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Crítica/"Salas e Abismos"
Catálogo apresenta todas as instalações de Waltercio Caldas
Livro sobre exibição no Museu Vale, em Vila Velha (ES), organiza obras do artista compondo uma nova exposição
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Catálogos de exposição costumam restringir-se apenas às
obras expostas ou, no máximo,
a usar outras obras como referência. Mas "Salas e Abismo" é
muito mais que um catálogo
normal. O livro será lançado até
o fim deste mês, por ocasião da
mostra de Waltercio Caldas,
com o mesmo nome da publicação, no Museu Vale, em Vila
Velha, no Espírito Santo.
Além de imagens das nove
instalações de Caldas no museu, o catálogo apresenta todas
as instalações já realizadas pelo
artista, num total de 25, em importantes mostras, como a Bienal de Veneza e a Documenta
de Kassel (Alemanha).
Algumas delas são inéditas
no Brasil, como "Quarteto
Amarelo" e "Quarteto Azul",
ambas de 1999, expostas no
Centro Galego de Arte Contemporânea, em Santiago de
Compostela (Espanha). O livro
traz ainda três textos críticos:
de Paulo Venâncio Filho, curador da mostra em Vila Velha,
Paulo Sérgio Duarte e Sonia
Salzstein.
Caldas, num dos típicos procedimentos da arte contemporânea, costuma realizar um intenso diálogo com a história da
arte, sem, contudo, gerar uma
mera ilustração dessa temática.
É assim, por exemplo, que
ocorre com "Maçãs Falsas"
(2008), exposta na Fundação
Calouste Gulbenkian, em Lisboa, na qual maçãs são dispostas em mesas com vidros entre
elas, multiplicando suas imagens, num debate sobre a natureza-morta como gênero da
pintura.
Já na série "Veneza", exposta
na Bienal de Veneza de 1997, as
referências se tornam mais explícitas. Em fios metálicos, que
criam formas como vasos e copos, Caldas cola pequenos
apêndices com nomes de artistas como Picasso, Renoir, Duchamp e Bosch. Em seu texto,
Salzstein detém-se na análise
dessa mescla entre palavra e
imagem: "Esse trânsito desimpedido entre "ler" e "ver", que faz
pensar na provável afinidade
do artista com a tradição das
correspondências sinestésicas
da poesia simbolista e com os
jogos entre signos gráficos e visuais tão ao gosto de Mallarmé,
por certo influi no modo peculiar como "bidimensionalidade"
e "tridimensionalidade" se comutam livremente em seu trabalho."
Nesse trecho, pode-se perceber uma das questões centrais
na obra de Caldas, que é a discussão sobre representação,
muitas vezes criando, com suas
instalações, simples desenhos
no espaço, como ocorre em
"Próximos", de 2005. No livro,
as obras não seguem uma ordem cronológica, mas foram
organizadas a criar uma sequência que aproxima a publicação de uma nova exposição.
Catálogos assim deveriam se
tornar mais comuns.
SALAS E ABISMO
Autor: Waltercio Caldas
Editora: Cosac Naify
Quanto: R$ 120 (240 págs.)
Avaliação: bom
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