júri da mostra premiou Isabel Guéron como melhor
atriz, alçando a protagônico o seu
papel -de fato lateral- em "Bufo & Spallanzani", de Flávio Tambellini.
"O trabalho de Christine é ingrato. Ela está sempre artificial,
não como atriz, mas porque a personagem exige. As pessoas às vezes confundem isso", diz Farias.
Se para o papel da dissimulada
Helena o diretor apostou em alguém "que ainda não tinha nome
projetado e queria fazer cinema",
no caso de Polydoro escolheu pela
adequação que observa entre ator
e personagem. "Além de gostar
do trabalho de Fabio, que conhecia da TV, achei que ele tinha tudo
a ver com esse homem ingênuo,
franco, que entra na vida confiante na humanidade."
"Duas Vezes com Helena", segundo longa de Farias, fechou um
intervalo de oito anos em sua carreira no cinema ("Não Quero Falar sobre Isso Agora", 93). O cineasta desenvolve agora dois projetos - "o de um "western-spaghetti" sobre a corrida do ouro no
Brasil e outro mais autobiográfico, sobre um diretor de TV e cinema que tenta fazer com que seu
trabalho seja coerente com seu
ponto de vista sobre a realidade".
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