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LIVROS/LANÇAMENTOS
DIPLOMACIA
Alfonso Reyes cultivou laços de amizade com a elite cultural do país enquanto foi embaixador no Rio nos anos 30
Obra revela um brasileiro sob mexicano
DA REPORTAGEM LOCAL
Se as borrachas do tempo e da
ignorância deixaram quase invisível no Brasil a idéia de que o mexicano Alfonso Reyes foi "o grande
estilista da língua espanhola", no
dizer de Jorge Luis Borges, ou um
dos maiores intelectuais da história latino-americana, como sustenta Carlos Fuentes, apagado
mesmo ficou o fato de que viveu
por sete anos, e apaixonadamente, no mesmo Brasil.
Diplomata, além de poeta, romancista, contista, ensaísta e por
aí afora, o senhor rechonchudo da
cidade de Monterrey foi embaixador do México no Rio de Janeiro
de 1930 a 1936, com mais um ano
brasileiro em 1938.
A experiência brasileira de Reyes agora ressurge nas livrarias
daqui em grande estilo. Depois de
sair nos Estados Unidos e no México, está sendo lançado no Brasil
o livro "Alfonso Reyes e o Brasil
-°Um Mexicano entre os Cariocas", de Fred P. Ellison.
Professor emérito da Universidade do Texas, o brasilianista e estudioso da América Latina vem
pesquisando a passagem de Reyes
pelos nossos trópicos desde os
anos 70. Escarafunchando pelos
arquivos do intelectual mexicano
e pelos 24 volumes de suas "Obras
Completas", Ellison descobriu
que Reyes não "apenas" escreveu
em terras cariocas 35 poemas de
diversos tipos, 50 crônicas ou outros ensaios e oito ou dez contos
de temas brasileiros. No Brasil, ficaram laços profundos de amizade -e de mediação intelectual-
com uma respeitável elite cultural
brasileira.
Homenageado por Manuel
Bandeira no célebre poema "Rondó dos Cavalinhos" (que começa
com "Os cavalinhos correndo,/ E
nós, cavalões, comendo..." para
chegar a "Alfonso Reyes partindo,/ E tanta gente ficando"), o escritor do importante "Os Romances do Rio de Janeiro" (sem tradução em nossas prateleiras) também teve importante bate-bola
intelectual-afetivo com nomes como Cecília Meirelles e Di Cavalcanti.
Com a primeira, por exemplo,
que o tinha como mentor, chegou
a formular projetos conjuntos como o de uma biblioteca infantil latino-americana; com o segundo,
manteve boa correspondência.
Uma delas, na qual o artista pedia que Reyes conseguisse um
convite para ele do governo mexicano, trazia uma saborosa lista de
motivos, que começava com "o
PC acha que minha linha é confusionista" e "a polícia acha que eu
sou comunista", passa por "minha mulher acha que vivo com
amantes" e "não tenho amantes
para poder fazer arte" e termina
com "cansado de ver filmes americanos imbecis".
Outra carta célebre de Reyes foi
uma trocada com o também diplomata e escritor Ribeiro Couto,
seu amigo. Nela aparece, anos antes do livro "Raízes do Brasil"
-que a consagrou-, a expressão "homem cordial". "Não tenho
evidência documental de que
Buarque de Hollanda tivesse conhecimento dessa carta. Ainda
assim considero a hipótese de que
Hollanda tenha tirado a expressão daí", afirma Ellison, em entrevista por e-mail à Folha.
Independentemente disso, "homem cordial" foi um dos termos
que Ellison considera mais apropriados para definir a personalidade de Reyes.
"O principal legado dele foi o
próprio exemplo de como deve
comportar-se o homem de letras
como humanista", escreve.
O "humanista" em questão é
calcado não apenas na qualidade,
como na vastidão do trabalho de
Reyes. "Foi grande em quase tudo: poesia, ficção, ensaio, além de
filologia, história e filosofia clássica, teoria literária etc.", crava.
Se deixou marcas no Brasil, sustenta Ellison que o país também
reverberou em sua escrita. "O
Brasil marcou profundamente o
espírito do mexicano."
(CASSIANO ELEK MACHADO)
ALFONSO REYES E O BRASIL - UM
MEXICANO ENTRE OS CARIOCAS.
Autor: Fred P. Ellison. Editora: Topbooks
(tel. 0/xx/21/2233-8718). Quanto: R$ 33 (276 págs.).
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