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Crítica/DVD/"Êxtase"
1º nu frontal já não choca, mas ainda encanta
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"Êxtase", produção
tcheca de 1933 falada em alemão, inscreveu seu nome na história do
cinema como o primeiro filme
não-pornográfico a apresentar
uma cena de nu frontal, no caso, da atriz austríaca Hedy
Kiesler, que depois disso faria
carreira em Hollywood como
Hedy Lamarr, uma das mulheres mais lindas de seu tempo.
Vista hoje, a nudez da atriz é
o que o filme tem de menos escandaloso. Lamarr, então aos
19, é vista de longe, ou num lago, ou por trás de folhagens. Na
época, bastou para que o filme
fosse censurado nos Estados
Unidos e em países da Europa e
para que o então marido da
atriz, um fabricante de armas,
destruísse dezenas de cópias.
São outras as coisas que chamam hoje a atenção no filme
de Gustav Machaty (1901-63).
A primeira delas é o modo visual e sugestivo como o diretor
conta sua história banal de insatisfação sexual e adultério.
Embora seja, tecnicamente,
um filme sonoro, "Êxtase" segue a sintaxe do cinema mudo.
Seus escassos diálogos são, a rigor, dispensáveis. Tudo se dá a
ver, não apenas o entrecho,
mas também sua significação
moral, pelo jogo das imagens.
Os símbolos visuais são impudicos, quase obscenos. Já na
primeira sequência, em que os
recém-casados Emile (Zvonimir Rogoz) e Eva (Hedy Lamarr) chegam ao apartamento
para a noite de núpcias, o marido demora para achar a chave
da porta. É o primeiro de uma
série de símbolos fálicos, de potência e impotência, que serão
dispostos ao longo da trama.
A primeira noite é um fracasso, o casamento não se consuma, as ânsias românticas da
noiva contrastam com a obsessão do noivo pela ordem. Daí
em diante, tudo são variações
em torno do mesmo tema.
No terraço de um restaurante à beira do rio, casais dançam
ao som de uma orquestra. Uma
fileira de trompetes aponta para o ar, numa figuração de ereção que se contrapõe à cabeça
baixa de Emile lendo seu jornal. Analogamente, logo após a
nudez de Eva no lago, o cavalo
da moça levanta repetidamente o pescoço, antes de sair para
se encontrar com sua égua.
A presença dos animais é outro modo de pontuar o tema da
sexualidade. O marido de Eva
esmaga raivosamente uma
abelha que perturbava sua leitura; o amante Adam (Aribert
Mog), ao contrário, coloca delicadamente uma abelhinha na
corola de uma flor, numa encenação evidente da fecundação.
Frustrado o romance dos
amantes (talvez por razões moralistas de produção), há uma
coda "eisensteiniana" que é
quase um outro filme: toda a
potência erótica é desviada para o trabalho e sua celebração.
Essa mudança estranha é outro
encanto desse filme singular.
ÊXTASE
Lançamento: Lume
Quanto: R$ 40, em média
Classificação indicativa: 14 anos
Avaliação: bom
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